
Um pr�dio por vez, o cinza da paisagem urbana do Centro de Belo Horizonte vai ganhando tra�os, e os tra�os, cores que t�m a ambiciosa miss�o de dar � capital o t�tulo de dona do maior mirante de arte do mundo. Foi assim que um abra�o colorido se estendeu sobre a lateral do Edif�cio Pr�ncipe de Gales, na Rua dos Tupinamb�s, 179. No mesmo ritmo, duas mulheres dan�am sua liberdade na Rua dos Tupis, 70, chamando a aten��o e levando muita gente a fazer uma pausa no corre-corre da regi�o para contemplar as imensas telas. As duas novas obras, rec�m-finalizadas, fizeram parte da edi��o especial do Circuito Urbano de Arte (Cura), como forma de homenagear os 120 anos da cidade. Depois que quatro pain�is transformaram a paisagem em julho de 2017, em dezembro as outras duas j� ganharam forma e cor. Todas as obras podem ser apreciadas a partir da vista da Rua Sapuca�, no Bairro Floresta, na Regi�o Leste de Belo Horizonte, com direito a ilumina��o das 20h � 0h. E o melhor � que o Cura, que chegou no ano passado, d� mostras de que veio para ficar – e crescer: para este ano j� est�o previstas outras seis iniciativas para enfeitar ainda mais a paisagem urbana.
A ideia de fazer as pinturas surgiu pelo olhar da artista visual Priscila Amoni e das produtoras Juliana Flores e Jana�na Macruz. Onde a maioria avistava apenas paredes cinzentas e sem gra�a, elas vislumbraram telas que apenas aguardavam desenhos. Com o sonho de que a capital se torne refer�ncia internacional no conceito de arte urbana, o trio concebeu o Cura em julho. “Nosso intuito � transformar o mirante da Sapuca� no maior mirante de arte do mundo”, disse Juliana. E 26 pr�dios j� foram mapeados para ganhar telas. Na segunda quinzena de julho, mais meia d�zia deles deve se juntar aos seis j� pintados em 2017, expandindo a galeria. A nova fase deve contar com dois artistas mineiros, dois de outros estados e dois internacionais.

Para a edi��o extra do anivers�rio da cidade foram escolhidos o artista mineiro Davi Melo Santos, considerado uma lenda da street art, e a argentina Milu Correch, representante do novo muralismo. “A ideia foi criar a Europa abrancando a �frica, o negro abra�ando o branco. Um abra�o de todos os povos, sem qualquer distin��o de etnia; um abra�o contra o preconceito de todas as maneiras. O dia e a noite retrataram o contraste”, contou Davi, em frente � sua obra. A imagem, que prop�e uma reflex�o sobre o universo interior e transmite harmonia a quem a observa, foi um desafio para o artista. “� a maior empena que j� fiz. J� havia pintando pr�dios de at� tr�s andares quando morei fora, mas encarar os 18 andares dessa tela foi bem dif�cil”, contou o grafiteiro.
PODER FEMININO A argentina Milu Correch optou pela imagens de duas mulheres dan�ando nuas em um muro pichado, tendo como moldura um cart�o-postal da capital mineira: os arcos do Viaduto Santa Tereza. Por meio de uma t�cnica cl�ssica de pintura, a artista mostra o quanto o esp�rito feminino est� fortalecido. N�o por coincid�ncia, o Cura coleciona as tr�s mais altas telas da Am�rica Latina feitas por mulheres. “O circuito, desde o in�cio, preza pela bandeira da participa��o feminina. Existem muitas artistas de qualidade que precisam de espa�o. Mas, em geral, a arte urbana ainda � dominada pelos homens. N�o as chamamos por serem mulheres, mas porque s�o artistas de qualidade. A diversidade e a igualdade de g�nero sempre nos norteou. Al�m do maior mirante, queremos fazer a maior cole��o de murais pintados por mulheres”, afirmou uma das idealizadoras do Cura, Juliana Flores.
