
O delegado da Homic�dios Lu�s Ot�vio Mattozinhos instaurou inqu�rito e ouviu ontem o seguran�a Gleison Alexandre dos Santos, de 42, que trabalhava na hora do jogo e teria imobilizado Eros quando ele tentava mudar de setor no est�dio, ao lado de outro cruzeirense. O agente foi ouvido e liberado. Testemunhas tamb�m prestaram depoimento � Pol�cia Civil, que n�o divulgou o teor das informa��es para n�o prejudicar as investiga��es.
Duas testemunhas, um homem e uma mulher, disseram � PM que presenciaram o torcedor ser abordado por dois seguran�as. Segundo eles, Eros foi agredido por Gleison, que teve apoio do colega para levar o torcedor para dentro de uma sala, onde teriam permanecido por cerca de 15 segundos. As testemunhas disseram que o torcedor saiu de l� carregado pelos seguran�as, j� desacordado. N�o h� consenso, por�m, em rela��o ao tempo em que o rapaz esteve no c�modo. Outras pessoas relataram � PM que o homem ficou cerca de cinco minutos no local, de onde saiu inconsciente.
Em depoimento � PM, Gleison alegou que foi agredido e que reagiu usando de for�a f�sica ao tentar impedir os torcedores de invadir um setor. Segundo relato do boletim de ocorr�ncia, Eros foi mobilizado pelo seguran�a e come�ou a passar mal. De acordo com a Pol�cia Militar, o torcedor foi levado para atendimento no posto m�dico do Mineir�o. Depois, foi transferido para o Hospital Odilon Behrens, onde j� chegou sem vida, �s 23h07, com m�ltiplos traumas, segundo a Secretaria Municipal de Sa�de. O paciente foi transportado em uma ambul�ncia privada que atende no est�dio. A morte foi oficialmente declarada �s 23h16, segundo a secretaria.
A Minas Arena, empresa respons�vel pela gest�o do Mineir�o, divulgou nota lamentando o epis�dio e informando que “se solidariza com a fam�lia do torcedor nesse momento de dor”. Disse, ainda, que “a concession�ria, que administra o est�dio tem total interesse no esclarecimento do assunto de forma s�ria e verdadeira”.
A empresa Prosegur, para quem os seguran�as trabalham, tamb�m divulgou nota lamentando o ocorrido. “A companhia ressalta que est� colaborando com as autoridades na investiga��o dos fatos”, diz o texto. A diretoria do Cruzeiro se manifestou declarando que “viu com grande tristeza a not�cia sobre a morte do torcedor”. “O clube est� acompanhando de perto os esclarecimentos do fato, para que toda a sociedade possa ser informada sobre os motivos que levaram nosso torcedor a �bito”, informou.
De acordo com o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG), Eros tinha passagens pelo Juizado Especial Criminal por contraven��o. Em uma a��o penal ainda em fase de inqu�rito, respondia por les�o corporal em decorr�ncia de viol�ncia dom�stica, acusado de agredir uma mulher.
Organizada
Segundo integrantes da torcida organizada Pavilh�o Independente, da qual Eros era integrante, a confus�o come�ou depois que ele tentou mudar de setor no est�dio, lotado durante o jogo que bateu recorde de p�blico em partidas entre clubes, com 50.715 pagantes. “N�s sempre ficamos no setor laranja, atr�s de um dos gols. Mas, por causa da grande procura de ingressos, ele n�o conseguiu comprar o bilhete para l�. Conseguiu o do setor vermelho, que fica em cima. Durante o jogo, tentou passar para baixo e se envolveu na confus�o com os seguran�as”, explica Leonardo Barreto, de 33, um dos diretores da agremia��o.
O tumulto se estendeu para �reas internas do est�dio, segundo Barreto. “Os seguran�as levaram ele para uma salinha que tem em um ponto cego do est�dio e pouco tempo depois o Eros apareceu no corredor, j� ca�do e passando mal”, contou. O torcedor afirma que o caso pode ter rela��o com uma briga que aconteceu no jogo entre Cruzeiro e Corinthians, na semana passada. “Alguns integrantes da Pavilh�o brigaram e os seguran�as foram apartar. Por�m, todos se voltaram contra eles”, comentou.
Os torcedores cobram justi�a e investiga��o do epis�dio. “Queremos que tudo seja esclarecido, pois ele sofreu v�rios traumas no corpo. Pode ter sofrido um infarto depois, mas por causa dessas les�es”, disse. “N�o estou falando que o Eros estava certo ou errado, mas o que os seguran�as deveriam ter feito era retir�-lo do est�dio ou entreg�-lo � pol�cia. Isso seria o correto”, completou o diretor da Pavilh�o Independente.
O corpo de Eros ser� enterrado hoje, no fim da tarde, no Cemit�rio da Saudade, na Regi�o Leste de Belo Horizonte. Torcidas organizadas prometem homenagens para se despedir do colega.
Mem�ria
Outras duas v�timas dentro do est�dio
Palco de cl�ssicos em Minas e duelos entre sele��es ao longo de seus 51 anos de exist�ncia, o Mineir�o teve pelo menos outros dois epis�dios de mortes, ambos resultantes de brigas entre torcedores. O primeiro ocorreu no intervalo de jogo entre Cruzeiro e Vasco, que terminou empatado por 0 a 0, em 7 de outubro de 1997, pelo Campeonato Brasileiro. Atingido no abd�men por uma bomba de fabrica��o caseira, o adolescente Claudemir da Silva Reis, de 15 anos, morreu dias depois. Ele torcia para o Atl�tico e estava com outros atleticanos em meio a cerca de 150 vasca�nos. Segundo a Pol�cia Militar, as torcidas advers�rias estavam trocando insultos, separadas por um cord�o de isolamento a uma dist�ncia de 25 metros, no anel externo das arquibancadas, quando um torcedor do time do Cruzeiro teria jogado a bomba. Socorrido, Claudemir foi levado ao Hospital Jo�o XVIII. Na �poca, a Justi�a condenou quatro acusados e determinou que a M�fia Azul indenizasse a fam�lia do torcedor em mil sal�rios m�nimos. O outro caso ocorreu em 2007, no segundo jogo da final do Campeonato Mineiro de 2007 entre Atl�tico e Cruzeiro – apesar da vit�ria da Raposa por 2 a 0, o Galo terminou com o t�tulo, j� que havia vencido o primeiro duelo por 4 a 0. O atleticano Ronaldo Pedro Ferreira, de 23 anos, tinha ingresso para a �rea alvinegra do Mineir�o, mas acabou entrando por um dos port�es de acesso celeste. Cinco torcedores rivais agrediram o rapaz, que bateu a cabe�a no ch�o e sofreu traumatismo craniano, morrendo em seguida. Somente um dos agressores foi preso. (Roger Dias)