
Na Avenida Perimetral, no Barreiro, o grupo de passageiros que embarcam pela porta de tr�s sem pagar � variado e inclui jovens e pessoas mais velhas, estudantes e trabalhadores, mulheres com beb�s no colo ou puxando o filho pelo bra�o. Ali, a estrat�gia para entrar � formar uma aglomera��o e se afunilar �nibus adentro. Na Savassi (Regi�o Centro-Sul), onde o EM tamb�m flagrou casos de invas�o a coletivo da linha 2101 (Graja�/Sion), a t�tica para entrar sem pagar � se posicionar no rumo da porta de tr�s, subir correndo quando o acesso se abre e sentar nas cadeiras mais ao fundo do ve�culo, para dificultar rea��o do agente de bordo. No ponto da Avenida do Contorno, altura do nº 6.777, a reportagem flagrou sobretudo jovens entrando no �nibus.
A notifica��o dessas situa��es � muito pequena. Segundo a BHTrans, houve 116 reclama��es de passageiros por casos do tipo este ano, contra 80 no ano passado, alta de 45%. Um motorista da linha 302, que pediu para n�o se identificar por temer retalia��es, diz que ele e o agente de bordo s�o amea�ados se tentam tomar alguma provid�ncia quando algu�m entra sem pagar. “A gente abre a porta para as pessoas descerem e sobe aquele bando todo. Se falar alguma coisa, eles nos xingam e amea�am de agress�o”, afirmou.
Usu�rio do sistema de transporte p�blico, o auxiliar de escrit�rio Jorge dos Santos, de 30 anos, reclama das sucessivas invas�es. “A gente vai desembarcar e sobe aquele tanto de gente te empurrando, parece uma boiada”, disse. “Quem paga a passagem com o suor do trabalho fica parecendo bobo, mas ningu�m faz nada e isso s� vai aumentando”, acrescentou.

CONSEQU�NCIAS Para o engenheiro Silvestre de Andrade Puty Filho, especialista em transporte e tr�nsito, o problema � cultural. Mas ele alerta que, se n�o for resolvido, cria uma espiral de preju�zos. “Quando temos evas�o, menos pessoas pagam, mas os servi�os continuam com os mesmos. Essa arrecada��o menor pressiona o custo da tarifa. Com o aumento, encarecemos o custo do trabalhador e deixamos de ter empregos. Sem empregos, menos renda e mais evas�o: um c�rculo vicioso”, definiu.
Uma das formas de coibir isso, segundo Puty Filho, seria instalar mais c�meras nos �nibus e ampliar a fiscaliza��o. “As pessoas n�o podem impor suas vontades acima das leis e da sociedade ou voltaremos � barb�rie”, opinou. Uma tentativa recente de ampliar a fiscaliza��o, por�m, teve de ser revista. No m�s passado, em Venda Nova, grupos depredaram janelas, bancos, roletas e lataria de cinco �nibus da Linha 607 (Esta��o Vilarinho/ Esplendor), depois de a empresa decidir circular com fiscais. Depois dos ataques, a decis�o foi revogada.
Na avalia��o do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), os motivos para a evas�o ter chegado a esse ponto s�o “vandalismo, desonestidade e impunidade”. A entidade cobra medidas de for�as de seguran�a p�blica. “As empresas fazem fiscaliza��es nos ve�culos, para inibir a a��o de v�ndalos, mas n�o t�m – e n�o podem ter – poder de pol�cia. Motoristas, agentes de bordo e fiscais s�o orientados a n�o reagir e a comunicar o fato � primeira autoridade policial encontrada”, informou o sindicato, por meio de nota.
Para o movimento Tarifa Zero, a evas�o � reflexo dos altos custos do sistema. “BH tem aumentado as tarifas e a popula��o n�o tem conseguido acompanhar com o or�amento. Por isso, a perspectiva � que aumente (a evas�o)”, disse Cl�cio Cunha Mendes, integrante do movimento. “Uma solu��o seria o subs�dio do Estado �s passagens, algo que j� ocorre em Londres e em Buenos Aires, por exemplo”, acrescentou.
O Comando do Policiamento da Capital, da Pol�cia Militar, opinou por meio de nota que o problema � mais um caso de educa��o que de pol�cia e apontou falta de registro de ocorr�ncias. “Em grande parte das vezes (…) a Pol�cia Militar n�o � acionada, pois para a empresa n�o � vantajoso perder um funcion�rio para o registro da ocorr�ncia”, informou a corpora��o. Quando a PM flagra essas condutas, leva o autor � delegacia por crime, previsto no artigo 176 do C�digo Penal, de “utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos”, com puni��o de 15 dias a dois anos de pris�o. Se a pessoa tiver dinheiro para a passagem, pode ser enquadrada por estelionato, punido com pris�o de um a cinco anos e multa.