
A boa-f� em participar de um grupo de carona no WhatsApp resultou em uma viagem fatal para uma jovem de 22 anos no Tri�ngulo Mineiro, onde a Pol�cia Civil apresentou ontem � imprensa o homem que usou a rede social com o objetivo de cometer crimes. A v�tima, Kelly Cristina Cadamuro, foi enforcada e morta por Jonathan Pereira do Prado, de 33, a 25 quil�metros do destino da viagem combinada pelo aplicativo na quarta-feira. A jovem iria de S�o Jos� do Rio Preto (SP), onde estudava e trabalhava, para Itapagipe, em Minas, onde passaria o feriado prolongado com o namorado. Depois de viajar cerca de 125 quil�metros com o algoz – e a 25 quil�metros da chegada –, veio o desfecho tr�gico. Jonathan pediu para a mo�a parar o carro e anunciou o assalto. Enforcou a v�tima, amarrou seus bra�os para tr�s com uma corda premeditadamente levada na mochila e mergulhou a cabe�a dela no Ribeir�o Marimbondo, que passa �s margens da MG-255, em Frutal, tamb�m no Tri�ngulo. H� suspeita ainda de que ele tenha estuprado a jovem. O caso, que deixou familiares e amigos em choque, chama a aten��o para o perigo de se oferecer e pegar carona com desconhecidos, pr�tica que nunca deve ser adotada, segundo autoridades policiais.
O ve�culo de Kelly foi encontrado na manh� de quinta-feira, abandonado em uma estrada vicinal no munic�pio de Mirassol, em S�o Paulo. A localiza��o do ve�culo funcionou como ponto-chave para as pris�es. Al�m de Jonathan, que � morador de Rio Preto, foram detidos mais dois homens residentes na mesma cidade, por suspeita de recepta��o. Segundo a Pol�cia Civil de Frutal, onde o crime � investigado, as tr�s pris�es ocorreram por volta das 23h de quinta-feira, na cidade paulista. Daniel Teodoro, de 24, e Wander Luis Cunha, de 34, tiveram seus nomes entregues � pol�cia por Jonathan e foram detidos em flagrante por ter comprado o celular e as rodas do ve�culo da v�tima, respectivamente.
O delegado Fernando Vetorazo, respons�vel pelo plant�o da Delegacia de Frutal, afirmou que Jonathan ser� indiciado pelo crime de latroc�nio (roubo seguido de morte) e tamb�m investigado por viol�ncia sexual. J� os dois comparsas v�o responder por recepta��o. Ao detalhar a din�mica do crime, o delegado disse que quando o suspeito se ofereceu no grupo de WhatsApp para dividir as despesas da viagem, Jonathan chegou a informar � v�tima que a mulher dele tamb�m iria de carona. A informa��o era falsa e foi usada para enganar a v�tima. Ao se encontrar com Kelly, ele estava sozinho e explicou que a companheira havia desistido da viagem. “O autor confessou que j� usava a rede social por cerca de dois meses e que monitorava poss�veis v�timas”, informou o delegado. Jonathan e Daniel seriam encaminhados ontem ao pres�dio de Frutal, enquanto Wander, que permaneceu detido em Rio Preto, seria levado para o centro de deten��o da cidade.
Em entrevista ao rep�rter Samir Alouan, da R�dio 97 FM, de Frutal, Jonathan confessou que matou Kelly com uma “gravata”, referindo-se ao ato de estrangular a v�tima, e que sua inten��o “era s� pegar o carro”. “Nem eu sei falar, senhor. Na hora ali... sei l�, eu tava passando dificuldade. Ao mesmo tempo eu n�o queria fazer, ao mesmo tempo queria. Mas era s� o carro. E, a�, press�o... de conta pra pagar, pens�o, tudo”, alegou, dizendo que matou a v�tima porque ela teria reagido. Jonathan estava foragido de uma unidade prisional desde mar�o e tem passagens pela pol�cia por roubo, estelionato, furto e intercepta��o.

