
“Primeiro a mineradora transferiu a responsabilidade para a Funda��o Renova que, por vez, apresentou uma resposta t�cnica t�mida, muito inconsistente, deixando para a natureza a atribui��o da autorrecupera��o, por meio das chuvas. E, definitivamente, a bacia n�o tem essa capacidade”, disse a pesquisadora. Sem as chuvas, al�m de os sedimentos n�o serem carreados, ocorre a concentra��o de metais pesados, n�o decantados, por diminuir a capacidade de dilui��o do material poluente, explica Malu Ribeiro.
A pesquisadora aponta ainda a continuidade da degrada��o da bacia, situa��o que j� ocorria antes do desastre em Mariana, que pode ter aumentado frente � “passividade” de autoridades em rela��o ao rompimento de Fund�o, que em algumas falas minimizaram o desastre, sugerindo ter sido um acidente. A pesquisadora fez uma analogia da Bacia do Rio Doce a um paciente em estado grave. “Levaram o paciente para o UTI e desligaram o respirador”, comparou.
O estudo da Funda��o SOS Mata Atl�ntica considerou a coleta de amostras em 18 pontos da bacia, entre 11 e 20 de outubro. Foi a terceira expedi��o t�cnica da funda��o, que nesta edi��o registrou que 88,9% dos locais de coleta apresentaram qualidade de �gua entre ruim ou p�ssima. Apenas 11,1% das amostras tinham condi��es de n�vel regular. No ano anterior, o �ndice foi de 53%. Em 2015, dias depois da trag�dia, 88,9% dos pontos de coletas tinham p�ssima qualidade da �gua."Como podem afirmar que as �guas t�m qualidade para consumo humano se os peixes dessas �reas n�o podem ser consumidos? Se um est� contaminado, o outro tamb�m"
Malu Ribeiro, coordenadora e especialista em �gua do SOS Mata Atl�ntica
A pesquisa concluiu que nos 18 pontos monitorados, a qualidade da �gua est� impr�pria para consumo humano e usos m�ltiplos, como pesca, irriga��o e produ��o de alimentos. Apenas tr�s pontos apresentam conformidade com o padr�o definido na legisla��o brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de min�rios. “Precisamos de transpar�ncia nos resultados apresentados pela Renova e �rg�os governamentais do setor de meio ambiente estaduais e federal. Como podem afirmar que as �guas t�m qualidade para consumo humano se os peixes dessas �reas n�o podem ser consumidos? Se um est� contaminado, o outro tamb�m”, pontuou Malu.
Ainda conforme a pesquisa da SOS Mata Atl�ntica, em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de �gua p�ssima e ruim foi constatada aus�ncia de vida aqu�tica, como girinos, sapos e peixes. “Nesses locais, o espelho d’�gua estava repleto de insetos e pernilongos, vetores de graves problemas de sa�de p�blica, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, observa a pesquisadora.
A equipe da funda��o percorreu o rastro da lama por 733 quil�metros ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 munic�pios e distritos dos estados de Minas Gerais e Esp�rito Santo. Apesar de visualmente a �gua estar mais clara, Malu Ribeiro explica que o sedimento de rejeito de min�rio est� presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das �guas faz com que ele fique em suspens�o, aumentando novamente a turbidez para �ndices impr�prios.
Por meio de nota, a Funda��o Renova, respons�vel pelas a��es de reparo dos danos ambientais do desastre, afirmou que “a �gua do Rio Doce est� pr�pria para consumo, desde que tratada pelas concession�rias respons�veis (SAAE e Copasa), e os par�metros s�o semelhantes ao registrado antes do rompimento da Barragem do Fund�o.” E garantiu que os monitoramentos realizados em 92 pontos de coleta ao longo da bacia s�o acompanhados e fiscalizados por �rg�os ambientais. “A Bacia do Rio Doce � a mais monitorada do Brasil. Os dados s�o enviados em tempo real e em relat�rios trimestrais aos �rg�os ambientais, dentro do Programa de Monitoramento Quali-quantitativo Sistem�tico (PMQQS) de �gua e sedimentos”, disse.
“De acordo com o �ltimo relat�rio do Igam (Instituto Mineiro de Gest�o de �guas), de setembro, os dados de turbidez no Rio Doce se mant�m abaixo do limite legal, que � de 100 ntu (unidades nefelom�tricas de turbidez), na maioria das esta��es de coleta de dados”, destaca a nota.