(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Entenda como era o cotidiano da mulher autista mantida em c�rcere privado pelo pai em BH

Secretaria Municipal de Sa�de informou que autor do crime se negava a receber agentes comunit�rios dentro de casa, o que dificultou conhecimento do problema


postado em 22/08/2017 06:00 / atualizado em 22/08/2017 07:52

José Tomé da Cruz alega ter decidido manter a filha trancada porque em casa ela dava muito trabalho(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Jos� Tom� da Cruz alega ter decidido manter a filha trancada porque em casa ela dava muito trabalho (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
“Ela estava igual a um cachorro, que voc� vai l�, p�e comida e deixa preso. O pr�prio cachorro ainda tinha a liberdade de sair para dar uma volta e a mulher n�o.” Com esta descri��o, a Pol�cia Civil apresentou na manh� de ontem o homem acusado de manter a filha autista, de 39 anos, em c�rcere privado, h� cerca de um ano, em Belo Horizonte. O autor do crime, o carreteiro Jos� Tom� da Cruz, de 61, passou a trancar a filha em um terreno no Bairro Goi�nia, Regi�o Nordeste da capital, ap�s o in�cio de uma rela��o est�vel com a atual mulher. No local, que funcionava como estacionamento de ve�culos, a pol�cia constatou que ela tinha como companhia um cachorro, recebia alimenta��o entregue pelo pai ou jogada por ele por cima do muro, em potes de sorvete, e at� comia terra e as pr�prias fezes.


Jos� da Cruz e sua companheira, Vera L�cia da Cruz, de 47 – que tinha conhecimento da situa��o e tamb�m � investigada pelo crime – foram presos. Ele foi levado para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) Gameleira, em BH, e ela est� encarcerada no pres�dio de S�o Joaquim de Bicas, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com o delegado respons�vel pelo caso, Rodolfo Rabelo Alves, da 4ª Delegacia Leste, os dois v�o responder por sequestro e c�rcere privado qualificado, j� que a v�tima tem rela��o de parentesco com o agressor e o c�rcere foi superior a 15 dias. “Vamos apurar a quest�o dos maus-tratos, que nesse caso j� est�o bem impl�citos. Ent�o seria o crime de sequestro e c�rcere, com tr�s qualificadoras”, disse o delegado.

Segundo ele, a pol�cia chegou at� o caso por meio de den�ncia an�nima de vizinhos e, em dois dias de observa��es e filmagens no local, p�de confirmar o crime praticado contra a mulher. Por causa do autismo, ela n�o fala. Tamb�m tem dificuldades com a higiene pessoal e precisava de cuidados especiais. “Ela rasgava a roupa, ficava nua. � uma pessoa que precisa de cuidado e n�o pode ficar abandonada. No entanto, a mulher foi encontrada pelos policiais em situa��o degradante. S� tomava banho �s vezes. Urinava e defecava no ch�o, como explica o delegado: “Recebemos a informa��o que teria uma mo�a que era mantida em c�rcere em um lote, junto com um animal. Fomos at� o im�vel, onde foi poss�vel confirmar essa situa��o. Vimos que um homem ia l�, dava alimento para ela e a deixava sozinha durante o dia. No lote, ela urinava no ch�o, onde tamb�m fazia suas necessidades, comia terra e comia fezes. No per�odo noturno, ficava trancada em um c�modo e s� era solta na parte da manh�”.

Sobre a alimenta��o da v�tima, Rodolfo explicou que em algumas ocasi�es os policiais viram o pai servindo a alimenta��o a ela em potes de sorvete e, em outras, geralmente mais � noite, jogava a comida por cima do muro, que era alto. “Segundo o pai, os potes eram usados porque ela poderia quebrar o prato. Ele disse ainda que ela comia com talheres, mas a gente n�o viu isso”, disse o delegado.

