
O depoimento de Desir�e – que viu o menino ativo e saud�vel passar em 10 dias por um quadro de debilidade f�sica at� morrer – mostra o ressentimento pelo resultado tr�gico. Mais do que isso, para a m�e, evidencia que a sa�de p�blica n�o se revelou preparada para seguir seus pr�prios protocolos (veja arte) e lidar com o diagn�stico de uma doen�a considerada rara, j� que a �ltima morte por ela na capital ocorreu em 2013.
“Como os sintomas n�o s�o espec�ficos, ele come�ou sendo tratado para sinusite. Depois, disseram que estava com dengue, e assim ficou por tr�s dias sendo medicado. S� quando chegou ao Hospital das Cl�nicas da UFMG (HC/UFMG) � que houve a suspeita e o tratamento para febre maculosa”, lembra a m�e, lamentando o fato de que, se Thales tivesse sido medicado nos primeiros dias, poderia ter sobrevivido.
A comunica��o �s equipes de sa�de de que o paciente teve contato com �reas de risco para a presen�a do carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa – como � o entorno do parque ecol�gico – faz parte das normas do protocolo da pr�pria Secretaria Municipal de Sa�de de Belo Horizonte para combater a doen�a. Mas, segundo a m�e do menino, a informa��o n�o fez diferen�a nos primeiros dias.
Quando esteve no Parque Ecol�gico, o garoto participou de uma atividade recreativa em comemora��o ao centen�rio do Ramo Lobinho dos escoteiros (para integrantes entre 6 a 10 anos). Na ocasi�o, um grupo de 150 crian�as, lideradas por cerca de 70 adultos, participou de jogos e brincadeiras. De acordo com Marcos Gomide, diretor de Gest�o Institucional da Uni�o dos Escoteiros do Brasil, Se��o Minas Gerais, ap�s as atividades, todas os participantes foram entregues �s fam�lias.
No caso de Thales, parentes entraram em contato seis dias depois, informando que o menino apresentava mal-estar. O primeiro atendimento, segundo a m�e, foi no Hospital Odilon Behrens, seguido de passagem por uma unidade de pronto-atendimento e por um hospital filantr�pico, at� que em 2 de setembro foi transferido para o HC/UFMG, onde chegou a ficar internado em unidade de terapia intensiva (UTI) dois dias antes de morrer.
“A rapidez foi um choque muito grande para todos n�s; um baque na fam�lia inteira. Ele era um menino saud�vel. Nunca teve nada. O sentimento que fica � de que a rede de sa�de n�o est� preparada. Os profissionais precisam prestar mais aten��o �s informa��es. Ouvir o que os pais est�o falando � muito importante”, destacou Desir�e.
PRESS�O Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o infectologista Una� Tupinamb�s tra�a um panorama da situa��o. Na avalia��o dele, n�o h� um quadro de enfraquecimento da rede de sa�de, mas um problema geral. “Vivemos recentemente uma epidemia de gripe H1N1, inclusive com aumento de mortalidade, e ainda enfrentamos uma epidemia de dengue, zika e chikungunya. Portanto, o sistema de sa�de fica todo mobilizado para essas grandes doen�as. As equipes n�o ficam concentradas em um diagn�stico raro”, afirma. Segundo ele, por isso, talvez seja dif�cil fazer a identifica��o precoce de uma doen�a cuja �ltima morte foi registrada em 2013.
Para o especialista, no entanto, o prazo de uma semana, at� se chegar � suspeita da doen�a, � tempo demais. “Mas logicamente que, diante dessa situa��o, as redes de BH e regi�o metropolitana dever�o estar atentas quanto a esse diagn�stico. E, com certeza, n�o teremos �bitos pela doen�a nos pr�ximos anos, porque o tratamento � efetivo e a medica��o � fornecida pelo Sistema �nico de Sa�de”, afirma.