
Em 8 de julho, a menina, cardiopata de nascen�a, descrita como alegre e brincalhona morreu. No entanto, antes de ir para o c�u, como acreditam os pais, Isabela ajudou a salvar pelo menos seis das 73 crian�as de Minas ou 910 no Brasil, ativas no registro brasileiro de transplantes at� mar�o deste ano, �ltimo dado fornecido pela Associa��o Brasileira de Transplante de �rg�os (ABTO). Somente na Santa Casa, � o primeiro caso conhecido de doa��o pedi�trica de m�ltiplos �rg�os em sete anos, desde 2009, segundo a Comiss�o Intra-hospitalar de Doa��o de �rg�os e Tecido para Transplante (Cidot) da Santa Casa. Se j� � duro para parentes autorizarem uma doa��o de �rg�os, a complexidade aumenta quando o ato de desprendimento envolve liberar os �rg�os de uma crian�a que, culturalmente, ainda n�o estava na hora de partir. “Quando se trata de crian�a, a morte foge ao padr�o da continuidade da vida, que � crescer, envelhecer e morrer. Al�m do mais, costuma ser tamb�m tr�gica, provocada por acidentes e n�o pela evolu��o de uma doen�a, o que faz com que as pessoas tenham mais dificuldade de aceita��o, tanto pais quanto profissionais envolvidos”, compara a enfermeira da Cidot da Santa Casa, Mara R�bia de Moura.
Se n�o fosse pela ilumina��o dos pais de Isabela, que deram a permiss�o para a retirada dos rins, c�rneas, pulm�o e f�gado, exceto do cora��o doente, outras seis crian�as brevemente teriam o mesmo destino da menina. A m�dia de tempo na fila por um �rg�o pode variar entre um m�s a at� dois anos ou mais, dependendo de haver compatibilidade entre doador e paciente. “Esse casal � diferenciado, muito em fun��o da f�. Os dois conduziram o processo com verdade e clareza, fazendo todos os testes at� ter a certeza da morte cerebral da filha”, conta a pediatra Filomena Camilo do Vale, lembrando que o pastor ainda encontrou for�as para propor uma ora��o com a equipe de sa�de, depois de se despedir da filha pela �ltima vez.
“As meninas tiravam os aparelhos e choravam, mas eu j� sabia que, ali, n�o tinha mais nada a ser feito”, revela Jo�o Ildefonso. Ele e a mulher acompanharam todos os testes neurol�gicos, at� ter a certeza de que a filha havia sido declarada com morte encef�lica. “Diferentemente do coma, em que o paciente tem chance de voltar � consci�ncia, a morte do c�rebro � irrevers�vel. O cora��o est� batendo, mas a pessoa n�o est� mais ali. N�o h� d�vida”, esclarece Omar Lopes, diretor do MG Transplantes, lembrando da import�ncia de cada um revelar aos familiares o desejo de se tornar doador universal, pois cabe somente a eles a decis�o de autorizar a retirada dos �rg�os pelo hospital. “No Brasil, posso afirmar que n�o existe tr�fico de �rg�os em nosso sistema de transplante, que � copiado por outros pa�ses. � tudo muito fiscalizado pelo Minist�rio da Sa�de e at� os l�quidos onde os �rg�os devem ficar imersos s�o rigorosamente controlados”, garante o m�dico.
Poucos dias antes de fazer a cirurgia, Isabela anotou no di�rio pessoal, com a grafia da 7ª s�rie, o trecho a ser depois descoberto pelos pais: “Vou (me) internar para fazer minha terceira cirurgia do cora��o. Eu n�o sei pessoalmente o que eles v�o fazer, mas de uma coisa eu sei, que Deus vai estar l� comigo, me dando for�a, por isso n�o preciso me preocupar”. Na avalia��o de Jo�o e Elizabet, a menina j� adivinhava o resultado da opera��o, mas se mostrava tranquila com rela��o a tudo. A m�e completa: “Isabela era muito grata a tudo, podia ganhar uma borracha, que pulava no meu pesco�o de felicidade. Quando ganhou o cachorro, achei que passaria mal, pois o cora��o disparou. Com certeza, se a gente tivesse conversado sobre isso antes, ela aceitaria ajudar outras crian�as”.
