Luxuosamente vestida para as festas de fim de ano, a Pra�a da Liberdade partilha com toda a popula��o de Belo Horizonte neste fim/in�cio de ano um robusto banquete de cultura, que vai muito al�m das centenas de milhares de microl�mpadas que a iluminam. Quem aceitar o convite e se sentar � mesa encontrar� card�pio variado, recheado por diversas atividades. A come�ar pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – um dos 15 equipamentos que comp�em o Circuito Liberdade –, onde h� atra��es tanto dentro quanto fora do pr�dio
At� 5 de janeiro, a fachada exibe uma proje��o com luz, som e efeitos tridimensionais. J� quem entrar pode sair com um presente para l� de criativo e original. Deixando para tr�s qualquer refer�ncia ao Papai Noel, � neve, aos duendes, e, sobretudo, ao Polo Norte, as prendas em quest�o s�o inspiradas no continente africano. � que o Setor Educativo do CCBB se preparou para uma atividade inspirada na exposi��o Ex Africa, maior mostra de cultura africana j� realizada no Brasil, em cartaz at� 30 de janeiro. Baseada nos costumes e tradi��es da �frica do Sul, a oficina convida cada visitante a levar para casa um presente feito por outro visitante.
O Museu Mineiro, por sua vez, est� em clima de celebra��o pelos 120 Natais de Belo Horizonte, com a exposi��o 120 anos: Primeiros registros, que conta a hist�ria da cidade por meio de quadros, documentos, fotografias e plantas cadastrais do projeto original de BH. Reaberta ap�s seis anos de inatividade, a Sala das Sess�es � outra atra��o do museu. Rec�m-restaurada, agora abriga pinturas de artistas como Manoel da Costa Ata�de (1762-1830), An�bal de Mattos, entre outros expoentes da pintura mineira acad�mica do in�cio do s�culo 20.
Embora esteja fechada a partir de hoje para o recesso de r�veillon, a casa Fiat de Cultura reabre dia 2 ainda em clima de Natal, com pres�pio colaborativo feito pelo p�blico, em atelier aberto e com a curadoria do artista pl�stico L�o Pil�. Os personagens – Jesus, Maria, Jos�, al�m da fauna e da flora do cen�rio – foram criados a partir de refer�ncias dos povos amer�ndios: ind�genas brasileiros, incas, maias e astecas. Todos os elementos foram elaborados com material reciclado e ficam expostos at� 6 de janeiro.
A filha rebelde de Aar�o Reis
Um s�culo e duas d�cadas depois de sua funda��o, a Pra�a da Liberdade que convida visitantes a se deixarem seduzir por seus encantos nesta �poca de f�rias escolares � uma esp�cie de filha rebelde, que rasgou os planos da fam�lia tradicional em pleno per�odo de festas. Transformou-se no que era, possivelmente, um dos maiores temores para Aar�o Reis (1853-1936), seu “pai” – um engenheiro afeito a ideias positivistas. Criada para se tornar o centro do poder do estado, tornou-se artista.
Reis bem que tentou amarr�-la � vida burocr�tica. N�o se contentou em situar no espa�o quatro imponentes pr�dios administrativos estaduais – o Pal�cio do Governo, al�m das secretarias de Fazenda, Educa��o e Obras e Vias P�blicas, presentes no projeto desde a inaugura��o, em 1897. Tratou de cerc�-lo de uma pequena guarda de “autoridades”. Jo�o Pinheiro, Bias Fortes (ex-governadores de Minas no in�cio da era republicana), Crist�v�o Colombo (“fundador” da Am�rica) e Floriano Peixoto (segundo presidente do pa�s) foram, afinal, os nomes dados �s quatro principais avenidas que levam ao local (se voc� n�o reconhece a �ltima, � porque ela atualmente se chama Avenida Brasil).
Mas basta um giro pelo Circuito Liberdade para perceber como tudo isso nunca combinou com a pra�a. O t�tulo de maior conjunto integrado de cultura do Brasil, conquistado em 2010, certamente lhe cai bem melhor. Que o digam seus frequentadores. “S�o novos tempos. A pra�a hoje n�o � mais do poder, ela empodera”, diz o estudante de ci�ncias sociais Gabriel Silva, ao descer por um dos elevadores do Centro Cultural Banco do Brasil – antiga sede da Secretaria de Seguran�a P�blica – onde acabara de contemplar a exposi��o Ex Africa.
