
Aos jovens foli�es que porventura pensem na BH do in�cio do s�culo XX como uma donzela recatada e bem-comportada, a capital, se pudesse, certamente diria, entre divertidas e debochadas gargalhadas: “Sabem de nada, inocentes!”. Quem descobriu os bloquinhos carnavalescos da cidade no in�cio dos anos 2000, afinal, pode n�o imaginar, mas est� lidando com uma senhora pra l� de “saliente”, que, desde 1897, – ano de seu nascimento – j� sabia bem como dar festas cheias de irrever�ncia.
Que o diga O Le�o da Lagoinha, primeiro bloco de carnaval de Belo Horizonte. Das 120 folias que a cidade completa nesta ter�a-feira, a “m�e de todos os blocos” acompanhou pelo menos 70. Fundado em 1947, o grupo sa�a �s ruas, j� naquela �poca, arrastando multid�es de homens vestidos de mulher e vice-versa. Famoso pelos bailes animados com que encerrava seus cortejos – frequentados at� mesmo pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek – o bloco interrompeu suas atividades em 1985. No �ltimo carnaval, voltou � ativa e esquenta os tamborins para sair novamente no ano que vem. “Para se ter uma ideia, n�s demos origem � Banda Mole, proclamado bloco mais antigo de BH. Mas ela foi formada a partir de uma dissid�ncia nossa, em 1975. Sobrevivemos aos trancos e barrancos at� 1985 e acabamos por suspender o carnaval por 32 anos. Mas quem come�ou com a tradi��o de sair com homens e mulheres com roupas trocadas pela rua afora fomos n�s”, defende Jairo Nascimento Moreira, atual presidente do bloco.
O ponto de partida do Le�o da Lagoinha ainda � o mesmo da d�cada de 1940: no cruzamento das ruas Itapecerica e Machado de Assis. “De l�, exatamente como era no passado, abrimos os desfiles das escolas de samba, na Avenida Afonso Pena, e encerramos o trajeto com muito agito na Pra�a Vaz de Melo”, diz Jairo. Frequentador do Le�o desde os 7 anos, o secret�rio parlamentar de 54 anos lembra com nostalgia dos �ureos tempos do cord�o festivo. “Descia a cidade inteira para nos acompanhar. Era lindo. Estou muito feliz de ter retomado este projeto. Eu cresci nesse carnaval. A comunidade n�o pode deixar isso morrer”, ressalta o belo-horizontino.
Resgatar o bloco custou a Jairo e seus companheiros de organiza��o bem mais que energia. “Para um bloco de carnaval sair na rua, n�o se gasta menos de R$ 60 mil. Ano passado, entramos no edital da prefeitura e recebemos R$ 10 mil. A Ambev patrocinou outros R$ 10 mil. O restante saiu do meu bolso e de outros amigos meus, que abra�aram a causa. Ent�o imagine que estamos pagando d�vidas de carnaval at� hoje!”, brinca, destacando que ainda n�o deu in�cio aos tr�mites de arrecada��o de recursos para 2018.
Segundo Nascimento, cerca de 3,5 mil pessoas acompanharam o grupo pelas ruas de BH este ano. A expectativa � de que no ano que vem mais pessoas descubram o Le�o. Entre as novidades do para 2018, o bloco prepara 500 c�pias para distribui��o gratuita de um DVD comemorativo de seus 70 anos – esp�cie de document�rio sobre a hist�ria do bloco – camisas tem�ticas e uma festa especial. “Fechamos tamb�m uma parceria com o carnavalesco L�o Pil�. Ele vai elaborar para n�s a escultura de um le�o, alegoria que vai puxar o nosso cortejo. E, para quem n�o sabe, nossa banda � da melhor qualidade, formada por m�sicos da UFMG e do Pal�cio das Artes”, relata o presidente.
Os ensaios – ser�o dois, segundo Jairo – come�am na v�spera do desfile. Uma das organizadoras � Marli Pedra Pereira, de 62, madrinha do bloco. Sua hist�ria, tanto com o Le�o quanto com o carnaval da cidade, tamb�m � antiga. “Moro na Lagoinha e cresci vendo o Le�o. E sa�a n�o s� nele: j� fui porta-estandarte da escola de samba Unidos do Guarani por 20 anos tamb�m. O carnaval de BH era o segundo mais animado do pa�s, ficava atr�s s� do Rio de Janeiro. Fiquei triste quando acabou e agora estou muito satisfeita de ver essa anima��o toda brotar de novo”, comemora a enfermeira aposentada.
Le�es e leoas: a origem
Confira um raio-x da hist�ria do Le�o da Lagoinha, bloco carnavalesco mais antigo de BH
Funda��o: 1947
Origem: Terrestre Esporte Clube
Cores: vermelho e branco
S�mbolo: Le�o
Marca: homens saem �s ruas vestidos com trajes femininos e mulheres, com roupas masculinas
Origem: o bloco nasceu no antigo Terrestre Esporte Clube (TEC), equipe de futebol de v�rzea popular em BH, gra�as aos animados bailes proporcionados em sua sede social, na Rua Itapecerica. Como o TEC, na �poca, era patrocinado pelo time mineiro Villa Nova – cujo s�mbolo � um le�o – o grupo carnavalesco acabou batizado de “O Le�o da Lagoinha”.
Hino
Salve, salve, Le�o da Lagoinha!
Com suas pastoras, na avenida a desfilar
Estamos aqui sambando e botando para quebrar
Carnaval � com o Le�o, que nasceu para abafar
Salve, Salve o Le�o da Lagoinha!
Salve, salve, BH