
Uma linda hist�ria de amor – com direito a longo tempo de paquera, ao primeiro beijo no port�o, a um rival apaixonado e a muitos filhotes – vai para as p�ginas de um livro dirigido especialmente �s crian�as e com emo��o suficiente para conquistar leitores de todas as idades. Trata-se do romance e das aventuras de Xerife, o vira-lata que, h� exatos dois anos, latia de paix�o por Ol�via Palito, pertencente a uma fam�lia do Bairro Prado, na Regi�o Oeste da capital, e rosnava feio para Kurt Cobain, animal de estima��o da casa e tamb�m enamorado da cadelinha.
Xerife morreu em 2018, deixou saudade e sua trajet�ria encantou a psic�loga, psicoterapeuta e escritora Clara Feldman, de Belo Horizonte, empenhada, entre 29 de maio de 2015 e 7 de maio de 2016, a recortar todas as mat�rias publicadas sobre o assunto no Estado de Minas.
“Li a primeira reportagem e achei que a hist�ria n�o poderia se perder. Ent�o, guardei o jornal, embora sem saber exatamente o que fazer”, conta Clara Feldman, em fase de arremate final do livro Xerife e Ol�via – Uma hist�ria de amor (t�tulo provis�rio), escrito em parceria com as netas Isabella Feldman, de 9 anos, e Ana Clara Feldman, de 7, e lan�amento, ainda sem data, pela Editora Miguilim.
As tr�s e o irm�o de Isabella, Leonardo, de 14, estiveram na casa da dentista Cleuza Azeredo Coutinho Ferreira e da filha, Tatiana, administradora, a fim de colher mais informa��es e conhecer Ol�via, os filhotes de dois anos Batman, Charlotte e Clarice, de uma ninhada de 11 (um morreu no mesmo dia), e Kurt Kobain, meio alheio ao grupo. “Ele sofre do cora��o”, explicou dona Cleuza, esclarecendo que o mal � f�sico e n�o uma paixonite aguda por Ol�via.
Dona Cleuza preparou um lanche gostoso, com past�is de carne, p�o de queijo caseiro e sucos de frutas, para receber as visitas. Com uma pasta contendo os recortes do jornal, Clara adiantou que a edi��o ter� ilustra��es a cargo da editora e fotos do Estado de Minas, que registrou os momentos emocionantes da hist�ria. “Essa reportagem mexeu com a cidade, tornou-se uma paix�o coletiva, e acho que o livro baseado em algo ver�dico vai interessar todo mundo, dos 8 aos 80, ou melhor, aos 100 anos”, observa Clara, com bom humor.
As netas levaram algumas perguntas escritas e entrevistaram Tatiana. Queriam saber mais detalhes sobre a rela��o amorosa entre Xerife e Ol�via, como foi a doa��o dos outros filhotes, se houve problemas com a vizinhan�a e pormenores, os quais foram respondidos com toda aten��o por Tatiana.
Um romance enternizado
“O livro � interativo. Em cada um dos 14 cap�tulos, estamos sempre fazendo uma pergunta ao leitor. Como n�o poderia faltar a uma hist�ria, mencionamos tamb�m um personagem misterioso, o ‘vizinho malvado’, que chamou a carrocinha da prefeitura para levar Xerife”, conta a autora, m�e de dois psic�logos e de uma veterin�ria, “que vive dizendo que temos muito a aprender com os animais”.
Ao ver as netas fazendo as perguntas, Clara tem a deixa para contar como nasceu o livro: “As meninas passam o fim de semana em minha casa, desde sexta-feira � noite. Ent�o, sentadas no ch�o, come�amos a contar a hist�ria e discutir alguns pontos. Se surgia uma palavra nova no texto, que as duas n�o conheciam, a exemplo de castra��o, pesquis�vamos, juntas, o significado. E dessas conversas nasceu a obra totalmente fundamentada e inspirada nas mat�rias”.
