
No dia seguinte � divulga��o de um surto de febre amarela silvestre em v�rias regi�es do estado, Minas encara, agora, o desafio de imunizar a popula��o, manter dispon�veis os estoques de vacina, fazer os exames laboratoriais para an�lise de casos suspeitos e, principalmente, proteger moradores de �reas rurais. Ontem, muitos munic�pios dos vales do Mucuri e do Rio Doce, no Leste, foram palco de longas filas, com pessoas de todas as idades buscando o ant�doto para a doen�a, que, segundo dados das prefeituras e das superintend�ncias regionais da Secretaria de Estado da Sa�de, j� pode ter causado 23 mortes. A corrida pela vacina ocorreu tamb�m em Belo Horizonte, onde houve procura nos centros de sa�de.
No interior, as autoridades de sa�de est�o preocupadas com o avan�o da febre amarela, doen�a infecciosa grave, de alta letalidade. O mal � causado pelo flaviv�rus, o qual � transmitido ao ser humano pela picada do mosquito Haemagogus. “A situa��o � grave, merece aten��o especial, por isso � necess�rio intensificar a cobertura vacinal”, disse o m�dico-veterin�rio Gilberto Luiz Leonhardt, coordenador de Vigil�ncia Sanit�ria da Superintend�ncia Regional de Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, que agrega 32 munic�pios. O coordenador prefere n�o falar em n�meros de casos, j� que isso muda a todo momento devido ao n�mero de notifica��es.
Preocupado com a situa��o, o secret�rio municipal de Sa�de de Caratinga, no Vale do Rio Doce, Giovanni Corr�a da Silva, diz que o n�mero de casos pode ser maior do que o divulgado at� agora. “Estamos na base, depois � que os dados ser�o filtrados pela equipe da secretaria. At� agora, temos 63 casos notificados na nossa microrregi�o, com suspeita de oito �bitos em Imb� de Minas, Piedade de Caratinga e Ubaporanga, incluindo a de uma adolescente praticante de ecoturismo.
Embora n�o haja mortes com suspeita da doen�a em Caratinga, o munic�pio, que faz parte da superintend�ncia regional de Coronel Fabriciano, est� na lista de casos prov�veis da SES, com dois registros. Al�m de Caratinga, Imb� de Minas, Votuporanga e Piedade de Caratinga, est�o tamb�m Inhapim (1 caso) e S�o Domingos das Dores (1). J� na regional de Manhumirim, com 34 munic�pios, na Regi�o Leste, est� o munic�pio de Ipanema, com caso suspeito e um �bito � espera de confirma��o. Segundo uma funcion�ria, a vacina��o foi intensificada. “Estamos em alerta”, afirmou.
Calamidade Moradores de Ladainha vivem com medo por causa do avan�o da febre amarela na regi�o. O prefeito decretou situa��o de calamidade p�blica na sa�de devido ao n�mero de casos da doen�a no munic�pio, de aproximadamente 15,3 mil habitantes. Ontem, quando novamente as vacinas acabaram, milhares de pessoas lotaram um gin�sio para receber a dose, por�m, muitos tiveram de voltar para casa sem a medica��o.

No decreto, Walid afirma que a cidade e outras da regi�o passam por um “momento de apreens�o” em raz�o das evid�ncias de “surto de febre amarela’. Segundo o prefeito, o documento vai ajudar nas a��es previstas no munic�pio. “Conseguimos decretar estado de calamidade para ter ajuda do governo. Somente hoje uma equipe foi enviada para auxiliar em Ladainha. Nosso hospital � novo, moderno e bem equipado, mas n�o damos conta dos casos sozinhos”, explicou. Com o aumento de n�mero de casos, os moradores da cidade correm atr�s das vacinas. Por�m, as doses acabaram pelo segundo dia consecutivo.
Gin�sio vira local e imuniza��o
“Na segunda-feira, elas acabaram. Recebemos mais 2,2 mil vacinas para hoje (ter�a-feira). Foram mais de 3 mil pessoas ao gin�sio, onde estamos aplicando o medicamento. Por�m, tivemos que voltar com v�rias fam�lias. O povo de Ladainha est� euf�rico. Tivemos que pedir at� a Pol�cia Militar (PM) para avisar que tinha acabado a vacina. Cerca de 1,5 mil ficaram sem”, explicou o prefeito. Para hoje, Walid afirma que devem chegar entre 2,5 mil a 3 mil doses. “� a cidade com a situa��o mais cr�tica. Muita gente est� passando mal com todos os sintomas da doen�a. Temos seis moradores internados em Te�filo Otoni com suspeita de febre amarela. Outras tr�s est�o em Ladainha.”
O surto de febre amarela que atinge o interior tamb�m provoca aumento da procura por vacina nos centros de sa�de de Belo Horizonte. Apesar de a capital n�o ter casos suspeitos , a situa��o nos vales do Rio Doce e Mucuri fez muita gente conferir o cart�o de vacina��o e descobrir que a imuniza��o n�o estava em dia. Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de, a cidade est� preparada em caso de surto e h� estoque de vacina. O Centro de Sa�de Carlos Chagas, na Regi�o Centro-Sul, foi um dos mais procurados ontem por quem queria se imunizar. Segundo funcion�rios, o movimento era grande no in�cio da manh�. Por estar pr�ximo � �rea hospitalar, muitos pacientes vindos do interior do estado passaram pelo local.
