
Dois anos depois da confirma��o de que capivaras tinham sorologia positiva para a bact�ria da febre maculosa na orla da Lagoa da Pampulha, a suspeita de contamina��o pela Rickettsia rickettsii, causadora da doen�a, volta a preocupar. O alerta veio ap�s a morte de um menino de 10 anos por febre hemorr�gica, quadro que pode ser causado, entre outras enfermidades, pela febre maculosa. A v�tima, T., morador da Regi�o de Venda Nova, participou de uma atividade recreativa no Parque Ecol�gico da Pampulha no dia 20 de agosto e, seis dias depois, come�ou a apresentar os sintomas que coincidem com os da doen�a. Internado no dia 2 de setembro, ele apresentou piora no estado de sa�de e morreu no �ltimo domingo. A not�cia, associada a um �udio sobre o caso que se espalhou ontem pelo aplicativo WhatsApp, gerou receio entre moradores e visitantes da orla. A prefeitura informou que apura se a morte foi provocada pela bact�ria, recomendou cuidados gerais para passeios em �reas com vegeta��o, mas descartou necessidade de suspender visitas ao Parque Ecol�gico da Pampulha.
Em 2014, exames feitos pela Funda��o Ezequiel Dias (Funed) apontaram que 28 capivaras estavam com a bact�ria Rickettsia rickettsii. Na �poca, cerca de 90 animais viviam na orla, sendo que 46 foram capturados para exames. Apesar de a sorologia positiva n�o significar que os bichos estavam doentes, eles eram hospedeiros da bact�ria, que � transmitida ao homem pelo carrapato-estrela. Em setembro do mesmo ano, dentro do plano de manejo autorizado pelo Ibama, foram capturadas 52 capivaras. Elas foram levadas para dois recintos separados no parque ecol�gico com condi��es adequadas de tratamento, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte. Ainda assim, 38 delas morreram. Em janeiro de 2016, por determina��o judicial, a Funda��o Zoo-Bot�nica soltou 14 capivaras, que n�o apresentavam carrapato portador da bact�ria de febre maculosa.
No dia em que esteve no parque ecol�gico, T. participou de uma atividade recreativa em comemora��o ao centen�rio do Ramo Lobinho (crian�as entre 6 a 10 anos) que participam de grupos de escoteiros. Na ocasi�o, um grupo de 150 crian�as, com idades entre 7 e 10 anos, lideradas por cerca de 70 adultos, participou de jogos e brincadeiras. Diversos grupos de escoteiros de BH e regi�o metropolitana participaram do encontro. De acordo com Marcos Gomide, diretor de Gest�o Institucional da Uni�o dos Escoteiros do Brasil, se��o Minas Gerais, ap�s as atividades, todas as crian�as foram entregues de volta �s fam�lias. No caso de T., parentes dele entraram em contato seis dias depois, informando que o menino apresentava mal-estar.
Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de, o menino deu entrada em um hospital de Belo Horizonte no dia 2 de setembro. Com agravamento do quadro, ele foi transferido para outra unidade particular com atendimento conveniado ao Sistema �nico de Sa�de (SUS), onde ficou internado em unidade de terapia intensiva (UTI), mas, no domingo, n�o resistiu. Ainda de acordo com o �rg�o, o menino apresentou manchas no corpo (pet�quias), cefaleia (dor de cabe�a intensa), icter�cia (colora��o amarelada da pele), febre, mialgia (dor intensa), dor abdominal. A causa da morte ainda n�o foi confirmada pela secretaria, que informou n�o ter tido acesso � declara��o de �bito. O per�odo de incuba��o da febre maculosa � de 2 a 14 dias, o que coincide com a data de apresenta��o dos sintomas pelo menino.
A morte da crian�a est� sendo investigada pela Funda��o Ezequiel Dias (Funed), que faz testes em material biol�gico coletado do menino (sangue e l�quido cefalorraquidiano). Apesar de a apura��o sobre a morte ainda estar incompleta e depender do resultado da Funed, constam na ficha da crian�a, no hospital, que ele teve contato com capivaras, c�es e gato (hospedeiros da bact�ria), e esteve em �rea com vegeta��o, que serve de h�bitat para os carrapatos.
