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Estado de Minas

Conhe�a a jornada de grupo que percorreu o sert�o de Guimar�es Rosa

Seis dias e 170 quil�metros a p� em terrenos pisados por Riobaldo e Diadorim, na maior jornada feita por projeto que celebra a genialidade do escritor mineiro cuja obra-prima completa 60 anos


01/08/2016 06:00 - atualizado 01/08/2016 19:37

Ver galeria . 24 Fotos O Caminho do Sertão - De Sagarana ao Grande Sertao: Veredas. Terceiro ano dessa jornada onde 70 selecionados fizeram um mergulho socioambiental e literário no universo de Guimarães Rosa e no cerrado sertanejo das Gerais, percorrendo parte dos caminhos realizados por Riobaldo, personagem central do livro Grande Sertão: Veredas, rumo ao Liso do SussuarãoAlexandre Guzanshe/EM/DA Press
O Caminho do Sert�o - De Sagarana ao Grande Sertao: Veredas. Terceiro ano dessa jornada onde 70 selecionados fizeram um mergulho socioambiental e liter�rio no universo de Guimar�es Rosa e no cerrado sertanejo das Gerais, percorrendo parte dos caminhos realizados por Riobaldo, personagem central do livro Grande Sert�o: Veredas, rumo ao Liso do Sussuar�o (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press )
As luzes de Chapada Ga�cha despontam ao longe. Sugerem o fim de uma longa, do�da, sofrida, mas reveladora jornada: nada menos que 170 quil�metros caminhando pelo sert�o imortalizado na obra do escritor mineiro Jo�o Guimar�es Rosa. “� uma miragem, s� pode ser”, pensei, enquanto olhava para frente, com a sensa��o de que elas n�o se aproximavam. Estavam ali, mas nunca chegavam. Ap�s seis dias de peregrina��o, eram os �ltimos cinco quil�metros. Depois de andar quase cinco vezes mais desde a manh�, aqueles �ltimos passos talvez fossem os piores dessa que se tornaria a maior jornada j� cumprida pelo projeto Caminho do Sert�o – em extens�o e em n�mero de participantes: 91. Eu carregava o j� insepar�vel cajado, uma c�mera no pesco�o, uma mochila com �gua, canivete, algum rem�dio, uma segunda c�mera. Na bagagem, tamb�m uma sacola com outros sacos pl�sticos. Dentro de cada um, um pouquinho de terra. Terras coloridas: amarela, roxa, vermelha, branca... A poeira do sert�o; a terra de Rosa.


O desafio de repisar o ch�o empoeirado batido pelos imortais personagens roseanos nasceu de um grupo de ativistas regionais, com a inten��o de prestar tributo a Guimar�es Rosa, � sua obra e ao povo sertanejo. Promove um mergulho social, ambiental e liter�rio – at� espiritual, diria – no universo de Rosa e no cerrado do Noroeste mineiro, passando por parte do caminho realizado por Riobaldo, Diadorim e a jagun�agem, personagens do livro Grande Sert�o: Veredas. Neste ano, a caminhada teve um gostinho especial. Tr�s obras do autor celebram datas importantes: o livro de contos Sagarana completa 70 anos de publica��o; o livro de novelas Corpo de Baile e a obra maior, Grande sert�o, ambos lan�ados em 1956, chegam aos 60 anos.

Caminhantes refazem 170 km de parte da travessia de Guimar�es Rosa


Mas n�o � f�cil se lembrar disso enquanto Chapada Ga�cha n�o chega. Via-se de longe, bem muito longe, queima de fogos. Estavam esperando os caminhantes. A Festa do Encontro dos Povos do Grande Sert�o Veredas iria nos receber. Eu, um dos 67 participantes, e nossos oito guias est�vamos andando havia seis dias, j� loucos para completar aquela travessia. Continuava caminhando, com os p�s doloridos e algumas bolhas. Estava tudo muito pesado e s� conseguia pensar em chegar.

O motoqueiro que nos dava apoio passou perguntando se estava tudo bem com aquele pequeno grupo. Ajudou a nos encorajar, contando que est�vamos perto da entrada da cidade. N�s �ramos os �ltimos. Todos j� haviam chegado. Essa turma, ou melhor, a galera do fund�o, foi � que me adaptei melhor naqueles dias. A caminhada tem sua din�mica e, como precisava fotografar e filmar, preferi seguir mais lento com aquele pessoal. Bravos caminhantes.

Trilhas entre morros e vales representam desafio para caminhantes, mas a vista compensa cada passo(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Trilhas entre morros e vales representam desafio para caminhantes, mas a vista compensa cada passo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Carros passam acelerados para a festa. A poeira na cara. O tempo, j� nem sabia qual era. A hora, pouco importava. Era noite. A poucos metros, um carro vai desviar de um buraco e quase atropela o grupo. Gritos e depois xingamentos. Mais alguns minutos de caminhada e enfim as luzes chegam mais perto. J� n�o s�o uma miragem. Os outros companheiros estavam l�, esperando. Os �ltimos quatro peregrinos chegaram abra�ados. Sentei-me no meio-fio, segurando fortemente meu cajado de todo dia. Chorei. Chorei de felicidade. O sert�o de Rosa � inesquec�vel. Como o pr�prio definiu: “Aquela Travessia durou s� um instantezinho enorme. Digo: o real n�o est� nem na sa�da nem na chegada; ele se disp�e pra gente � no meio da Travessia”. O di�rio dessa jornada pelo conhecimento – das veredas, do sert�o, do cerrado, das gentes, do mestre, mas acima de tudo, o autoconhecimento.

A cada cidade, peregrinos se deparam com simplicidade cheia de hospitalidade da gente do sertão(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
A cada cidade, peregrinos se deparam com simplicidade cheia de hospitalidade da gente do sert�o (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)



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