Da entrada principal do CCBB, � poss�vel enxergar um bolinho de adolescentes abrigados sob a marquise da Biblioteca P�blica Luiz de Bessa, na Avenida Bias Fortes. “Adolescentes dos dias atuais ainda frequentam bibliotecas?”, poderia se perguntar um observador. Aqueles, no caso, n�o frequentam mesmo. De f�rias, o grupo se dirigia � Rua da Bahia, rumo a uma famosa rede de fast food gourmet da capital mineira. “Paramos aqui s� para chamar um Uber. Pesquisar em biblioteca? N�o, n�o, eu uso a internet mesmo. Mas j� entrei a�, s� de curiosidade mesmo”, diz Talita Ferreira, de 16.
Quem percorre os quatro andares do edif�cio erguido em 1954, no entanto, nem de longe pensa em um espa�o morto. Com intensa programa��o cultural, o lugar com mais de 570 mil exemplares e 100 mil associados vive em plena atividade. Destinado aos cegos, o segundo andar � o mais frequentado do dia. O setor tem hoje 1.600 t�tulos impressos em Braille, somando cerca de 6.100 obras, 2 mil audiolivros de literatura brasileira e estrangeira e 200 da �rea de direito. O objetivo � orientar deficientes visuais em pesquisas, possibilitar o acesso a informa��es e � literatura, al�m de aumentar a autoestima dessas pessoas.
Liliane Camargo, de 38, est� no setor estudando para um concurso. “Nas horas vagas, eu tamb�m pego livros emprestados, para ler em casa. J� li, por exemplo, v�rios da cole��o Harry Potter. Sou adulta, mas adoro!”, conta. Curiosidade: a vers�o em braile s� do livro Harry Potter e a pedra filosofal – o primeiro da saga – tem 21 volumes.
Bruno Silva, de 39, n�o � cego. Os �culos que ostenta corrigem apenas grau e meio de miopia. Designer, mestre em educa��o, � recifense. Estava na capital a trabalho, e na biblioteca, a passeio. Aproveitou as horas de folga para fazer turismo pela da Pra�a da Liberdade. Entre os equipamentos que j� havia visitado estavam o CCBB, o Memorial Minas Gerais Vale, o Centro de Arte Popular e a Casa Fiat de Cultura. “Se der, ainda quero dar um pulinho ao Arquivo P�blico Mineiro. Li no material de divulga��o do circuito cultural deste lugar t�o bonito que a maioria desses pr�dios foi projetada para ser o centro de poder da cidade. Hoje s�o espa�o de arte e cultura. Fiquei ainda mais encantado pelo lugar, visse? Tem um esp�rito meio parecido com o meu. Meu pai queria que eu fosse advogado. Teimei e virei artista. Vida longa � arte e a liberdade na Pra�a da Liberdade!” Um desejo que pode ser compartilhado por todos.
Banquete
de cultura
Confira a programa��o do Circuito Cultural Pra�a da Liberdade
» CCBB Educativo
O que tem: proje��o mapeada na fachada, atividade baseada na cultura africana de troca entre integrantes de uma mesma comunidade.
Onde, quando e quanto: Pra�a da Liberdade, nº 450, at� 31 de janeiro, das 11h �s 17h (o espa�o fecha nos dias 31 e 1º). Entrada gratuita.
» Museu Mineiro
O que tem: Exposi��o Belo Horizonte – 120 anos: Primeiros registros
Onde, quando e quanto: Avenida Jo�o Pinheiro, 342, �s ter�as, quartas e sextas, das 10h �s 19h, quintas, das 12h �s 21h, s�bado, das 12h �s 19h (o espa�o fecha nos dias 31 e 1º). Entrada gratuita.
» Centro de Arte Popular Cemig
O que tem: Exposi��o Aparecida 300 anos (iconografia da imagem de Nossa Senhora Aparecida)
Onde, quando e quanto: Rua Gon�alves Dias, nº 1.608, at� 7 de janeiro, ter�as, quartas e sextas, das 10h �s 19h. Quintas das 12h �s 21h. S�bado das 12h �s 19h (o espa�o fecha nos dias 31 e 1º). Entrada gratuita.
» Casa Fiat de Cultura (reabre dia 2)
O que tem: pres�pio colaborativo feito com material recicl�vel, inspirado nos povos amer�ndios.
Onde, quando e quanto: Pra�a da Liberdade, nº 10, at� 6 de janeiro, diariamente, das 10h �s 21h. Entrada gratuita.
Programa��o completa: circuitoculturalliberdade.com.br/plus