
Em Brumadinho, onde as chamas chegaram a menos de 300 metros de algumas casas, moradores de condom�nios vestiram blus�es amarelos e cal�as grossas, balaclavas (prote��o para o rosto) e capuzes para tentar se defender. Armados apenas de bombas d’�gua costais, chicotes de borracha e abafadores para ingressar na mata fechada de cerrado, tiveram de escalar terrenos �ngremes sob o calor do dia e das chamas. Desde domingo, uma extensa linha de fogo desce dos contrafortes do Retiro das Pedras e do Parque Estadual da Serra da Cal�ada, avan�ando cerca de tr�s quil�metros pelo Parque Estadual da Serra do Rola-Mo�a e inundando com uma cortina de fuma�a densa e uma nuvem de fuligem as moradias do distrito de Casa Branca.
Na noite de ontem, com o fogo sem controle e a estrada de acesso a Casa Branca interditada, militares se mantinham de prontid�o na via que corta a �rea verde, no sentido Jardim Canad�/Casa Branca, para evitar que as chamas passassem para o outro lado da pista. “As chamas est�o perto do Condom�nio Retiro das Pedras, do lado esquerdo. Vamos monitorar para que n�o passem para o lado oposto”, explicou Marcus Vin�cius de Freitas, gerente do Parque Estadual da Serra do Rola-Mo�a.

Com as chamas descendo a serra de 1.300 metros de altura, a noite para os moradores do fundo do vale, especialmente no condom�nio Quintas de Casa Branca, foi de muita apreens�o e de prepara��o. O fogo assustou. Chegou a tr�s lotes de dist�ncia (cerca de 250 metros) da casa da administradora de empresas Marise das Neves, de 53 anos. “Tentei fazer minha parte, fiz um aceiro – corte na vegeta��o para evitar que o fogo se alastre – e depois fiquei jogando �gua com uma mangueira na vegeta��o, para prevenir que o fogo entrasse na minha casa”, conta.
Segundo ela, a ajuda de vizinhos foi fundamental, principalmente para remover das beiradas das cercas material que pudesse ser combust�vel. Ainda assim, foi imposs�vel pregar os olhos durante a noite. “Voc� n�o dorme. Passa a noite toda acordada, vendo o fogo descer a serra. Venta muito forte e isso faz as labaredas aumentarem de tamanho e serem direcionadas para o nosso lado. Minha casa ficou toda suja de fuligem por causa das cinzas”, descreveu.
Na BR-040, cerca de tr�s quil�metros distante do foco principal, j� se podiam ver as grandes colunas de fuma�a cinzenta rompendo o c�u sem nuvens. Na estrada pelo Parque do Rola-Mo�a, o tr�fego principal era de bombeiros e de ve�culos de transporte de brigadistas. Mais adiante, os mirantes conhecidos por permitirem avistar distantes paisagens de Ibirit�, Betim, Brumadinho e Belo Horizonte se tornaram um ponto de observa��o das chamas, que reduziam o cerrado amarelado a uma mancha cinzenta. O cheiro de queimado se adensava com a aproxima��o de Casa Branca, no fundo do vale, onde at� a luz do Sol estava mais fraca, retida pela fuma�a e pela fuligem.

COMBATE A�REO A guerra contra as chamas tinha duas frentes. Uma delas era de combate mais direto, com bombeiros e brigadistas do Parque do Rola-Mo�a sendo desembarcados de helic�ptero muito perto da linha de fogo. Em um terreno acidentado, o enfrentamento �s chamas com abafadores e bombas era feito sob o som de avi�es em rasantes sobre os focos, para bombarde�-los com �gua e tentar reduzir o poder das labaredas. Na outra linha de combate, nos limites do condom�nio abaixo, brigadistas volunt�rios e mantidos pelo residencial corriam de rua em rua procurando focos que amea�assem as casas. Uma aten��o muito grande foi dada �s �reas de mananciais, de onde grossas mangueiras pl�sticas levam �gua de duas nascentes para abastecer o condom�nio. Nesses pontos, de onde j� se podia ouvir o fogo crepitar, os combatentes preferiram manter guarda.
“O mais dif�cil � que o vento � muito forte e torna as chamas ainda mais agressivas. Traz muita fuma�a, que dificulta nossa respira��o. Dentro do poss�vel, estamos conseguindo controlar. Vamos ficar aqui at� quando for preciso. Ouvimos que a previs�o � de, pelo menos, uma semana de mobiliza��o”, disse o contabilista Luiz Fernando Ferreira, de 38, brigadista volunt�rio e morador do condom�nio.
Enquanto moradores como ele pegavam ferramentas e arriscavam suas vidas para impedir que o fogo chegasse �s propriedades, boa parte das moradias da comunidade estava vazia, j� que servem como casas de campo nos fins de semana. Nesses locais, contudo, o uivo dos c�es deixados pelos donos d� ideia do medo que os animais enfrentam ao sentir o fogo se aproximar sem ter para onde fugir.
