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Estado de Minas

V�timas da trag�dia em creche de Jana�ba estavam em festa do Dia das Crian�as

Alunos v�timas de inc�ndio provocado por vigia em creche participariam ontem de recrea��o como parte das comemora��es do Dia das Crian�as. Ataque arrasou cidade do Norte de Minas


postado em 06/10/2017 06:00 / atualizado em 06/10/2017 08:29

]Jana�ba – Juan Pablo Cruz dos Santos; Luiz David Carlos Rodrigues; Ruan Miguel Soares Silva; Ana Clara Ferreira Silva; Renan Nicolas dos Santos Silva. Como os seis alunos que nunca mais responder�o � chamada na Creche Gente Inocente, de Jana�ba, cerca de 40 crian�as na faixa de 3 a 6 anos foram levadas ontem � unidade por seus pais – a maioria trabalhadores simples – com muita expectativa. Seria dia de pula-pula e outras brincadeiras, parte dos preparativos para a comemora��o do Dia das Crian�as. Mas, em vez da festa, tornaram-se personagens de uma trag�dia que nunca mais sair� da mem�ria da cidade.


�s 9h30min, o vigilante Dami�o Soares dos Santos, de 50 anos, entrou na creche e, usando gasolina, ateou fogo � sala onde os alunos estavam. Al�m das seis crian�as mortas no inc�ndio, das mortes do pr�prio vigia e de uma professora, outras 21 crian�as e duas educadoras precisaram de atendimento, muitas delas em estado grave.

A trag�dia parou Jana�ba, cidade de 71 mil habitantes, distante 560 quil�metros de Belo Horizonte). As v�timas inicialmente foram levadas para o hospital regional do munic�pio e para o Hospital Fundajan. Para prestar socorro, foram convocadas equipes do Samu e m�dicos de munic�pios vizinhos. A cidade tamb�m teve um grande movimento com a chegada e partida de helic�pteros e avi�es das pol�cias Militar e Civil e do Corpo de Bombeiros, que transferiam feridos com quadros mais graves para hospitais de Montes Claros e da capital.



"Eu acordei cedo e fui trabalhar. Meu filho foi para a creche e achei que � tarde estaria com ele de novo. Mas acabei encontrando ele morto, com o corpo todo queimado, no hospital"

Paulo Pereira dos Santos, de 28 anos, pai do menino Juan Pablo Cruz Santos

Na porta do Hospital Regional de Jana�ba houve grande concentra��o de pessoas, entre parentes das crian�as da creche, pais em busca de informa��o sobre o estado de sa�de dos filhos, curiosos, policiais, equipes m�dicas e de imprensa. Diante da desinforma��o das fam�lias, at� um carro de som foi usado para divulgar os nomes das crian�as que deram entrada nas duas maiores unidades de sa�de da cidade.

A solidariedade tamb�m prevaleceu. Atendendo ao apelo das equipes de sa�de, dezenas de pessoas se concentram em frente ao laborat�rio do Hospital Regional para doar sangue. As pol�cias Militar e Civil de Montes Claros tamb�m fizeram pedidos pela imprensa e em redes sociais, solicitando doa��o de sangue para as v�timas da trag�dia.

Ainda diante da perplexidade provocada pelo massacre, moradores se aglomeraram em rente a hospital em busca de notícias(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Ainda diante da perplexidade provocada pelo massacre, moradores se aglomeraram em rente a hospital em busca de not�cias (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)


SEM DEFESA As v�timas da trag�dia estavam em uma sala de cerca de 40 metros quadrados na Creche Crian�a Inocente, adaptada em uma casa no Bairro Rio Novo. Segundo testemunhas, �s 9h30min Dami�o chegou � creche e, como era conhecido, passou facilmente pelo port�o de entrada, com uma mochila nas costas, sem gerar desconfian�a. Ele se dirigiu at� a diretora da unidade, que estava em sua mesa de trabalho, adaptada na mesma sala onde se encontravam as crian�as em atividade de recrea��o.


