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Estado de Minas

Colis�es frontais nas rodovias mineiras tiraram a vida de mais de mil pessoas em tr�s anos

Descaso p�blico e imprud�ncia s�o a f�rmula de trag�dias em Minas. Palco de 89,7% das colis�es frontais, 97% das estradas n�o s�o duplicadas nem contam com plano nesse sentido


postado em 21/01/2018 06:00 / atualizado em 21/01/2018 07:45

Carreta faz ultrapassagem perigosa na BR-381 (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Carreta faz ultrapassagem perigosa na BR-381 (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

A reta de quatro quil�metros � um cen�rio que parece improv�vel para um acidente, dada a possibilidade de se enxergar o tr�fego oposto com boa antecipa��o. Mas nem essa condi��o favor�vel nem aparatos como os redutores de velocidade, quebra-molas e placas que restringem a velocidade de carros a 60km/h e a de caminh�es a 40km/h impediram que uma carreta invadisse, no �ltimo dia 13, a pista contr�ria da BR-251, em Gr�o Mogol, no Norte de Minas, e atingisse em cheio um micro-�nibus e uma van. A carga transportada, um outro caminh�o, se soltou da carroceria e atingiu mais uma van. O ve�culo de transporte leve de passageiros chegou ainda a bater em outra carreta, carregada com papel, que tombou e se incendiou. Ao todo, essa invas�o de pista causou a morte de 13 pessoas, um ferido grav�ssimo, 11 graves e 27 leves. A mobiliza��o para socorro do Samu, por exemplo, contou com 23 socorristas de sete ambul�ncias. A trag�dia n�o � um evento isolado, mas uma amostra do tipo de acidente que mais mata nas estradas: as colis�es frontais. As chances de morte numa colis�o frontal beiram os 40%.

S� nas rodovias federais de Minas Gerais, de 2015 ao primeiro semestre de 2017, dos 2.218 �bitos registrados em acidentes, 800 (36%) foram em batidas de frente. E as rodovias de pistas simples – muitas vezes sem nem sequer contar com acostamentos – correspondem a 97% das estradas que cortam o estado, sendo respons�veis por 89,71% desse tipo de desastre, segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea). Entre 2014 e 2016, foram 2.821 batidas frontais nas rodovias federais mineiras. Os acidentes causaram 1.091 mortes, �ndice de letalidade da ordem de 39%. A Pol�cia Militar n�o informou os n�meros das vias estaduais e federais delegadas. A reportagem do Estado de Minas circulou por rodovias de pistas �nicas federais e estaduais, e mostra ser frequente em todas elas a pr�tica de ultrapassagens indevidas, ignorando faixas cont�nuas.

Por vezes, esse tipo de manobra imprudente coloca em risco quem trafega no sentido oposto e s� tem como op��o ingressar no acostamento ou deixar a pista para n�o bater. “S�o realmente as formas mais graves de acidentes. Quando um ve�culo se choca frontalmente contra outro, as suas velocidades se somam nesse estrago. S�o, geralmente, a soma desses tr�s fatores: ultrapassagens indevidas, falta de aten��o dos motoristas e velocidade incompat�vel para o trecho”, afirma o porta-voz da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) em Minas Gerais, inspetor Aristides Amaral J�nior. O palco para isso, na vis�o do policial, tem sido realmente as rodovias sem duplica��o. “Nessas estradas, a postura do motorista e a falha humana s�o potencializadas”, conclui.

A mais perigosa continua sendo a BR-381, que passa por obras de duplica��o em alguns trechos do segmento norte, de Belo Horizonte a Governador Valadares. S� no ano passado, a rodovia nos segmentos norte e sul foi respons�vel por 121 �bitos, o que corresponde a 28% das 438 mortes registradas em todas as 15 federais divulgadas. As reten��es provocadas em sentidos alternados por conta das obras de duplica��o parecem ati�ar a irresponsabilidade dos motoristas, que tentam compensar o tempo parado com ultrapassagens perigosas. “Aqui � terr�vel. J� era antes desse tanto de obras, por causa das pistas simples e das sequ�ncias de muitas curvas. Ficou ainda mais perigoso nesse per�odo porque o motorista que sai do siga-e-pare quer tirar o atraso em cima das filas de caminh�es e acelera pela contram�o em locais proibidos, pondo em risco quem vem do outro lado”, afirma o caminhoneiro Allan Jorge dos Santos, de 42 anos, que diariamente cumpre o trecho BH-Valadares transportando refrigerantes numa carreta.