Com a pintura de uma mulher de corpo inteiro no Edif�cio Hotel Rio Jord�o, Priscila Amoni tamb�m retratou o poder feminino, principalmente o das negras, que para ela s�o as mais prejudicadas socialmente. No desenho, as plantas carregadas nas m�os e na cabe�a pela personagem retratam os desejos da artista para a cidade. “A dracena representa for�a, o alecrim, a alegria, a lavanda, calma, e a maranta, beleza. Para mim, a pintura � uma forma de ora��o, uma forma de amor”, diz Priscila. J� a muralista Marina Capdevilla escolheu a paisagem belo-horizontina para pintar o Edif�cio Trianon com elementos tipicamente nacionais como um cocar ind�gena, o pandeiro, instrumento que d� ritmo ao samba, uma m�scara de carnaval e um chap�u ao estilo Carmen Miranda.

ILUMINA��O Na noite do �ltimo dia 17, ocorreu a inaugura��o da ilumina��o permanente das obras. As organizadoras do Cura pontuam que, como o mirante da Rua Sapuca� se tornou um “point” noturno, nada mais apropriado que os pain�is fossem iluminados, para que pudessem ser admirados tamb�m � noite. O evento foi celebrado com queima de fogos e apresenta��o de DJs no corredor cultural que une os viadutos de Santa Tereza e da Floresta – que h� alguns anos vem sendo revitalizado, com a instala��o de restaurantes e, gra�as ao Cura, tem ficado conhecido tamb�m como o primeiro mirante de arte urbana do mundo.
Estreantes
» Edif�cio Pr�ncipe de Gales
Rua dos Tupinamb�s, 179
Artista: Davi Melo Santos (DMS)
» Garagem S�o Jos�
Rua dos Tupis, 70
Artista: Milu Correch
Veteranas
» Edif�cio Tapaj�s
Avenida dos Andradas
Artistas: Tereza Dequinta e Rob�zio Marqs (Acidum Project)
» Edif�cio Sat�lite
Rua da Bahia
Artista: Thiago Mazza
» Edif�cio Trianon
Rua da Bahia
Artista: Marina Capdevilla
» Hotel Rio Jord�o
Rua Rio de Janeiro
Artista: Priscila Amoni
Prefeitura faz concurso para mais 40 murais
A Prefeitura de Belo Horizonte lan�ou o edital do Concurso Gentileza, que vai selecionar propostas de murais de arte urbana. As inscri��es v�o at� 31 de janeiro, no site da PBH (https://prefeitura.pbh. gov.br/estrutura-de-governo/cultura/
gentileza). Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, ser�o selecionadas 40 propostas de murais de arte urbana apresentada por artistas individuais, grupos ou coletivos art�sticos. O objetivo � difundir a arte urbana pelas regionais da cidade, al�m de reconhecer a��es neste �mbito no munic�pio. Ser�o aceitas propostas de t�cnicas como grafite, est�ncil, pintura livre, sticker, lambe-lambe e muralismo.
A prefeitura informa que cada proposta selecionada receber� um pr�mio de R$ 7,5 mil e autoriza��o para executar a obra em espa�o p�blico ou privado de acesso p�blico irrestrito. O montante total disponibilizado para o concurso ser� de R$ 300 mil. As propostas ser�o selecionadas por uma comiss�o composta por seis membros indicados pela Secretaria Municipal de Cultura.
Os crit�rios ser�o hist�rico de realiza��es, portf�lio e curr�culo; exemplaridade da proposta, dimens�es compat�veis e originalidade da obra; grau de singularidade do local indicado para o mural art�stico; facilidade de acesso pelo p�blico; e forma da express�o cultural, considerando a diversidade de linguagens art�sticas. O nome do projeto remete a Jos� Datrino (1917-1996), conhecido como Profeta Gentileza, que percorria as ruas do Rio de Janeiro deixando inscri��es nas paredes que falavam de paz, amor e cordialidade entre as pessoas.