
Na �poca, aos 14 anos, insistia no desejo de acrescentar a inscri��o de que era doador de �rg�os em seus documentos pessoais, procedimento que passou a n�o existir mais no Brasil. Nos dias de hoje, jovens como Felipe e adeptos das redes sociais podem incluir o dado de que s�o doadores no perfil do Facebook.
Para o presidente da Associa��o Brasileira de Transplante de �rg�os (ABTO), o nefrologista Roberto Manfro, a manifesta��o clara da vontade de cada cidad�o � a melhor estrat�gia para mudar o alto �ndice brasileiro de recusa de doa��es: 43% dos familiares de poss�veis doadores de �rg�os n�o autorizam o procedimento ao receberem o diagn�stico de morte encef�lica.
“Por maior que seja a dor da perda, o desejo pessoal de se tornar doador de �rg�os � quase sempre respeitado pelos familiares”, pontua. Ele esclarece que em 1997, h� quase 20 anos, foi feita uma tentativa de ampliar as doa��es no Brasil adotando o crit�rio do consentimento presumido, como na maioria dos pa�ses desenvolvidos. Por esta regra, s� n�o � doador de �rg�os quem informar em documento, como na carteira de identidade.
“Apesar de a inten��o ter sido boa, o Brasil n�o estava pronto para ela. Na �poca, as doa��es ca�ram significativamente e, no ano seguinte, foram obrigados a mudar novamente o conceito”, completa o m�dico. No ano passado, o Brasil atingiu 14,1 doadores efetivos por milh�o de habitantes, taxa inferior aos melhores �ndices entre 30 a 35 doadores efetivos por milh�o de pessoas por ano, alcan�ados por pa�ses como Espanha, Portugal e �ustria.
Hoje m�e de um homem de 37 anos, e de uma mulher de 34, Rosimeire Guirado ainda tenta superar a morte de Felipe, o filho mais novo. “Para mim foi muito importante tomar essa decis�o, porque a dor de uma m�e diante de uma perda dessas � indescrit�vel. N�o tem tamanho. A gente fica sem ch�o”, disse a bordadeira, ao afirmar que a decis�o ajuda a aliviar o sofrimento.
Ela ainda conta que se sente mais forte ao participar de campanhas e tentar mudar a cabe�a das pessoas contr�rias � doa��o. “Voc� n�o pensa em ser doador, mas e se amanh� voc� precisa de um �rg�o?”, questiona.”Os m�dicos n�o puderam fazer nada pelo meu filho, eu tamb�m n�o pude, mas ele salvou v�rias vidas”, disse Rosimeire.
“Quando a fam�lia se disp�e a conversar com a equipe do MG Transplantes, � porque ela j� entendeu que n�o h� mais d�vida no processo da morte encef�lica, j� entendeu que o paciente est� em �bito”, explica Fernanda Marta Paizante Santos, psic�loga do MG Transplantes. Ela lembra que, em alguns pa�ses, o exame cl�nico basta para comprovar a morte. No Brasil, s�o feitos dois exames, al�m de um teste complementar (veja quadro).
Doe solidariedade
Confira informa��es e crit�rios importantes sobre a doa��o de �rg�os e tecidos
Como se tornar um doador de �rg�os
O passo principal � conversar com a fam�lia e deixar bem claro o desejo, mas n�o � necess�rio deixar nada por escrito. Os familiares, por�m, devem autorizar a doa��o por escrito ap�s a morte do potencial doador
O que � morte encef�lica?
� a morte do c�rebro, incluindo tronco cerebral, que desempenha fun��es vitais, como o controle da respira��o. Quando isso ocorre, a parada card�aca � inevit�vel. Embora ainda haja batimentos card�acos, a pessoa j� n�o pode respirar sem os aparelhos e o cora��o bater� por pouco tempo. Por isso, a situa��o j� caracteriza a morte do indiv�duo. � fundamental que os �rg�os sejam aproveitados enquanto ainda h� circula��o sangu�nea. Se o cora��o parar, s� poder�o ser doadas as c�rneas
Requisitos para ser considerado doador
Estar comprovada a morte encef�lica. � uma situa��o bem diferente do coma, situa��o em que as c�lulas do c�rebro est�o vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com dificuldade ou debilitadas
Para isso, o paciente deve passar por dois exames neurol�gicos, feitos por dois m�dicos n�o participantes das equipes de capta��o e de transplante
Deve ainda submeter-se a exame complementar que comprove a morte encef�lica, caracterizada pela aus�ncia de fluxo sangu�neo em quantidade necess�ria no c�rebro, al�m de inatividade el�trica e metab�lica cerebral
No momento de defini��o do quadro, o paciente n�o pode apresentar hipotermia (baixa temperatura), baixa tens�o arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do sistema nervoso central
H� deforma��o no corpo do doador ap�s a retirada dos �rg�os?
N�o. A legisla��o � clara quanto a isso: hospitais autorizados a retirar os �rg�os t�m que recuperar a apar�ncia do doador ap�s a retirada
Fonte: MG Transplantes