“Fatalidade” A morte do lobinho T. causou como��o no grupo de escoteiros, que divulgou uma nota lamentando o ocorrido. Sobre as atividades feitas no dia em que ele esteve no parque, o diretor da Uni�o dos Escoteiros destacou que “os adultos que estavam l� estavam muito bem preparados para todas as atividades, executadas conforme regras e prepara��o anterior. Infelizmente, foi uma fatalidade. N�o tem como dizer mais nada sem a resposta da Funed e da prefeitura”, disse Marcos Gomide. J� sobre o �udio que se espalhou nas redes sociais, o diretor fez um alerta. “A gente n�o est� compactuando com isso. O parque � totalmente seguro. Ele segue regras r�gidas do controle de zoonoses e da prefeitura. N�s n�o estamos afirmando que foi no parque”, enfatizou Gomide, refor�ando que as atividades de escoteiros continuar�o sendo realizadas no local.
Ontem, com a not�cia da morte e circula��o de �udio sobre o caso na internet, o clima era de desconfian�a na orla da Pampulha. “Recebi o �udio de dois grupos de m�es de que participo e h� uma preocupa��o generalizada. Lamento por esse medo voltar a ocorrer porque moro muito perto do parque ecol�gico e me mudei para a Pampulha justamente porque aqui � uma regi�o muito agrad�vel”, afirmou a gerente de vendas Renata Melo. “O que espero, na verdade, � que os �rg�os de sa�de p�blica tenham controle da popula��o de capivaras, mantendo a seguran�a para as pessoas, bem como a qualidade de vida para elas”, completou.
Na avalia��o do diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, � prematuro adotar qualquer medida dr�stica em rela��o ao parque ecol�gico. “� preciso antes saber se menino teve contato com o carrapato, at� que o diagn�stico fique pronto e possa esclarecer o que de fato ocorreu. Qualquer medida sem esse resultado pode acarretar em um erro enorme ou alarde desnecess�rio”, disse.
Medidas ser�o avaliadas s� ap�s exames
Apesar da preocupa��o manifestada em redes sociais em rela��o ao Parque Ecol�gico da Pampulha, a Secretaria Municipal de Sa�de informou que qualquer medida s� poder� ser adotada diante do resultado dos exames feitos pela Funed. Esclareceu ainda que, entre as doen�as que causam febre hemorr�gica, est�o a dengue, leptospirose e l�pus. Gerente de Vigil�ncia em Sa�de da secretaria, Maria Tereza Oliveira disse que n�o h� motivo para p�nico, nem mesmo para qualquer outra medida como fechamento do parque e suspens�o das visitas, bem como pedido de testes nas capivaras.
“Al�m de a investiga��o analisar a possibilidade de outras doen�as, a bact�ria que causa febre maculosa tem outros hospedeiros, como o cavalo, cachorro e at� mesmo os gatos. Ainda que seja febre maculosa, essa crian�a pode ter tido contato com esses animais em outro local, que n�o o parque. Por isso, em nada vai contribuir tomar qualquer tipo de medida em rela��o ao parque ecol�gico”, afirma.
Segundo ela, a orienta��o da secretaria � para preven��o geral para todos as situa��es de passeios ecol�gicos. “As pessoas devem se cobrir com roupas claras, para perceber a presen�a ou n�o de carrapatos; devem usar cal�as e blusas de manga comprida e usar repelente. Se tiver um carrapato na pele, este deve ser retirado com uso de pin�a e n�o com as m�os”, recomenda. Al�m disso, ela afirmou que n�o h� nenhum caso confirmado por febre maculosa em Belo Horizonte neste ano, nem em 2015.
Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a Funda��o Zoo-Bot�nica de Belo Horizonte ealiza a��es preventivas peri�dicas para evitar a incid�ncia de carrapatos no Parque Ecol�gico da Pampulha.