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Estado de Minas

Empres�rio declara amor a BH e planeja livro com hist�rias sobre rela��es humanas

Aos 88 anos, Agenor Nunes Guerra relembra o caminho trilhado na capital mineira e quer eternizar a experi�ncia garimpada na 'jazida' da vida


postado em 13/08/2017 06:00 / atualizado em 13/08/2017 08:38

Agenor exibe o sorriso de quem ama a vida ao lado de foto tirada com sua segunda esposa, a psicóloga Elizabeth:
Agenor exibe o sorriso de quem ama a vida ao lado de foto tirada com sua segunda esposa, a psic�loga Elizabeth: "Gosto de andar nas ruas, conversar com as pessoas. Sou um homem festeiro" (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
Os olhos de um azul intenso, brilhantes, j� viram muito da vida. E, pelo bom humor, coragem e determina��o do belo-horizontino de 88 anos, ainda v�o contemplar bem mais, tanto na cidade natal, que completa 120 anos em 12 de dezembro, e para a qual declara seu amor, quanto em outros cantos do mundo, especialmente Portugal.

“Quero viajar e conhecer ainda outros lugares”, revela, animado, o empres�rio Agenor Nunes Guerra, morador do Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul da capital, e dono de tantas hist�rias que se torna um pecado, para os rep�rteres, a hora de encerrar a entrevista. Diante de um c�lice de vinho do Porto, uma das paix�es, Agenor quer agora transformar em palavras parte do caminho trilhado e publicar um livro, embora sem data de lan�amento e t�tulo definido. O mais importante, acredita, � compartilhar experi�ncias e mostrar a grandeza “da maior jazida do mundo: as rela��es humanas”.

Na sala do apartamento, povoado de fotos do primeiro casamento com Marilene Bezerra Guerra, falecida h� 12 anos, que gerou sete filhos, e do segundo, com a psic�loga Elizabeth, Agenor decidiu que o relato vai come�ar pela ascend�ncia portuguesa, mais exatamente na localidade de Reigada, em Figueira do Castelo Rodrigo, fronteira com a Gal�cia, Espanha. “Meus olhos azuis v�m de l�”, confessa sorridente o filho dos portugueses Antonio Guerra e J�lia Nunes Guerra. O nome de J�lia � familiar aos belo-horizontinos – afinal, quem passa na Pra�a Sete, no Centro, na esquina das avenidas Afonso Pena e Amazonas, n�o fica sem ver o edif�cio denominado Dona J�lia Nunes Guerra.

A cita��o do pr�dio constru�do em 1983 � a senha para o advogado formado em 1953 na “Vetusta Casa de Afonso Pena”, como era chamada a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), recordar outras passagens memor�veis. Antes, no terreno nobre da Pra�a Sete, funcionaram lojas emblem�ticas para v�rias gera��es, como a Livraria Rex, a lanchonete Ted’s e a Bristol Cal�ados, de propriedade da fam�lia. “De todas, a que mais tenho saudade � da Rex. Quando jovem, dividia meu tempo entre o balc�o da livraria e a faculdade. Tenho a honra de ter atendido Juscelino Kubitschek (prefeito de BH, governador de Minas e depois presidente da Rep�blica), dona Sarah, mulher dele, as filhas Maristela e M�rcia, Milton Campos (jornalista, advogado e ex-governador de Minas), Hilton Rocha (m�dico oftalmologista) e o professor Djalma Guimar�es.


Na livraria, conta Agenor, ocorreu uma hist�ria vivida pelo pai, Ant�nio Guerra. Em 1936, quando BH tinha apenas 39 anos de funda��o, o escritor Ab�lio Barreto (1883-1957) procurou o ent�o governador Benedito Valadares (de 1933 a 1945) pedindo que ele publicasse, na Imprensa Oficial, seu livro sobre a hist�ria de Belo Horizonte. Ao ver o calhama�o, o governador disse “n�o”, acreditando que uma cidade com pouco tempo de funda��o n�o tinha tanto para contar. “Meu pai resolveu bancar e falou que, em cinco meses, o livro ficaria pronto. E encaminhou os originais � gr�fica Revista dos Tribunais, em S�o Paulo (SP). Assim foi publicada a obra Hist�ria de Belo Horizonte – Antiga e m�dia”.

O empresário em foto de família do primeiro casamento, com Marilene Bezerra Guerra, falecida há 12 anos, que gerou sete filhos(foto: Reprodução/Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
O empres�rio em foto de fam�lia do primeiro casamento, com Marilene Bezerra Guerra, falecida h� 12 anos, que gerou sete filhos (foto: Reprodu��o/Leandro Couri/EM/D.A PRESS)

MUNDO AFORA Agenor faz quest�o de voltar ao nome de Djalma Guimar�es (1894-1973), o engenheiro civil, de minas e metalurgia, considerado um dos mais importantes especialistas na �rea e geocientistas do Brasil no s�culo 20, que descobriu as jazidas de apatita (fosfato) e de pirocloro (ni�bio) em Arax�, na Regi�o do Alto Parana�ba. Na verdade, a riqueza mineral do Brasil � outra paix�o do empres�rio. O av� da primeira mulher, o desembargador Tomaz Salustino, era dono da Minera��o Breju�, no Rio Grande do Norte, produtora de schellita, mat�ria-prima do tungst�nio. Foi por meio do mineral que Agenor, cujo sonho era ser diplomata, conheceu o chin�s K.C. Li (1887-1961), fundador da Wah Chang Corporation, nos Estados Unidos, e maioral do setor de tungst�nio no mundo na �poca.

