
Mondrian j� foi um dos nomes mais falados de Belo Horizonte, na d�cada de 1990, no auge da moda para o atacado no Bairro Barro Preto, Regi�o Centro-Sul. Palco de desfiles das novas cole��es, filas se formavam na portaria desse movimentado edif�cio comercial, com suas 185 lojas, quatro pares de escadas rolantes e dois elevadores panor�micos. Inaugurado em 1989, apenas a logomarca do Mondrian Trade Center remete � vanguarda do pintor holand�s Piet Mondrian, que culminou nos seus famosos ret�ngulos coloridos, em vermelho, azul e amarelo. “N�o estou me lembrando agora de quem foi Mondrian, mas meu filho faz faculdade de design e j� comentou sobre ele comigo”, afirmou a pipoqueira Vera L�cia Tomaz, de 50 anos, que h� 20 faz ponto em frente ao pr�dio.
Dos dois porteiros do Mondrian, que ostentam a logomarca inspirada no g�nio holand�s no bolso do uniforme, at� o lavador de carros, clientes e lojistas, a verdade � que raros frequentadores de d�cadas do edif�cio conheciam a origem do nome. “Vou reunir a turma e levar para conhecer a exposi��o do pintor no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil)”, disse, preocupado, Maur�cio Waks, ex-s�ndico e dono do terreno, lembrando que o pr�dio fez sucesso no lan�amento, servindo de inspira��o para outros empreendimentos da regi�o. “Ainda recebemos excurs�es do Brasil inteiro de pessoas que v�m comprar moda por atacado no Barro Preto”, completa, chamando a aten��o para as formas geom�tricas do pr�dio.
A mulher do carrinho de pipocas se orgulha de pagar a mensalidade de R$ 1.250 da escola do filho com o dinheiro arrecadado com a venda de coquinhos e plarin�, al�m das ditas cujas de R$ 3 a at� R$7. “� um dinheiro suado, meu e do meu marido, que tamb�m � do ramo, mas acredito que J�lio C�sar vai dar certo na profiss�o, porque � muito esfor�ado. Ele j� pensa em fazer mestrado em arquitetura”, completou a m�e, que teve de interromper os estudos aos 10 anos, come�ando a trabalhar como dom�stica, para ajudar nas despesas da fam�lia de 12 irm�os. O outro filho, Gabriel, vai fazer vestibular para administra��o. Se Vera L�cia considera mais importante estudar ou trabalhar? “Os dois”, responde a pipoqueira, sem titubear.
J� as mo�as da loja especializada em lingerie, que atuam diretamente como recepcionistas no Mondrian, admitem nunca ter ouvido falar no criador do neoplasticismo. “Nunca parei para pensar nesse Mondrian. Por acaso este pr�dio aqui � dele?”, indagou a gerente do lugar, sendo em seguida apresentada ao livro com algumas das principais obras do artista. “� interessante conhecer a obra de um pintor”, expressou a funcion�ria do caixa, que entretanto, n�o contou com a concord�ncia da colega: “Tem gente que � fascinado por essas coisas de arte e investe milh�es em quadros. Cada um tem a sua opini�o, mas eu ainda acho o Edif�cio Mondrian mais importante, porque � onde eu trabalho e passo a maior parte do meu tempo. Saio daqui tarde da noite, pregada”.
“Fiz dois anos de arquitetura. Apesar de n�o ter visto nada sobre Mondrian na faculdade, sei que ele foi um pintor da linha modernista. Ali�s, esse pr�dio no formato de um bloco faz jus a Mondrian”, comparou Kelly Costa, dona h� 18 anos de uma loja de vestidos de festa recentemente trazido para o primeiro andar, no hall do Mondrian. “Agora n�o estou sabendo quem �, mas j� estudei sobre isso”, comentou a debutante Luciana Lanza, distra�da enquanto ajustava o vestido para dan�ar no baile de 15 anos. “Pra que tantas perguntas? Estamos com pressa”, agilizou a m�e da adolescente, Angelina Lanza.
MONDRIAN E O MOVIMENTO DE STIJL
CCBB. Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, (31) 3431-9400. De quarta a segunda-feira, das 9h �s 21h. At� 26 de setembro.