Para ela, dois fatores agravam ainda mais o problema. “N�o temos no pa�s a cultura de conversar sobre a morte, ent�o, numa situa��o dessa, os parentes n�o sabem o que a pessoa desejaria. E h� ainda um mito social de que se pode tirar �rg�os com a pessoa ainda viva. � importante saber que h� um rigor grande na medicina para esses casos e protocolos de aferi��o a serem respeitados quando h� morte cerebral”, diz. Em se tratando de crian�as, as doa��es enfrentam ainda mais resist�ncia. “Est� na hora de rever a lei de doa��o, de modo a deixar expl�cito para o profissional de sa�de que se houver manifesta��o do paciente em algum documento, que prevale�a o desejo dele. Mas no caso espec�fico de crian�a isso n�o resolve. O que resolve � a conscientiza��o.”
Os n�meros confirmam o racioc�nio da advogada. Segundo a Associa��o Brasileira de Transplantes de �rg�os (ABTO), de 2014 para 2016 houve queda de 11,4% no total de doa��es de �rg�os efetivas em Minas, passando de 245 para 217. Tanto no Brasil quanto em Minas, a recusa dos familiares foi a principal causa da n�o concretiza��o das doa��es. No pa�s, esse �ndice foi de 43%, bem pr�ximo ao percentual mineiro, de 45%. A recusa familiar em autorizar o procedimento cresce desde 2009 no estado. Naquele ano, houve 74 recusas, que tiveram seu pico em 2014 (152). Em 2015, houve leve queda, com 116 recusas, e, no ano passado, outro aumento (139), segundo os dados da ABTO.
Em Minas, houve tamb�m redu��o de transplantes no ano passado em rela��o ao anterior de c�rnea, escleras, rim, cora��o e rim/p�ncreas. Houve aumento apenas nos procedimentos para substitui��o de medula �ssea, f�gado e p�ncreas, de acordo com o MG Transplantes.
No Brasil, embora a taxa de doadores de �rg�os e tecidos efetivos tenha crescido 3,5% em 2016, atingindo 14,6 pessoas por milh�o da popula��o (pmp), ficou ainda abaixo da previs�o para o per�odo, que era de 15,1pmp, e 3,4% inferior ao objetivo para o ano, segundo a ABTO. O n�mero de notifica��es de potenciais doadores em todo o pa�s chegou a 10.158, mas, desses, os efetivos foram apenas 2.981. Os 71% restantes n�o se tornaram doadores.
Em Minas, enquanto o n�mero de notifica��es chegou a 571, colocando o estado na sexta posi��o desse ranking nacional, as doa��es efetivas n�o passaram de 217, fazendo o estado cair uma posi��o. Do total de notifica��es, 62% foram n�o doadores. Quando considerado o n�mero de notifica��es por milh�o da popula��o, Minas ocupa a 19º posi��o, com 27,4pmp. Em doa��es efetivas, o estado sobe para a 11º lugar, com 10,4pmp.
CRIAN�AS O relat�rio da ABTO mostra ainda que, em 2016, 705 crian�as foram inscritas na lista de transplantes de �rg�os no Brasil. Foram transplantadas 527 (75%), n�mero que se mant�m nos �ltimos anos. Morreram na lista de espera 78 crian�as. Em Minas, 155 crian�as ingressaram na lista, sendo que uma faleceu. No estado, segundo a ABTO, foram feitos 22 transplantes de rim e seis de f�gado.
Considerando a taxa por milh�o da popula��o pedi�trica (pmpp), Minas ocupa a sexta posi��o entre os 15 estados que fizeram transplantes pedi�tricos de rim no pa�s ano passado, com 4,3pmpp, e a oitava posi��o entre as 10 unidades da federa��o que tiveram transplante de f�gado (1,2pmpp). Dados da associa��o mostram que em dezembro de 2016 havia 65 crian�as na fila de espera no estado, sendo 18 aguardando um novo rim e 47 por uma c�rnea.