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Estado de Minas

Espa�o dedicado ao bordado em BH luta pela instala��o de um memorial sobre o of�cio

Espa�o de refer�ncia da atividade em BH, o Maria Arte e Of�cio luta por um memorial para expor preciosidades colecionadas em mais de 20 ba�s e promove encontros sobre o tema


postado em 24/08/2016 06:00 / atualizado em 24/08/2016 07:53

Bordadeiras trabalham no ateliê no Bairro Carmo(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Bordadeiras trabalham no ateli� no Bairro Carmo (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Tudo come�a com o desejo, depois segue na linha, guiada pela agulha sobre o tecido, at� chegar ao destino: a colcha, a tolha de mesa ou, quem sabe, um pano de prato. A hist�ria de Minas vem sendo bordada s�culos a fio pelas m�os femininas, marcada pela criatividade dos riscos e preservada, por muitos, como requintada obra de arte. “Bordado deve ser escrito com letra mai�scula e sempre visto como patrim�nio imaterial, pois � a cultura do saber e do fazer”, ressalta Maria do Carmo Guimar�es Pereira, fundadora e diretora do Maria Arte e Of�cio, em Belo Horizonte, espa�o de refer�ncia e de ensino da atividade que remonta, no pa�s, aos tempos coloniais. Lutando pela instala��o de um memorial, a fim de expor o fruto de doa��es e aquisi��es guardado em mais de 20 malas e ba�s, ao lado de moldes centen�rios, ela promove encontros para falar do tema que a apaixona e se mant�m cada vez mais vivo entre as alunas do curso de bordadeira oferecido no Bairro Carmo, na Regi�o Centro-Sul.


Fundadora e diretora Maria do Carmo Guimarães Pereira coleciona de moldes antigos a peças bordadas(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Fundadora e diretora Maria do Carmo Guimar�es Pereira coleciona de moldes antigos a pe�as bordadas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Ver o ouro puro saindo das caixas, na forma de camisolas enfeitadas com renda francesa, fronhas de linho bordadas com linha de seda ou colchas trabalhadas em ponto paris se torna uma deliciosa viagem no tempo e nos costumes. “O bordado a m�o tem aura, sensibilidade especial”, afirma Maria do Carmo, que promover�, no pr�ximo dia 3, o encontro “Bordando no Jardim de Maria”, oportunidade para contar hist�rias – o tema central ser� “Bordado de Viana do Castelo, de Portugal” –, ouvir palestras e praticar. “Ser� um dia para bordarmos palavras e emo��es”, afirma a tamb�m presidente da Associa��o pela Preserva��o da Arte do Bordado (Apab). J� no dia 18, ser� a vez de todos os c�modos da sede, localizada no n�mero 47 da Rua Caldas, se transformarem em grande exposi��o.

PONTOS DE ARTE Cada pe�a acondicionada nas malas e ba�s tem uma hist�ria e se apresenta como recorte de �pocas. “Veja esta camisola doada por uma senhora de 92 anos. Ela me entregou, contou que foi usada na sua noite de n�pcias, mas pediu que n�o pusesse seu nome na exposi��o, pois se referia a um momento muito �ntimo”, diz Maria Aparecida para dar a no��o das mudan�as de comportamento. Envolvida no of�cio h� mais de 40 anos, ela conta que a arte do bordado, que em Minas encontrou solo f�rtil e dedos talentosos, sofreu duros revezes: o primeiro, com a introdu��o no Brasil da cultura norte-americana, na d�cada de 1960, respons�vel por tirar das bancas as revistas europeias e inundar o mercado de publica��es institucionalizando o ponto de cruz. Agora, h� a invas�o chinesa, japonesa e outras via internet.