Dami�o fez algumas perguntas � diretora sobre o seu afastamento tempor�rio do servi�o. De repente, abriu a mochila e retirou de dentro dela um pote usado para a venda de sorte, que estava cheio de gasolina. Imediatamente, come�ou a espalhar o combust�vel em dire��o �s crian�as e pela sala. Na sequencia, ateou fogo. As chamas se espalharam rapidamente, sem que as crian�as conseguissem escapar.

"Encontrei meu filho morto"


“Eu acordei cedo e fui trabalhar. Meu filho foi para a creche e achei que � tarde estaria com ele de novo. Mas acabei encontrando ele morto, com o corpo todo queimado, no hospital.” O relato dram�tico � do trabalhador rural Paulo Pereira dos Santos, de 28 anos, pai do menino Juan Pablo Cruz Santos, de 4 anos, uma das seis crian�as mortas no inc�ndio da Creche Gente Inocente, em Jana�ba. “D� muita revolta na gente saber que uma crian�a inocente pagou com a vida pelos problemas de outra pessoa”, disse o lavrador, referindo-se ao vigilante Dami�o Soares dos Santos, que ateou fogo � unidade de ensino infantil usando gasolina e tamb�m morreu.


Juan Pablo era o �nico filho de Paulo Santos e da dom�stica Ana Paula Cruz Santos, casados h� cinco anos. Eles vivem no Bairro Santa Terezinha, afastado tr�s quil�metros do Centro de Jana�ba e pr�ximo a planta��es de banana, onde trabalha Paulo. Ontem a casa simples foi tomada por uma profunda tristeza, que deve aumentar ainda mais hoje, quando o corpo de Juan Pablo ser� velado na moradia. Para agravar a como��o na fam�lia, Renan Nicolas dos Santos Silva, que tamb�m morreu, era primo e vizinho de Juan Pablo.

"D� muita revolta na gente saber que uma crian�a inocente pagou com a vida pelos problemas de outra pessoa", Paulo Pereira dos Santos, de 28 anos, pai de Juan Pablo Cruz Santos, de 4 (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Na manh� de ontem, Ana Paula levou Juan de bicicleta pelos oito quil�metros que separam sua casa da creche. Mas n�o teve como buscar o filho. Paulo conta que estava trabalhando quando soube pelo r�dio do inc�ndio na creche. Saiu desesperado e foi at� o hospital, em busca de informa��es. Depois de perguntar muito, por interm�dio de um policial militar tomou conhecimento de que o filho estava entre as v�timas. A m�e s� veio a saber da triste not�cia no fim da tarde. Ficou desesperada.

Ver galeria . 17 Fotos Vigia ateou fogo e matou crianças na Cemei Gente Inocente, uma creche de Janaúba, Norte de Minas Gerais. Ocorrência mobiliza forças de segurança e desespera moradoresPolícia Militar/Divulgação
Vigia ateou fogo e matou crian�as na Cemei Gente Inocente, uma creche de Jana�ba, Norte de Minas Gerais. Ocorr�ncia mobiliza for�as de seguran�a e desespera moradores (foto: Pol�cia Militar/Divulga��o )


SEM EXPLICA��O Ao acordar, Fernanda da Concei��o Rodrigues tamb�m n�o podia imaginar o sofrimento que o dia lhe reservava. Mantendo a rotina, ela se levantou por volta das 6h, preparou o caf� e arrumou a roupa do ca�ula, Luiz David Carlos Rodrigues, de 4 anos, antes de lev�-lo para a creche no vizinho Bairro Rio Novo. “Ele estava muito alegre. Disse que na creche ia ter ‘brincadeira de pula-pula’, por causa da comemora��o do Dia das Crian�as“, conta Fernanda, tamb�m m�e de Alisson, de 12.

Fernanda foi para o trabalho em uma casa de fam�lia enquanto o marido dela, Warlei Carlos Barbosa, batalhava no of�cio de trabalhador rural. Ainda no servi�o, Fernanda soube que foi o filho foi uma das v�timas da trag�dia. “Isso � uma coisa que deixa a gente sem saber o que falar. N�o tem explica��o”, foram as poucas palavras que a m�e conseguiu expressar.

