Edif�cio Niemeyer passa por reformas depois de 20 anos

Um dos principais cart�es-postais de Belo Horizonte, desenhado pelo grande artista da arquitetura brasileira Oscar Niemeyer, finalmente come�ou a ter a fachada restaurada. A obra modernista com marquises em ondas que remetem a montanhas mineiras – um dos �cones do conjunto arquitet�nico e paisag�stico da Pra�a da Liberdade, na Regi�o Centro-Sul da capital mineira –, pedia socorro para corrigir os estragos feitos pelo tempo h� pelo menos cinco anos. Ap�s uma longa espera por patroc�nio, os moradores se cansaram e decidiram desembolsar a verba do pr�prio condom�nio para come�ar a limpeza da fachada e voltar a exibi-la como o modelo original.

Tombado como patrim�nio hist�rico nos n�veis municipal, estadual e federal, o edif�cio foi constru�do no in�cio dos anos 1950, depois da entrega � cidade do complexo da Pampulha, tamb�m de autoria de Niemeyer. Formado por 22 apartamentos, o edif�cio teve os primeiros dos problemas atuais detectados em 2011. Na �poca, a obra resultou em um or�amento caro, inacess�vel aos cond�minos, em torno de R$ 1 milh�o. A maratona teve in�cio depois que um projeto foi elaborado e enviado ao Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural de BH, ao Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG) e ao Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan).

Em 2012, o projeto de restaura��o das fachadas e �reas comuns do Edif�cio Niemeyer foi aprovado pelo Iepha e tamb�m pelo Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio de Belo Horizonte, no qual o instituto tem assento. Ap�s a aprova��o, o documento foi encaminhado ao Minist�rio da Cultura, para que o condom�nio pudesse se candidatar a benef�cio da Lei Rouanet e procurar um patrocinador na iniciativa privada.

Reinaldo da Matta Machado, s�ndico do edif�cio, conta que o pedido foi deferido em Bras�lia, mas n�o apareceu investidor interessado. Os moradores se cansaram de esperar e decidiram arcar com os custos com o caixa do pr�prio condom�nio, aprovando o or�amento de R$ 450 mil e iniciando a restaura��o neste m�s. “A maior dificuldade foi eu mostrar aos cond�minos que o sonho do patroc�nio via Lei Rouanet n�o iria se concretizar, assim consegui convencer  todos que n�s mesmos ter�amos de resolver o problema da fachada”, afirma. Para o s�ncido, nenhum interessado apareceu por causa da crise econ�mica do pa�s. “O projeto inicial inclu�a uma reforma mais completa, por exemplo, com a troca das janelas. Mas, no or�amento levantado na �poca ser�amos incapazes de arcar sem patroc�nio. Quando percebemos que a situa��o s� piorava e nenhuma verba seria inclu�da, decidimos fazer uma restaura��o com as quest�es mais urgentes”, afirmou Reinaldo.

O s�ndico explica que se trata de uma manuten��o geral da fachada, mantendo a originalidade do pr�dio. “O projeto engloba lavar o pr�dio, recolocar pastilhas e ladrilhos hidr�ulicos e acabar com os peda�os de fachada que caem do edif�cio. Havia o risco, at� mesmo, de queda de pequenos fragmentos em cima de um pedestre”, contou o administrador. As obras come�aram neste m�s e tiveram como ponto de partida a retirada de partes soltas. O s�ndico contou que �ltima recupera��o havia ocorrido pelo menos 20 anos atr�s. A obra atual deve levar de 10 a 12 meses para ser finalizada.

O morador Marcos Neves, de 66 anos, que vive no pr�dio desde a d�cada de 1960, conta que a restaura��o era um desejo de todos os cond�minos e comemorou o in�cio da obra. “Essa reforma � muito importante. Concordo com a condi��o de manter detalhes originais, pois o pr�dio � de BH. Vemos o Edif�cio Niemeyer em cart�es-postais, cat�logos, cart�es de �nibus... Mas n�o tivemos nenhuma ajuda. � tudo do nosso bolso, e n�o vai sair barato n�o”, disse o morador. Com orgulho, o integrante da terceira fam�lia a se mudar para o pr�dio diz: “� uma obra t�o bonita, que temos que preserv�-la para a cidade”.

Um tributo �s linhas curvas

Oscar Niemeyer (1907-2012) nasceu no Rio de Janeiro, mas foi em Belo Horizonte, especialmente na Pampulha, que fez seus primeiros projetos de repercuss�o internacional. Entre 1942 e 1944, o ent�o prefeito Juscelino Kubitschek o convidou para projetar o conjunto da Pampulha. Dez anos depois, o arquiteto projetou o famoso Edif�cio Niemeyer, localizado na Pra�a da Liberdade, Regi�o Centro-Sul de BH. As montanhas mineiras foram a inspira��o para as curvas do edif�cio, uma arquitetura considerada avan�ada para a �poca. Entrou para a hist�ria uma das frases de Niemeyer que resumem os tra�os de sua obra: “N�o � o �ngulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflex�vel, criada pelo homem. O que me atrai � a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu pa�s, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas � feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. O Edif�cio Niemeyer faz parte do conjunto arquitet�nico e paisag�stico da Pra�a da Liberdade, protegido por tombamento pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG) desde 1977, e integra o Conjunto da Obra de Oscar Niemeyer, que se encontra com processo aberto para prote��o na esfera estadual.