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Estado de Minas

Fam�lias d�o a receita de devo��o que une parentes em torno da f� em Nossa Senhora

Da sa�de ao emprego, todos os pedidos s�o dirigidos � sagrada protetora


09/10/2016 06:00 - atualizado 09/10/2016 07:30
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Cecília, de 3 anos, acompanha os pais, o tio e a avó em orações, pedidos e agradecimentos diante do altar de Nossa Senhora da Piedade: tradição e fervor que se perpetuam
Cec�lia, de 3 anos, acompanha os pais, o tio e a av� em ora��es, pedidos e agradecimentos diante do altar de Nossa Senhora da Piedade: tradi��o e fervor que se perpetuam (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS )

Caet� – O vento frio da tarde crispa a pele, as nuvens escuras parecem encostar no ch�o e, �s vezes, uma leve camada de neblina esconde a ermida do s�culo 18, guardi� da imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). � nesse clima de in�cio de tarde, perto do come�o da missa das 15h, que uma fam�lia de Itabira, na Regi�o Central, chega ao topo da Serra da Piedade. “Sempre que estamos voltando para casa, vindo da capital, fazemos quest�o de passar por aqui”, conta Lamartine do Nascimento, ao lado da mulher, C�cera Talita Barbosa, da filha de 3 anos, Cec�lia, da sogra, Lourdes da Cruz Barbosa, e do irm�o dela, Paulo da Cruz Barbosa, o �nico do grupo que mora em Santa Luzia.

Visitas como a da fam�lia de Itabira s�o permanentes na Serra da Piedade que, em 2017, vai celebrar 250 anos de peregrina��o. Pouco antes de come�ar a celebra��o eucar�stica, o grupo se aproxima da imagem barroca e n�o esconde a emo��o. “� a primeira vez que chego t�o perto”, revela Lamartine. Seguindo a tradi��o cat�lica da fam�lia, a pequena Cec�lia fica de m�os postas, lan�ando o olhar em dire��o ao altar-mor, no qual est� o Cristo deitado no colo da m�e. Depois, a menina constata, falando baixinho com os pais: “Est� saindo sangue dele”.

“A devo��o vem de longa data, foi passando de pai para filho. Temos que mant�-la”, observa a av� da garota, que tem muito a agradecer � santa protetora. “Nossa Senhora da Piedade me ajudou a comprar minha casa. Agora, vim aqui refor�ar um pedido, pois preciso vender um terreno”, conta Lourdes. “Cumpro a promessa e venho agradecer.” Para C�cera, tudo o que aprendeu deve ser transmitido � filha, fazendo mover, com o amor a Deus, a ciranda familiar da f�.
Nilda de Almeida, com a filha Alyne e a imagem da padroeira: 'Pede à Mãe que o Filho atende'
Nilda de Almeida, com a filha Alyne e a imagem da padroeira: "Pede � M�e que o Filho atende" (foto: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS)

Devoto de Nossa Senhora da Piedade e de S�o Jos�, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, explica que “Maria � a disc�pula mais perfeita do Senhor, seu filho”. Segundo ele, “em Maria se d� a m�xima realiza��o da viv�ncia crist�, a obedi�ncia � vontade de Deus, medita��o constante da palavra e a��es de Jesus”. “Deus quis uma m�e para o Seu Filho e, assim, em Maria, realiza-se a mais completa express�o da obra da cria��o, quando, coberta pela invis�vel presen�a amorosa do Esp�rito Santo, torna-se a m�e do Salvador do mundo”, acrescenta.

Dom Walmor conta ainda que “Nossa Senhora caminha com Jesus, acompanhando-o no seu crescimento, de modo exemplar, no desempenho pedag�gico de quem foi escolhida para ser a m�e de nosso Mestre e Senhor”. O Documento de Aparecida, ressalta, recorda que Maria � a primeira integrante da comunidade dos que creem em Cristo, e tamb�m se faz colaboradora do renascimento espiritual dos disc�pulos. “Ela viveu completamente toda a peregrina��o da f�, como m�e de Cristo e depois dos disc�pulos. Por isso, a devo��o mariana, em tantos lugares, a partir dos muitos t�tulos dedicados a Nossa Senhora, a exemplo da padroeira de Minas Gerais, Nossa Senhora da Piedade, � um dom de Deus. Maria, m�e e disc�pula exemplar, nos ajuda a seguir Jesus Cristo, mostrando que o Mestre � o centro das nossas vidas, nosso Salvador e Senhor”, diz o arcebispo.

BARRIGA DA MAM�E Durante todo o per�odo de gravidez, a empres�ria Lucinara In�cio de Lima, moradora de Caet�, seguiu um ritual com o marido, Manuel. “Desde o momento em que soubemos que eu seria m�e, ele passou a se ajoelhar e rezar todos os dias sobre minha barriga”, conta a devota de Nossa Senhora Aparecida e de Nossa Senhora da Piedade. Como resultado est� a menina Marina Alves Lima Vicente, de 11 anos, que segue o caminho dos pais em devo��o.