“Fico feliz em ver a hist�ria contada num livro. Ser� eternizada, ficar� para sempre”, acredita Tatiana, lembrando que Kurt Cobain, xod� da casa e com o nome em homenagem ao m�sico norte-americano (1967-1994) da banda Nirvana, pertencia � irm� e acabou ficando mais agarrado a ela. “Mas quando a Tatiana viaja, ele n�o sai de perto de mim”, avisa dona Cleuza, recordando que Ol�via sempre gostou muito de missa e foi na porta da igreja do Bairro Calafate, onde a fam�lia ia rezar, que a cadelinha foi encontrada. “Ela nos seguia. At� que um dia veio conosco para casa”, revela.

� interessante ver que, dois anos depois de a hist�ria ganhar as p�ginas do jornal, Ol�via, Kurt e seus filhos despertam a aten��o. Motoristas que passam na esquina da Rua Turquesa com a Avenida Francisco S� espicham o pesco�o para ver os c�es. “At� hoje recebo telefonemas por causa dessa hist�ria. Amigos de longa data voltaram a me procurar. Fico muito feliz, pois o assunto esteve nas escolas”, afirma dona Cleuza.
Ao lado, Clara confessa que sempre teve p�nico de cachorro, pois foi mordida por um aos 5 anos de idade. Mas quando a filha Tatiana, hoje veterin�ria ultrassonografista, completou 15 anos, a cadelinha Pipoca foi morar com a fam�lia. “Troquei o p�nico pela paix�o”, resume a psic�loga sobre a repentina afei��o ao bicho de estima��o. Na varanda, bem pertinho dos filhotes, Ana Clara e Isabella descobriram, de cara, que Clarice � “a mais boazinha” dos irm�os. “Charlotte gosta de ficar lambendo a gente”, comentou Ana Clara, no momento em que os filhos de Xerife j� estavam fazendo arte no port�o. “Ol�via � brav�ssima”, apontou Tatiana.
Uma triste li��o
Lembrando de Xerife, que morreu de c�ncer em 1º de maio de 2016, Tatiana ouve, das meninas, a pergunta final: qual a maior li��o desta hist�ria?. Sem titubear, ela conta que existe preconceito at� na hora da ado��o de animais. “� triste, mas as pessoas n�o querem cachorros pretos. Basta verificar isso nos locais de ado��o. � racismo.” Sil�ncio na sala, seguido de indigna��o.
Clara Felman fica impressionada com o relato e ressalta que, com tantos elementos, a hist�ria de Xerife e Ol�via d� de 10 no filme de anima��o A dama e o vagabundo (Lady and the tramp), lan�ado pelos est�dios Disney em 1955. “N�s, brasileiros, somos muito mais interessantes do que os estrangeiros em v�rios aspectos.” Ao escutar esse coment�rio e tamb�m o que o “amor canino” do Prado poder� ganhar, quem sabe, um dia, as telas do cinema, dona Cleuza sorri e balbucia: “Quem sabe!”.
“Naquela casa, moravam Ol�via e Kurt.
Kurt era apaixonado por Ol�via.
Ol�via n�o era apaixonada por Kurt (muita gente sabe o que � amor n�o correspondido... muito triste!).
Um dia, quando Ol�via estava no port�o, apareceu um belo c�o preto.
Ele morava na rua e deram a ele o nome de Xerife.
Ol�via ficou apaixonada por Xerife.
Xerife ficou apaixonado por Ol�via.
Kurt latia e rosnava para o rival.
Xerife passava o dia inteiro deitado no passeio esperando Ol�via aparecer.
Depois de uns dias de namoro, aconteceu o primeiro beijo – atrav�s da grade do port�o...”
Trecho do livro Xerife e Ol�via – Uma hist�ria de amor (t�tulo provis�rio),
de Clara Feldman, Isabella Feldman e Ana Clara Feldman