Nas rodovias estaduais n�o � diferente. Mesmo sem obras para testar a sua paci�ncia, os motoristas fazem ultrapassagens perigosas violando as faixas cont�nuas nos segmentos de Rio Acima a Nova Lima, da MG-030, e o de Nova Lima a Itabirito, da BR-356, que � concedida ao estado. Na BR-356, as cenas de imprud�ncia da Estrada do Ouro se sucedem logo ap�s os acessos aos condom�nios da Lagoa dos Ingleses. A maioria das manobras � feita por motoristas de carros, motos e caminhonetes que ficam impacientes com o lento deslocamento dos caminh�es e carretas na subida. Logo que vencem o cume do morro e atingem uma parte mais plana, esses condutores ingressam bruscamente na contram�o, mesmo em faixa cont�nua, e aceleram forte para ultrapassar carretas e caminh�es ainda em desenvolvimento. Em algumas dessas manobras, acabam dando de cara com ve�culos vindos em sentido oposto, que, por seguran�a, s�o levados a desacelerar e entrar no acostamento. O mesmo ocorre na chamada Serra da Santa, trecho sinuoso entre Nova Lima e Itabirito onde, numa mesma fila de carros, v�rios invadem de uma s� vez a pista oposta para efetuar ultrapassagens proibidas. A Pol�cia Militar n�o divulgou dados relativos a acidentes nas rodovias sob sua jurisdi��o e que fazem parte da maior parte da malha mineira.


Muita promessa, pouca obra

O reduzido n�mero de estradas duplicadas e o crescente tr�fego imposto a essas vias invariavelmente estimula o comportamento inconsequente dos motoristas, de acordo com os estudos do Ipea. Para se ter ideia, de acordo com o Secretaria de Estado de Transportes e Obras P�blicas (Setop), n�o h� nenhum projeto de duplica��o de rodovias mineiras, apenas de concess�o, para que isso seja realizado pela iniciativa privada. Atualmente, est�o dispon�veis dois editais, sendo um deles para a concess�o da rodovia MG-424, do entroncamento com a MG-010, em Vespasiano, at� a entrada de Sete Lagoas. O outro se refere � BR-135, do km 367,65 ao contorno de Montes Claros (entroncamento das BRs 135, 122, 251 e 365) e o km 668,85, no entroncamento com a BR-040. No mesmo edital ser�o concedidas tamb�m a MG-231, de Cordisburgo � BR-040, e a LMG-754, de Curvelo a Cordisburgo.

A duplica��o da BR-381 vem sendo prometida desde a d�cada de 1990 e mais uma vez � alvo de descaso. Atualmente, h� obras previstas e sendo realizadas em apenas dois dos 11 lotes do segmento de 303 quil�metros entre Belo Horizonte e Governador Valadares, e que assim foi dividido pelo edital do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A atual ordem de execu��o foi assinada em 2014, pela ent�o presidente Dilma Rousseff (PT). Em agosto �ltimo, os primeiros sete quil�metros de pistas novas foram entregues entre Itabira e Bar�o de Cocais. At� o primeiro semestre de 2017 foram liberados cerca de R$ 530 milh�es para as obras e outros R$ 340 milh�es que estavam previstos n�o chegaram a ser gastos.

As atuais concess�es tamb�m n�o engrenaram com a duplica��o dos trechos de rodovias, mantendo longas extens�es ainda com pistas simples. A Via 040chegou a duplicar 74 quil�metros em Minas Gerais, de acordo com a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), pouco mais de 10% do inicialmente previsto. Contudo, a Invepar, que est� � frente da concession�ria, j� ingressou com pedido para a devolu��o da rodovia ao governo, ou seja, n�o se pretende mais duplicar nenhum segmento da via no sentido Bras�lia. A Triunfo tamb�m tem planos para duplicar trechos da BR-262 em Minas, mas at� hoje nem um quil�metro foi ampliado. A rodovia MG-050, primeira parceria p�blico-privada de MG, tamb�m segue com poucos trechos duplicados.


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