Falta pontual Sobre a diverg�ncia em rela��o ao n�mero de casos repassados pelos munic�pios e os divulgados oficialmente pela SES, o �rg�o estadual informou que as cidades est�o repassando o n�mero de casos notificados em que h� suspeita da febre amarela, mas ainda sem confirma��o laboratorial, o que pode exigir algumas semanas. J� sobre o estoque de vacinas, todos os munic�pios est�o abastecidos e devem se organizar para solicitar o quantitativo suficiente para a vacina��o, segundo a secretaria. “No entanto, pode haver falta pontual em alguns munic�pios, pois alguns n�o disp�em de estrutura para armazenar grande quantidade da vacina, uma vez que h� uma grande procura”, informou a SES, por meio de nota.
As doses do produto s�o oferecidas no calend�rio nacional do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e enviadas, mensalmente, para todo o pa�s. Em 2016, foram repassados aos estados mais de 16 milh�es de doses, sendo mais de 3 milh�es para o estado de Minas Gerais. O governo do estado garante que tem estoque suficiente para atender toda a popula��o e que, neste momento, conta com 300 mil doses em estoque e que, ontem, o Minist�rio da Sa�de enviaria mais 285 mil, totalizando 585 mil unidades de vacina.
TIRA-D�VIDAS
1) O que fazer para evitar a febre amarela?
A principal regra � se vacinar. A recomenda��o vale para as pessoas que residem nas �reas de infesta��o da doen�a ou viajam para regi�es silvestres, rurais ou de mata, que s�o �reas com Recomenda��o da Vacina contra febre amarela. A vacina � ofertada no Calend�rio Nacional do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e pode ser encontrada nos postos de sa�de. O uso de repelentes e mosquiteiros ajuda, mas a principal recomenda��o � se vacinar.
2) O que devo fazer se preciso viajar para uma das �reas de infesta��o no estado?
Se a pessoa n�o for vacinada, ela deve providenciar a atualiza��o do cart�o de vacinas e aguardar, no m�nimo, 10 dias para se deslocar com destino a uma �rea de risco. O produto � v�lido por 10 anos. Se n�o for poss�vel adiar a viagem por 10 dias, � preciso usar repelente nas �reas urbanas com risco de transmiss�o. N�o � recomend�vel ir a �reas rurais ou de matas nas localidades em alerta.
3) H� risco de transmiss�o em �reas fora das que tiveram registro de casos ou mortes?
A febre amarela urbana n�o � confirmada desde 1942, mas de acordo com especialistas, a presen�a do mosquito Aedes aegypti (que transmite a forma urbana) nas cidades, exp�e esses locais � ocorr�ncia dos casos, apesar de o risco ser baixo.
4) O que devo fazer se apresentar os sintomas da doen�a?
A orienta��o � que a pessoa procure um m�dico na unidade de sa�de mais pr�xima e informe sobre qualquer viagem para �reas de risco nos 15 dias anteriores ao in�cio dos sintomas, principalmente se realizou atividades em �reas rurais, silvestres ou de mata, como pescaria, acampamentos, passeios ecol�gicos, visita��o em rios, cachoeiras ou mesmo durante atividade de trabalho em ambientes silvestres. Tamb�m � importante informar a situa��o vacinal e data da �ltima vacina��o
5) Qual � o risco da febre amarela?
A maioria das pessoas melhora ap�s os sintomas iniciais. No entanto, cerca de 15% dos pacientes, ap�s o per�odo inicial da doen�a, apresentam sensa��o de melhora que dura de algumas horas a at� um dia e, ent�o, desenvolvem uma forma mais grave da doen�a. Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icter�cia (colora��o amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente a partir do trato gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insufici�ncia de m�ltiplos �rg�os. Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem forma grave da doen�a podem morrer.
Fontes: Secretaria de Estado de Sa�de e Sociedade Mineira de Infectologia
Mem�ria
Alerta no in�cio dos anos 2000
No in�cio da d�cada passada, a febre amarela silvestre ressurgiu, depois de d�cadas desaparecida da vida dos mineiros, pondo o estado em alerta. O resultado foi uma s�rie de �bitos, filas para vacina��o e cria��o de barreiras sanit�rias nas rodovias. Em agosto de 2000, o alvo foi o Norte. No ano seguinte, em mar�o, a popula��o de Belo Horizonte tomou precau��es e at� o Mineir�o (foto) se tornou posto de imuniza��o. Nesse mesmo m�s, houve campanha de vacina��o, com faixas em postos da Pol�cia Rodovi�ria. At� abril, o Noroeste e o Tri�ngulo foram os mais atingidos, al�m da Regi�o Central. Em 2008, a doen�a voltou a assombrar, e muita gente buscou a Funda��o Carlos Chagas, em BH, para se proteger contra a febre amarela.