Entre os moradores de Jana�ba, permanece no ar uma pergunta que continua sem resposta: por que o vigilante Dami�o Soares dos Santos provocou a trag�dia? A pol�cia tamb�m continua atr�s dessa

 

Mortos


Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4 anos (aluno)
Luiz David Carlos Rodrigues, de 4 (aluno)
Ruan Miguel Soares Silva, de 4 (aluno)
Ana Clara Ferreira Silva, de 4 (aluna)
Renan Nicolas dos Santos Silva, de 6 (aluno)
Helley Abreu Batista, de 43 (professora)
Dami�o Soares dos Santos, de 50 (vigia)



A morte de uma hero�na


Na noite de ontem, o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura de Jana�ba informaram que a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos, n�o resistiu �s queimaduras que atingiram quase 100% de seu corpo. Ela trabalhava no Centro Infantil Gente Inocente e, segundo o prefeito da cidade, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), foi “uma verdadeira hero�na”. “Ela entrou e saiu tr�s vezes da sala de aula para tentar salvar as crian�as”, disse.

"Recebemos quatro crian�as. Todos correm risco de morte iminente"

Marcelo Lopes Ribeiro, gerente assistencial do Hospital Jo�o XXIII

Helley era funcion�ria efetiva do centro infantil e morava no munic�pio de Nova Porteirinha, separado de Jana�ba por um rio. O corpo da professora ficou t�o queimado que precisou ser reconhecido pelo marido por meio da arcada dent�ria. Outra trag�dia recente marcou a vida da fam�lia: no ano passado, o casal perdeu uma filha, v�tima de afogamento.

Enquanto a professora ainda lutava pela vida em Jana�ba, em Belo Horizonte a trag�dia levou a dire��o do Hospital de Pronto Socorro Jo�o XXIII a adotar o “protocolo de cat�strofe”, com remanejamento de pacientes, para liberar leitos na ala pedi�trica. De acordo com o gerente assistencial da unidade hospitalar, o m�dico Marcelo Lopes Ribeiro, foi montada uma estrutura para receber 16 feridos, sendo 14 crian�as. Quatro deram entrada em estado grave a partir da 19h30 de ontem, e eram esperadas mais quatro na madrugada.



Com uso de dois helic�pteros do Corpo de Bombeiros e um da Pol�cia Militar, houve transfer�ncias de pacientes de maior gravidade tamb�m para Montes Claros. No come�o da noite, em tr�s avi�es com instrumentos de tratamento intensivo operados por uma empresa particular que presta servi�o para o governo estadual, teve in�cio a “ponte a�rea pela vida”, com o transporte das primeiras quatro crian�as at� o Aeroporto da Pampulha e na sequ�ncia para o Hospital Jo�o XXIII, que � refer�ncia no tratamento de queimados.

“Recebemos quatro crian�as. Todos correm risco de morte iminente. Um dos pacientes, um menino que chamamos de n�mero 1, chegou primeiro em helic�ptero vindo do aeroporto. Com 80% do corpo queimado, foi levado de imediato ao bloco cir�rgico. A menina, n�mero 2, que tamb�m foi transportada em helic�ptero, com 35% de queimadura no corpo e vias a�reas, tamb�m foi submetida a cirurgia”, explicou Marcelo.

As outras duas crian�as, que chegaram ao hospital em ambul�ncias da Unidade de Suporte Avan�ado do Samu, apresentavam quadro de queimadura das vias a�reas e, segundo o m�dico, foram levadas para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

Como parte do protocolo, foi aberta uma “sala de cat�strofes” para atender a demanda. Marcelo Ribeiro informou que psic�logos e assistentes sociais foram mobilizados para receber os familiares dos pacientes. “Tem muita gente ligando e perguntando o que pode ser feito. Temos um setor de apoio ao paciente e as pessoas ent�o s�o orientadas, j� que essas fam�lias v�o precisar ser acolhidas”.


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