
O achado, informa a professora do Departamento de F�sica do Instituto de Ci�ncias Exatas (Icex/UFMG), “representa passo importante para a compreens�o de como se formam e evoluem sistemas planet�rios”. E mais: trata-se da primeira comprova��o observacional da teoria segundo a qual os planetas podem se aproximar de seu sol migrando pela nuvem de g�s e poeira que circunda as estrelas em sua origem.
Na sua sala no c�mpus da universidade na Pampulha, em Belo Horizonte, S�lvia conta que o planeta foi identificado em �rbita da estrela V-830 Tauri, localizada na constela��o do Touro, numa dist�ncia de 430 anos-luz da Terra. Para entender melhor a hist�ria, � bom saber que, para chegar at� aqui, a luz desse corpo celeste demorou 430 anos. “A astronomia � a ci�ncia que trabalha com o passado, estuda o que j� aconteceu. A luz do Sol, por exemplo, demora oito minutos para chegar � Terra. Portanto, se houver uma explos�o l�, s� ficaremos sabendo oito minutos depois”, ressalta a professora, com bom humor.
A pesquisa do grupo joga mais luz sobre os avan�os da astronomia, que, na semana passava, apresentou outro resultado importante e surpreendente � humanidade: a descoberta, por uma equipe internacional, do planeta Pr�xima B, igualmente fora do sistema solar, mas, como o nome diz, bem mais perto da Terra – a 4,22 anos-luz da Terra.
IDADE DA ESTRELA A descoberta do “planeta-beb�” foi publicada na revista cient�fica Nature e mostrou que a estrela V-830 Tauri “tem cerca de dois milh�es de anos”, algo insignificante diante da idade do universo (14 bilh�es de anos) ou do Sol (4,5 bilh�es anos). “Se formos comparar com a escala humana, podemos dizer que esse planeta seria um rec�m-nascido de uma semana”, explica S�lvia.
O grupo Matysse (sigla inglesa para Campos magn�ticos de estrelas jovens pr�ximas e exoplanetas maci�os jovens), integrado tamb�m por cientistas norte-americanos, europeus e asi�ticos, trabalhou durante meses, mapeando a superf�cie da estrela e medindo a influ�ncia do planeta na �rbita dela.. “A estrela se afasta e se aproxima da Terra devido � influ�ncia gravitacional do planeta”, explica S�lvia, destacando que, quando jovens, as estrelas s�o muito ativas. Por enquanto, n�o foi poss�vel definir a composi��o do novo planeta, que tem massa pr�xima � de J�piter.
O grupo estava pesquisando 30 estrelas e se deparou com o planeta V-830 Tau B bem no in�cio do trabalho. “Na quarta estrela”, observa S�lvia. Para ela, astronomia e filosofia est�o muito pr�ximas, de modo especial quando se fazem perguntas sobre as origens do universo, como se formaram as estrelas, enfim, quest�es sobre o come�o da vida. “Com essa imensid�o do universo, a gente v� que a Terra � s� um planetinha em torno do sol e � beira de uma gal�xia”, analisa. O trabalho dos cientistas foi desenvolvido no Telesc�pio Canada-France-Hawaii (CFHT), instalado no Maunakea, vulc�o adormecido na Ilha Grande do Hava�.
Com a descoberta, uma quest�o j� pode ser demonstrada com certeza: os planetas migram – n�o o sistema solar, que j� est� consolidado, mas outros desta gal�xia se encontram em movimento. “Mostramos que esse tipo de migra��o acontece, e em escala de tempo de dois milh�es de anos, o que � muito cedo na vida de uma estrela do tipo solar, pois elas evoluem em bilh�es de anos”, revela a professora Na sua avalia��o, o grande desafio enfrentado pela equipe foi localizar planetas em torno de estrelas muito ativas, cujas manchas na superf�cie, provocadas por movimento de fluidos e campos magn�ticos, atrapalham a detec��o de objetos em sua �rbita.
Estudo foca estrelas jovens
Procurar planetas em torno de estrelas jovens n�o era o �nico objetivo da equipe coordenada pelo astr�nomo Jean-Fran�ois Donati, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, em portugu�s Centro Nacional da Pesquisa Cient�fica), da Fran�a. O projeto, de longo prazo, � estudar a evolu��o do campo magn�ticoeda rota��o de estrelas jovens. A professora S�lvia Helena Paix�o Alencar explica que uma em cada 100 estrelas maduras tem um J�piter quente em sua �rbita.
“Estrelas antigas j� foram muito observadas, mas n�o se sabe qual a estat�stica para as jovens. Como t�nhamos tempo limitado de uso do telesc�pio, selecionamos apenas 30 estrelas e corremos o risco de n�o observar nenhum planeta, embora tiv�ssemos capacidade t�cnica para obter sucesso”, relata.
Para reduzir as chances de erro, a equipe optou por observar apenas estrelas jovens que perderam o disco de g�s e poeira muito cedo, situa��o identificada pela aus�ncia de excesso na emiss�o de luz infravermelha. Elas representam um conjunto relativamente pequeno, pois 80% das estrelas da faixa de dois milh�es de anos ainda t�m esse disco. Com cinco milh�es de anos, quase nenhuma tem.
T�cnicas para achar planetas
Estrelas jovens s�o extremamente ativas e apresentam, em suas superf�cies, manchas e campos magn�ticos de ordens de magnitude maiores e mais fortes do que os do Sol. Essa atividade gera na luz observada das estrelas jovens perturba��es muito maiores do que o movimento induzido por planetas em �rbita, o que torna muito dif�cil a detec��o desses planetas, mesmo em caso de planetas gigantes com �rbitas pr�ximas � estrela. Para recuperar o sinal do planeta, astr�nomos necessitam modelar com precis�o a distribui��o de manchas e os campos magn�ticos em larga escala de estrelas jovens usando t�cnicas tomogr�ficas inspiradas no imageamento m�dico. A distribui��o de manchas e o campo magn�tico em larga escala de V830 Tau foram reconstru�dos com base em conjunto de dados levantados pelo grupo do qual a professora Silvia Alencar � integrante.