
A crise carcer�ria que ocorre em Manaus, em parte, traz algumas coincid�ncias j� vividas em Minas Gerais, em especial no ano de 1985, quando do epis�dio de mortes em celas de delegacias. Tanto que, na �poca, o Departamento de Investiga��es (DI) passou a ser chamado “Inferno da Lagoinha” e a Delegacia de Furtos e Roubos, “Inferno da Floresta”, numa refer�ncia aos bairros onde estavam localizados. O epis�dio, que ficou conhecido por “Ciranda da morte”, se espalhou pela rede carcer�ria, resvalando no interior, mais precisamente em Juiz de Fora, no Pres�dio de Santa Terezinha. A superlota��o carcer�ria e o descaso do poder p�blico para com os problemas criminais foram as principais causas das trag�dias, reportadas pelo Estado de Minas, o que lhe garantiu o Pr�mio Esso Regional daquele ano.
Por consequ�ncia, as cadeias de delegacias ficavam superlotadas, pois n�o havia lugar para mandar os presos condenados, j� que os pres�dios tamb�m estavam cheios. Como se n�o bastasse, uma rebeli�o em Neves, no in�cio de 1985, fez com que os presos apontados como l�deres, cerca de 50, fossem transferidos para o DI e a Furtos e Roubos, transformando os locais em dep�sitos de presos, que, por sua vez, ficaram conhecidos como bomba-rel�gio. Sempre que tomavam conhecimento de algum movimento em outras delegacias ou penitenci�rias, os presos do DI e da Furtos e Roubos se rebelavam. Ao saberem de uma primeira morte em Juiz de Fora, os encarcerados passaram a reivindicar o direito de transfer�ncia, por�m, sem sucesso, j� que n�o havia para onde ir (a superlota��o era comum a todas as unidades).
Bilhetes de amea�as de mortes come�aram a ser encontrados nas alas onde ficavam as celas dos dois dep�sitos (Lagoinha e Floresta). Neles, os presos anunciavam que haveria uma morte por dia e que a escolha da v�tima seria por um jogo de palitinhos. Quem tirasse o menor estaria marcado para morrer. Foi assim que o ent�o detento Deusdedith Marques Marx Rodrigues escapara da morte. “Restaram dois palitinhos e eu era o pen�ltimo. Tirei o meu e n�o era o menor. O Edson Rodrigues Silva, que ficara por �ltimo, morreu”, contou.
ANJO DA MORTE Os presos passam a conviver com o terror. Um homem que nem deveria estar preso, pois tinha sido detido depois de uma briga na zona bo�mia de BH, Severino Ferreira Lima, virou o terror da cadeia. De pacato cidad�o se transformara no principal executor, o que lhe rendera o apelido de “Anjo da Morte”. Assim, ele ganhou o respeito da comunidade carcer�ria, passando a ser temido por todos. Mais tarde, por�m, � diagnosticado como sendo esquizofr�nico e acaba transferido para o Manic�mio de Barbacena.
Detalhes noticiados na �poca deixaram claro o descaso do poder p�blico para com o sistema penitenci�rio. Em Juiz de Fora, por exemplo, das cinco mortes registradas, quatro foram por facadas e dentro das celas. S� um preso, Gilberto Steikofp, cometeu dois homic�dios em dois dias. Matou suas v�timas a facadas. As perguntas eram: “Como as facas foram parar dentro da cela? Por que o assassino teria voltado ao conv�vio com os demais presos?. J� em BH, al�m de as mortes ocorrerem por sorteio, os presos usavam uma arma chamada “teresa” – feita com tiras de panos, mais precisamente cobertores – para estrangular as v�timas.
A sequ�ncia de mortes chamou a aten��o das autoridades. Um grupo de deputados estaduais – Jesus Trindade Barreto, Paulo Almada, Jos� Maria Vaz Borges e Hugo Campos – visita a Lagoinha e fica estupefato com o quadro que encontra. Eles prometem uma CPI, que nunca saiu do papel. Mas a visita dos promotores p�blicos Castelas Modesto Guimar�es Filho, Francisco Del-Corsi Campos, Ant�nio Lopes Neto, Clodesmith Riani, Ant�nio Jos� Leal, Darcy de Souza Filho, Armando Prates e Alencar Serr�o Neves acaba por dar mais resultado, pois eles passam a exigir provid�ncias por parte do ent�o governador H�lio Garcia. Por fim, depois de muita luta, os dois “infernos” foram fechados, pondo fim a meio s�culo de opera��o (1958-2008).