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Estado de Minas

Comunidade em Santa Luzia � reconhecida como quilombola pela Funda��o Palmares

Funda��o Palmares aponta comunidade dos Pinh�es, em Santa Luzia (Grande BH), como quilombola. Reivindica��o de moradores, agora, � a titula��o das terras por parte da Uni�o


postado em 17/08/2017 06:00 / atualizado em 17/08/2017 09:50

Geraldo Teles, de 100 anos, é o morador mais antigo de Pinhões: ele mora perto de gruta em que a avó, escrava, escondia os filhos.
Geraldo Teles, de 100 anos, � o morador mais antigo de Pinh�es: ele mora perto de gruta em que a av�, escrava, escondia os filhos. "Para que eles n�o fossem negociados", conta (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Aos 100 anos de idade, Geraldo Teles mora pr�ximo a uma gruta em que a av�, escrava, escondia os filhos: “Para que eles n�o fossem negociados como mercadorias”. Devoto de S�o Sebasti�o, ele � o morador mais antigo de Pinh�es, uma comunidade em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte, que foi reconhecida pela Funda��o Palmares como quilombola e que, agora, reivindica � Uni�o a titula��o das terras.


“O reconhecimento por Palmares nos permite acesso a pol�ticas p�blicas diferenciadas. J� a titula��o por parte do governo federal possibilitar� aos descendentes (de escravos) a escritura das terras em que eles moram hoje. Quase ningu�m aqui tem”, explicou D�bora Rodrigues, secret�ria da Associa��o Quilombola de Pinh�es.

A hist�ria de Pinh�es, cujo nome se deve � �rvore pinh�o, usada na fabrica��o de sab�o, come�ou no in�cio do s�culo 18. “Negros escravizados foram enviados com objetivo de tomar conta das divisas entre o mosteiro de Maca�bas e a fazenda Bicas. Com o fim da aboli��o, fixaram moradia”, contou D�bora.

Cerca de 3 mil pessoas moram no lugar, celeiro de hist�rias. L� foi rota de tropeiros. Tamb�m foi por aqueles caminhos tortuosos que passaram tropas que lutaram na Revolu��o de 1842, lideradas pelo revolucion�rio Te�filo Benedito Ottoni, e do governista Bar�o de Caxias. Na hoje Rua Assis Chateaubriand, uma casa em adobe desperta a aten��o de visitantes.

Tanto quanto o quintal na casa de dona Vagna Rosa de Jesus, de 57, que foi casada com um quilombola. No terreiro, voltado para a rua, h� dezenas de pe�as em barro que ela faz para ganhar a vida. H� panelas, vasos e cumbuquinhas para amantes de caldo de mocot�. “Eu busco a argila atr�s da serra. E uso o forno que fiz neste barranco, no meu quintal”.

Vagna Rosa de Jesus, de 57 anos, descobriu na argila um meio de sustentar a família. População local reivindica à União a titulação das terras(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Vagna Rosa de Jesus, de 57 anos, descobriu na argila um meio de sustentar a fam�lia. Popula��o local reivindica � Uni�o a titula��o das terras (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
A moradia dela fica pr�xima � de seu Geraldo, o morador mais antigo. Apesar da idade, � bem ativo. Gosta de boa prosa e de recordar da �poca em que fazia fogueiras para S�o Jo�o e Santo Ant�nio. Mas seu santo predileto � Sebasti�o. “Veja na fachada de minha casa. Viu? H� uma imagem dele. A luzinha acende todas as noites. Se queimar, mando trocar”.

O dia em homenagem a S�o Sebasti�o � 20 de janeiro. Todos os anos, nessa data, o padre vai � casa de seu Geraldo e reza uma missa. “Fazem at� o altarzinho”. A religi�o � assunto s�rio em Pinh�es. Numa comunidade fundada por negros, a capela n�o poderia ser outra: Nossa Senhora do Ros�rio. A primeira missa ocorreu em 1906. As celebra��es ocorrem toda semana. No lado esquerdo do p�tio, o cruzeiro em madeira.

Havia outro em frente ao templo, mas foi substitu�do por um de ferro. Atr�s da capela, h� um cemit�rio. Mas a calunga mais antiga, chamada de cemit�rio dos negros, est� a mais ou menos uma l�gua – aproximadamente seis quil�metros – de l�, numa regi�o de fazendas. O local, claro, conta com um cruzeiro de madeira, cercado por muro de pedras.

HORTA Mas � outra cerca que chama a aten��o na comunidade. Fica na Pra�a Nan� Bahia, na entrada da comunidade. Foi l� que dona Vilma, a �nica ialorix� (m�e de santo) de Pinh�es, fez uma horta comunit�ria. Ela rega diariamente o local. E joga esterco sobre as sementes de almeir�o, manjeric�o, alface, couve... Tamb�m plantou mexerica, jabuticaba e goiaba.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
“Qualquer pessoa pode vir aqui e pegar. A tela � s� para impedir que o gado e outros animais entrem e estraguem a horta”, explicou D�bora, a secret�ria da associa��o. Pinh�es, hoje, n�o � territ�rio exclusivamente de negros e de descendentes de escravos. Outra certeza: cumprimentar quem se encontra pelo caminho � algo certo, al�m de boa educa��o. Um dos motivos � o fato de muitos serem parentes, pr�ximos ou distantes.

Elogios de 'forasteiros'


A simpatia dos moradores antigos e outros predicados de Pinh�es fizeram muitos forasteiros se apaixonarem pelo local e ficar por l� mesmo. Dona Maria Helena Silva, de 89 anos, nasceu em Sete Lagoas, na Regi�o Central, e fez hist�ria na comunidade quilombola.

Ela mesma conta o motivo: “Fiz o parto, sozinha, de 2.020 crian�as na regi�o. Tenho orgulho em dizer que nunca, mas nunca mesmo, deixei morrer um beb� ou uma m�e”. At� por isso, muitos pais a convidaram para ser madrinha dos filhos.

Dona Helena, como � chamada, se formou em auxiliar de enfermagem. Fez partos em casa e em hospitais. Faz quest�o de dizer que jamais cochilou nos plant�es noturnos. Hoje, aposentada, ela cuida das diversas esp�cies de plantas no quintal, como flor-do-divino. “� vermelha. Veja que bonita”, aponta.

Quem tamb�m veio de fora � o boiadeiro Clemente Rodrigues de Almeida, de 55. Natural da cidade de Jequitinhonha, ele est� na comunidade h� bastante tempo. Trabalha na lida com o gado: guia cabe�as e tira leite. �s vezes, toca bois na companhia de Taruba, o c�o, e de Ant�nio Maria Silva, de 59, amigo que planta milho, feij�o e outras culturas.


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