O contato o levou, em 1956, a Nova York, numa miss�o empresarial que durou 40 dias. Nesse compromisso, conheceu o ent�o prefeito da cidade norte-americana Robert Wagner e o bispo e cardeal Francis Spellman, e visitou o Capit�lio (pr�dio que serve como centro legislativo do governo dos Estados Unidos), em Washington. Mais um gole de vinho do Porto e Agenor retira de uma gaveta um pacote de recortes e retratos: numa foto, ele e a primeira mulher est�o num jantar de gala no Waldorf Astoria, em NY.

“N�o viajei muito pelo mundo, n�o. Quero, em breve, ir � minha fazenda Genezar�, na Serra da Formiga, em Caic� (RN). Tenho duas filhas morando na Europa, uma em Val�ncia, na Espanha, e outra no Algarves, em Portugal. Pretendo visit�-las. Gosto muito de Portugal”, afirma, lembrando que esteve no pa�s ib�rico, pela primeira vez, em 1938, no come�o da Segunda Guerra Mundial. “Fomos no transatl�ntico alem�o SS Cap Arcona, da Hamburgo Sud” – seis anos depois, o navio de luxo foi bombardeado pelos ingleses (Royal Air Force), na ba�a de L�beck, no Nordeste da Alemanha. “Fiz 9 anos de idade em Coimbra. Meu pai era um vision�rio. Comprou um carro Chevrolet zero-quil�metro e levou o ve�culo para passearmos em Portugal. Na volta, comprou, em Lisboa, 500 latas de azeite de um litro, j� com uma rosca diferente na embalagem, e trouxe para os amigos”.
'Quero viajar e conhecer ainda outros lugares', diz Agenor(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
'Quero viajar e conhecer ainda outros lugares', diz Agenor (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)


OUTRA BH Dos roteiros internacionais, Agenor tamb�m n�o se esquece do encontro com o escritor mineiro Guimar�es Rosa, em Frankfurt, na Alemanha. “Ele era m�dico, diplomata e um d�ndi, mas n�o lan�ou Grande sert�o:veredas, no Brasil”, conta o homem que, pelas atitudes determinadas, ganhou o codinome de “Espalha-brasa”. Numa viagem pelo tempo, o empres�rio, que sobreviveu a tr�s c�nceres, tem uma v�lvula a�rtica met�lica e passou por trag�dias familiares – “fa�o quest�o de agradecer ao cirurgi�o Carlos Smith Figueiroa, do Hospital Fel�cio Rocho” – recorda-se de pr�dios que sumiram do mapa de BH e deixaram saudade: o hotel onde hoje est� o edif�cio Maletta, o Bar do Ponto, na esquina da Afonso Pena com Rua da Bahia, a antiga sede do correio na Afonso Pena e o da Faculdade de Direito, no Centro.

Com os olhos azuis ainda mais brilhantes, Agenor mostra outro tempo da capital. “Tenho tamb�m saudade dos anos 1950, em que havia muita seguran�a. Frequentei o Montanh�s Dan�as. Voltava para casa �s tr�s da madrugada, subia da Rua Guaicurus at� a Rua Carangola, no Bairro Santo Ant�nio, onde morava. No Montanh�s tinha muito respeito. Ali�s, respeito � a ferramenta mais importante que a ra�a humana tem, pena que est� oxidando.”

Afilhado do primeiro dono do Cine Brasil, Agenor Gomes Nogueira, de quem herdou o nome, o empres�rio acredita que a cidade se tornou v�tima da planta do engenheiro chefe da comiss�o construtora, Aar�o Reis (1853-1936), pois ficou com quarteir�es pequenos em vez de avenidas largas. “Amo Belo Horizonte, vivo aqui 75 dos meus 88 anos. Gosto de andar nas ruas, conversar com as pessoas. Sou um homem festeiro”, afirma. A religi�o � outro ponto importante nesta trajet�ria de quem se declara cat�lico praticante, devoto de Nossa Senhora de F�tima e se confessa com o monsenhor H�lio Angelo Raso.

Acompanhando pelos jornais e tev� o notici�rio sobre a crise pol�tica, Agenor diz que desde a �poca de Get�lio Vargas o Brasil se encontra mergulhado num “mar de lama”. Mas h� esperan�a. “A vida � o mais importante. Em vez de muros, devem ser constru�das pontes. O papa Francisco trouxe equil�brio e bom senso � Igreja”, diz Agenor, certo de que o livro que est� escrevendo ser� dedicado � fam�lia Bezerra Guerra. Pretende contar um pouco da sua hist�ria para os seis filhos – o mais velho, S�lvio, morreu h� quatro anos – e 8 netos.

Na despedida, terminada a entrevista, Agenor faz quest�o de presentear os rep�rteres com um cart�o, no qual h� um pensamento resumindo bem seu esp�rito: “O que cura a doen�a � a for�a vital que existe em todos n�s”. A frase � retirada do livro Yamai ga Kieru, da filosofia seicho-no-ie, e lhe foi transmitida por uma das filhas.


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