O despertar da menina para a religi�o ocorreu pelas m�os de uma prima da m�e, que a convidou para ir � igreja. “Ela come�ou a se sobressair dia ap�s dia, mas nunca interferi”, afirma Lucinara. A exemplo de Cust�dia Gon�alves de Queiroz, de 100 anos, devota de Nossa Senhora Aparecida, a empres�ria est� certa de que o maior milagre � o da vida. E lembra que, quando a filha tinha 5 anos, esteve prestes a operar de adenoide. “Rezei muito para que nada de mau ocorresse e tive grande surpresa ao ouvir da m�dica que a cirurgia n�o precisaria mais ser feita. Foi uma grande b�n��o”, diz Lucinara.

 

Com a vela acesa, Cust�dia Gon�alves de Queiroz segue � frente de uma pequena prociss�o familiar no corredor que vai do quarto � sala. Perto da televis�o est� outro cantinho que re�ne os parentes, juntando s�mbolos religiosos e a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que traz no manto azul algumas marcas do tempo. “Nossa fam�lia � grande, tem mais de 80 pessoas, e aqui sempre tem a reza do ter�o. Uma vez por m�s, � na casa de um parente”, conta o neto Geraldo. Para a matriarca, a satisfa��o � imensa. “Fam�lia � tudo. Al�m dos meus nove filhos, criei cinco netos, filhos da minha filha mais velha, que morreu cedo. A gente tem os filhos, mas quem cria � Deus”, afirma, com sabedoria e sem sinais de preocupa��o. Ap�s um segundo de sil�ncio, ela proclama, sem medo: “Aqui em casa n�o existe problema”.

 

Gera��es diante de um mesmo altar

Olhando para a filha Isabella, Geraldo revela que ela nasceu “gra�as �s ora��es a Nossa Senhora Aparecida”, uma vez que a mulher teve duas gesta��es malsucedidas. “� a for�a da f�”, resume. Os bisnetos ouvem os ensinamentos de Cust�dia e Guilherme recorda que, quando fez uma cirurgia nos olhos, a “bisa” rezou para Santa Luzia – protetora da vis�o e tamb�m presente no altar dom�stico, em um quadro. “A devo��o � importante em todos os momentos da vida”, observa Isabella, em total harmonia com a irm� Ana Clara. Atenta � conversa, Cust�dia diz que reza todos os dias para Deus iluminar os “chefes” (de governo), pois o Brasil est� muito ruim e as fam�lias vivem desnorteadas.

Família de Custódia de Queiroz acumula graças ligadas à devoção
Fam�lia de Cust�dia de Queiroz acumula gra�as ligadas � devo��o (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)

Na despedida, n�o poderia faltar a pergunta: “Qual o segredo de se viver 100 anos com tanta disposi��o?”. A matriarca sorri e Raimunda entrega: “Mam�e � louca por torresmo”. O riso � geral e vem o arremate. “E ela n�o tem problema de colesterol nem de cora��o, viu?”, orgulha-se a filha.

CARAVANAS Que a f� move montanhas e remove uma s�rie de obst�culos, nunca teve d�vidas a dona de casa Nilda Martins de Almeida, casada e m�e de Alyne, de 24, formada em tecnologia de produ��o, e Tatiane, de 28, com diploma de enfermagem, moradoras do Bairro Milion�rios, na Regi�o do Barreiro, em BH. Feliz na sua devo��o, ela ressalta: “Meu maior orgulho � minha m�e ter me ensinado o amor a Nossa Senhora Aparecida”.

Na estante da sala, ao lado da filha Alyne, ela mostra o retrato da m�e, Lourdes, falecida h� tr�s anos, e conta que, um ano antes de morrer, ela conseguiu manter o costume familiar de, no m�s de outubro, levar os 10 filhos a Aparecida (SP). “Foi realmente um milagre, pois ela j� estava doente. Mesmo assim, vestimos a camisa da caravana e fomos juntos”, conta a dona de casa, que segura, com a filha, a imagem da protetora.

Olhando a padroeira, Nilda repete a frase que tem sido estrela-guia na vida. “Pede � M�e que o Filho atende”, o que significa rogar a Nossa Senhora e obter as gra�as de Jesus Cristo. “Desde solteira tenho f�. Ouvi muito a R�dio Aparecida e recordo-me do padre Vitor dizendo: ‘Os ponteiros apontam para o infinito. S�o 12h...’”, relembra Nilda, com um sorriso que ilumina o rosto. Desempregada, a exemplo da irm�, Alyne espera conseguir logo um trabalho. Para isso, claro, tem rezado. “Tenho marcada uma entrevista. Estou confiante”, segreda a jovem, com uma ressalva: “N�o gosto de pedir e sim de agradecer”.


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