VIOL�NCIA A suspeita de crime sexual foi levantada pela Pol�cia Civil ap�s o corpo de Kelly ter sido encontrado seminu. Ela estava sem a cal�a e as roupas �ntimas. Ap�s buscas nas imedia��es, a cal�a jeans dela foi encontrada pelos policiais. O corpo da v�tima passou por necr�psia e o exame poder� confirmar se houve ou n�o viol�ncia sexual. O delegado disse que a jovem apresentava les�es que caracterizam uma situa��o de luta corporal, bem como o suspeito, que tamb�m tinha arranh�es pelo corpo. Jonathan nega que tenha cometido estupro. O corpo da jovem foi velado e sepultado em Guapia�u, S�o Paulo, cidade vizinha a Rio Preto, onde Kelly morava com a fam�lia.
Para chegar at� o suspeito do crime, as pol�cias Civil e Militar analisaram imagens de c�meras de seguran�a da pra�a de ped�gio de Fronteira, na divisa de Minas com S�o Paulo, e do posto de gasolina onde Kelly abasteceu seu ve�culo, em Rio Preto, antes de viajar. As duas corpora��es tamb�m receberam den�ncias an�nimas que levaram ao autor confesso do crime. Na ida, ao passar pelo ped�gio, �s 19h, Kelly dirigia o ve�culo e Jonathan aparece no banco do passageiro. Cerca de duas horas depois, ele passa novamente pelo local, no sentido contr�rio, desta vez sozinho, dirigindo o carro.
Pol�cia condena a pr�tica
A pr�tica de combinar caronas por meio de aplicativos � comum em cidades do interior, especialmente entre universit�rios que viajam de um munic�pio a outro para estudar, e tamb�m � frequentemente usada por estudantes de grandes polos, a exemplo de Belo Horizonte. Mas, segundo autoridades policiais, a carona nunca deve ser oferecida ou aceita quando a situa��o envolve desconhecidos, sob o risco da exposi��o a algum tipo de crime. “Essa pr�tica s� pode ocorrer quando se sabe a proced�ncia da pessoa, quem ela �, onde mora, os antecedentes dela, se tem conhecidos em comum”, afirma o delegado Fernando Vetorazo.
Segundo ele, Kelly agiu de “boa-f�”, mas, infelizmente, o resultado foi tr�gico. “N�o se pode simplesmente jogar uma informa��o de carona em um aplicativo, sem conhecer com quem se est� lidando. Ela teve uma atitude de boa-f� e at� informou ao namorado, que a avisa para ter cuidado. Mas isso nunca deve ocorrer”, destaca o delegado.
Antes de ser assassinada, Kelly fez contato com familiares e com o namorado, enquanto abastecia em um posto de combust�veis na BR-153, em Rio Preto. Nas mensagens trocadas com o jovem, ela avisa que estava deixando a cidade paulista e que viajaria sozinha com o homem que havia se oferecido para a carona, j� que a mulher n�o tinha ido. Ele diz para ela ter cuidado e em outras mensagens monitora o andamento da viagem, mas j� sem resposta.
Segundo uma pessoa ligada � v�tima, Kelly era uma mo�a calma, brincalhona, humilde e muito ligada � fam�lia. A jovem morava em Guapia�u, S�o Paulo, cidade vizinha a Rio Preto, onde era vendedora em uma �tica, durante o dia, e estudante de radiologia � noite. O relacionamento com o namorado, que � engenheiro em Itapagipe e tamb�m estudou em Rio Preto, era mantido h� dois anos. Ainda segundo essa fonte, que prefere n�o se identificar, informa��es circulam na regi�o dando conta de que Jonathan j� havia sido exclu�do do grupo de caronas porque estava postando fotos de motos roubadas. “Exclu�ram ele por um tempo, mas ele comprou um outro chip de celular e pediu para ser inclu�do, dizendo que era de Campina Verde”, afirma a fonte, que ainda comenta sobre a morte de Kelly. “Todo mundo anda de carona aqui. Infelizmente, ela foi inocente de andar sozinha com um desconhecido. Esse alerta realmente deve ser feito”, diz.