No lote, havia ve�culos estacionados e esse pequeno quarto, onde havia uma cama de solteiro com colch�o forrado com um pl�stico, uma cadeira e um pequeno banheiro, com uma privada. O pai dela foi apresentado � imprensa na manh� de ontem. De acordo com as primeiras informa��es da investiga��o, o transtorno mental da v�tima foi o principal motivo para a a��o criminosa do casal. “Apuramos, na fase preliminar, que ela morava com o pr�prio investigado, em uma quitinete, e ap�s ele ter se unido com a outra investigada, a v�tima foi colocada por eles nesse im�vel. A situa��o dela passou a ser muito degradante a partir desse momento”, afirma o delegado.

Segundo o policial, a situa��o era tratada pelos suspeitos como normal. “Ele fala que estava cuidando dela e que ela dava muito trabalho, porque suja a casa, e que tinha que ter muita paci�ncia com ela”, disse Rodolfo. O pai afirmou tamb�m � pol�cia que n�o tinha condi��es de manter uma pessoa fixa para tomar conta da filha e que “achou mais seguro mant�-la com os carros e o cachorro durante o dia e, � noite, tranc�-la”. J� a madrasta contou � pol�cia que cuidava da mulher, que dava banho e alimentos e confirmou que concordava com a situa��o. “Os dois acham que o melhor para ela era esse tipo de conduta”, disse o delegado.

A v�tima foi encaminhada ao Centro de Refer�ncia em Sa�de Mental (Cersam) Nordeste, unidade da rede do Sistema �nico de Sa�de de BH (SUS-BH), para ser atendida e medicada. Posteriormente, ela ser� entregue �s tr�s irm�s que, segundo a pol�cia, tinham ci�ncia da situa��o, mas n�o intervieram j� que o pai era o tutor e decidia sobre a situa��o. A v�tima � a filha mais velha do carreteiro.

Em entrevista, o pai informou � imprensa que j� tentou, por v�rias vezes, conseguir um laudo que atestasse o problema de sa�de da filha, bem como buscou tratamento m�dico para ela. A demanda teria sido levada � rede de sa�de do munic�pio desde que a filha era crian�a, mas nunca houve retorno. “A gente trabalha da maneira que a fam�lia pode. Ela � uma pessoa especial e temos que trabalhar com o jeito dela, n�o com o jeito da gente. Mas o posto de sa�de n�o chama, n�o atende. Talvez agora v� acontecer de ter um bom tratamento para ela, uma boa cl�nica”, disse. O pai negou que maltratasse a filha.

VISITAS NEGADAS
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Sa�de (SMSA) afirmou que a resid�ncia onde a v�tima era mantida em c�rcere privado vinha sendo visitada desde junho de 2015 por um agente comunit�rio de sa�de (ACS), �poca em que a fam�lia foi cadastrada pelas equipes do Sistema �nico de Sa�de (SUS). “De acordo com a agente comunit�ria de sa�de respons�vel por visitar o domic�lio da paciente (conforme prev� a��es do Programa de Sa�de da Fam�lia do munic�pio), desde o cadastro da fam�lia, em 2015, foram realizadas visitas regulares ao im�vel, contudo, o pai da paciente, Jos� Tom� da Cruz, se negava a receber a agente dentro da casa, respondendo a ficha de visita no port�o. Desde o cadastro, foram sete visitas dos profissionais de sa�de em que n�o foram encontrados moradores”, explicou a secretaria.

A pasta esclareceu que a entrada dos agentes nas casas ocorre somente com o consentimento dos moradores, por isso, a ACS desconhecia os crimes praticados contra a jovem. Desde sexta-feira, a v�tima est� em tratamento multidisciplinar em per�odo integral do Centro de Refer�ncia em Sa�de Mental (Cersam) Nordeste, onde recebe visita dos familiares. “Nesta unidade, que � de porta aberta, atendendo livre demanda, nunca houve nenhuma demanda de atendimento desta paciente por meios pr�prios ou por terceiros”, esclareceu a SMSA.

ROTINA DE HORROR


Entenda como era o cotidiano da mulher mantida em c�rcere privado em um lote no Bairro Goi�nia, na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte
Clique para ampliar(foto: Arte/EM)
Clique para ampliar (foto: Arte/EM)

 

Fonte: Pol�cia Civil


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)