
“Estava trabalhando, tinha muitas entregas de comida para fazer. Assim que come�ou a chover, parei debaixo de uma marquise, peguei minha capa e segui adiante. Na Cidade Nova (Regi�o Nordeste), nas imedia��es da Avenida Cristiano Machado, a �gua descia com muita for�a. O pior de tudo foi receber tanta fechada no tr�nsito. Nessa situa��o, os motoristas jogam o carro para cima da gente sem o menor respeito”, reclamou Nilton.
No Bairro Prado, na Regi�o Oeste, � dif�cil encontrar algu�m que n�o tenha um caso relacionado � chuva para contar. O trabalhador da constru��o civil D�rperon Alves dos Santos, de 32, morador da Avenida Francisco S�, estava ontem na lanchonete em frente � sua casa quando o temporal se intensificou. Como o hist�rico da regi�o � problem�tico, ele costuma ficar atento. “N�o demorou muito e come�aram a descer carros com a enxurrada. Um vinha batendo no outro. De imediato, corri para pegar minha moto e a de um desconhecido, para guardar na garagem. Foi muito dif�cil”, contou.
MAU CHEIRO E RATOS A garagem, ao lado da lanchonete, ainda tem marcas do temporal da noite de domingo. H� garrafas ca�das, mesas derrubadas e muita sujeira. “Vamos ter que limpar logo, pois mora gente nos fundos”, disse D�rperon. “A �gua da enchente fede muito. Pouco depois da chuva, passou aqui um comerciante com um saco cheio de ratos. Os bichos foram saindo das tocas por causa da �gua e o homem foi matando alguns”, disse o trabalhador.
A cabeleireira Kayndri Evelly, que trabalha em outra lanchonete, tamb�m n�o se esquece do sufoco. “Ao ver confus�o na Francisco S�, comecei a gritar. Um rio se formou na pista e os carros estavam descendo desgovernados, ent�o falei com uma mulher para n�o atravessar, pois a correnteza era forte”, disse ela, lembrando que, no ano passado, uma mulher morreu em situa��o semelhante. “D� medo, desespero. Com tal rapidez e intensidade, nunca vi nada assim”, resumiu.
O gar�om Marcos Ant�nio da Silva, morador da Rua C�ssia, no mesmo bairro, s� viu chuva igual h� dois anos. Mesmo com a tempestade, ela saiu de casa e foi ajudar familiares que tiveram a padaria invadida pela lama. “Aqui � assim: choveu, j� era”, afirmou. Perto dali, na esquina das ruas Jaceguai e Er�, o gerente do Bar do Paul�o, Paulo de Souza J�nior, mostrou a melhor defesa contra um inimigo eterno. “Tivemos que instalar comportas nas quatro entradas. A equipe est� treinada, � preciso fechar tudo nos momentos de muita �gua”, contou. Ele acrescentou que os funcion�rios da noite gravaram imagens assustadoras no celular. “Os carros costumam bater na parede aqui do bar. Assim, a comporta protege”, ressaltou o comerciante, queixando-se da falta de provid�ncias para dar um basta �s inunda��es.
ENCHARCADO Morador do Bairro Jaragu�, na Regi�o da Pampulha, M�rcio Barbosa Ramalho seguia para a igreja que frequenta quando um amigo pediu sua ajuda, j� que parte da cobertura da casa dele tinha ca�do. “Tive que caminhar 12 quarteir�es debaixo daquele chuv�o. Fiquei encharcado, mas ainda deu tempo de voltar e ir � igreja”, contou, ao lado dos dois filhos adolescentes. “N�o deu medo, mas essas situa��es s�o dif�ceis para os motoristas. Pode cair uma �rvore sobre o carro, a gente pode se acidentar e, pior, ficar preso em um bueiro. A cautela, ent�o, deve ser redobrada”, disse M�rcio, que � dono de um sal�o de beleza no Bairro Sagrada Fam�lia.
Um motorista que preferiu n�o se identificar contou que ia da rodovi�ria para casa, no Bairro Cidade Nova, e sentiu muito medo. “Era tanta �gua que nem o desemba�ador funcionava. Fiquei dirigindo com a m�o direita e passando flanela no para-brisa com a esquerda. No t�nel da Lagoinha, vi v�rios carros parados. Achei que estivesse tudo tranquilo, mas a chuva apertou na Avenida Jos� C�ndido da Silveira. Na garagem do meu pr�dio, estava tudo alagado. Realmente, um domingo para n�o se esquecer”, disse.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
M�rcio Baptista, professor do Departamento de Engenharia Hidr�ulica e Recursos H�dricos da UFMG
Mais verde e menos cimento
“Belo Horizonte est� implantada, em especial a Regi�o Sul, em �rea de topografia dif�cil e de declives elevados.Tamb�m h� processo crescente de impermeabiliza��o do solo. Diante de um cen�rio de planejamento inadequado, topografia dif�cil e impermeabiliza��o crescente, a m�dio prazo a cidade n�o ficar� livre das inunda��es e alagamentos. As obras ajudam a melhorar, mas n�o evitam tudo. Seriam interven��es de muito vulto para controlar tudo, o que estouraria o or�amento do munic�pio. O que precisa ser feito s�o provid�ncias para minimizar os problemas e uma mudan�a na estrutura construtiva, aumentando as �reas de permeabiliza��o do solo e prevendo t�cnicas compensat�rias. Tanto interven��es privadas quanto p�blicas devem deixar �reas verdes em vez de cimento. Outra solu��o � construir telhados verdes. Para o pr�ximo per�odo chuvoso, deve ser feita a manuten��o e a limpeza dos condutos, al�m de se alertar � popula��o sobre �reas de risco.”