“At� meados do s�culo passado, o bordado era ensinado nas escolas, tinha nota na caderneta, assim como o canto orfe�nico”, diz Maria do Carmo, que, no seu espa�o, prima por preservar o conhecimento, estendendo essa miss�o � inicia��o das crian�as. “N�o � dif�cil aprender a bordar. O primeiro passo � ter o desejo, depois basta enfiar a linha na agulha”, revela, com a experi�ncia de quem entende do riscado. “N�o podemos perder nossas refer�ncias, por isso o memorial � de suma import�ncia. O estado sempre teve bordados de qualidade, mantendo neles a religiosidade, o capricho e o requinte.” Se em priscas eras a atividade prendeu as mulheres em casa, atualmente adquire outros contornos. “Hoje, quem borda � revolucion�ria. Trata-se de um of�cio que se reverencia, traz a linha at� o peito”, compara. E ainda tem um car�ter terap�utico, pois proporciona o relaxamento nas horas de aprendizagem ou produ��o. Al�m desse aspecto, as alunas fazem pesquisas, de forma a deixar para futuras gera��es todas as informa��es sobre o of�cio.

"� um s�mbolo de vida", afirma a advogada Regina Massara, que teceu pe�a a partir da ilustra��o do chargista Quinho para a capa do EM que homenageou a Pampulha (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
LEMBRAN�AS Hoje faz dois meses que a advogada Regina Massara, tamb�m formada em hist�ria, ficou vi�va. O cora��o anda apertado, os olhos umedecidos, mas ela encontra alento na aula de bordado, � qual vai uma vez por semana. Transformando a dor em arte, ela borda uma mandala, em cores vivas, sobre a radiografia do rosto do falecido marido. “� um s�mbolo de vida”, afirma Regina, que une o bordado � hist�ria e tradi��o e o associa � mem�ria dos av�s, imigrantes que vieram da It�lia e se estabeleceram em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. “Eu me enrique�o aqui a cada dia”, observa a advogada ao recriar, no bastidor, a ilustra��o feita pelo chargista Quinho em homenagem � Igreja de S�o Francisco de Assis e a Oscar Niemeyer (1907-2012), publicada no Estado de Minas no dia em que a Pampulha foi eleita Patrim�nio Cultural da Humanidade, pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco).

Filha de uma bordadeira, a arquiteta Cl�udia Gontijo, moradora do vizinho Bairro Sion, aprendeu o of�cio quando menina e vem aprimorando a t�cnica. Diante de um peda�o de fil�, ela brinca: “Passamos muito tempo filosofando”. Para ela, a melhor tradu��o das aulas � compartilhamento e encontro. Ao lado, as colegas Rosemarie Naufel, psic�loga, e Maria Alice Monteiro Magalh�es, que prefere se declarar bordadeira, ouvem as orienta��es de Maria do Carmo sobre matiz, aplica��o, pontos de haste, atr�s e feston. E outros de nomes bem sonoros e de origem francesa, como richilieu, frivolit�, cordon�, feston� e ilh�s.

Para a psic�loga Maria Aparecida de Oliveira Andrade Ara�jo, que iniciou o curso h� quatro anos “sem saber nada”, as aulas entram na vida de cada uma por um vi�s. “Ajudam a te acalmar, te d�o um lugar, um ritmo”, explica enquanto borda a toalha de mesa. J� para Adriane Guimar�es Loureira, professora residente na Pampulha, o trabalho encanta, pois cada uma pode escolher o motivo, fazer a combina��o de cores e escolher o material. Homens tamb�m j� apareceram no curso e s�o bem-vindos, diz Maria do Carmo, embora a mulher tenha uma rela��o diferente com a linha, que sempre volta ao peito: “� como se fosse o cord�o umbilical ligando o filho ao ventre”.

SERVI�O

Dia 3 de setembro

 Bordando no Jardim de Maria, com o tema “Bordado de Viana do Castelo, de Portugal”

Dia 18 setembro

 Exposi��o de bordados

 Local: Maria Arte e Of�cio, na Rua Caldas, 47, Bairro Carmo, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte
 Outras informa��es: (31) 3223-7648, ou e-mail [email protected] ou pelo site www.mariaarteoficio.com.br


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