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Estado de Minas

Funcion�ria de hospital de BH abriga parentes de v�timas da febre amarela

Moradora do Bairro Bonsucesso mant�m casa pr�xima ao Hospital Eduardo de Menezes para acolher familiares de pacientes do interior internados na unidade com febre amarela


postado em 25/01/2018 06:00 / atualizado em 25/01/2018 07:44

Ivanilda Cândida (C) entre as irmãs Nilma e Fátima Pena, que estão com um parente com diagnóstico confirmado da doença (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Ivanilda C�ndida (C) entre as irm�s Nilma e F�tima Pena, que est�o com um parente com diagn�stico confirmado da doen�a (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

 

Ela tem 49 anos, mas at� pessoas da mesma idade ou mais velhas a chamam de m�e. Anjo da guarda � outro nome que ganhou. Faz sentido. Age mesmo como uma m�ezona ao dar abrigo e carinho e como um ser dos c�us ao aparecer na hora mais improv�vel na vida de familiares de pacientes do interior do estado internados no Hospital Eduardo de Menezes, no Barreiro, em Belo Horizonte, com suspeita ou diagn�stico de febre amarela. H� um ano, a auxiliar administrativa Ivanilda C�ndida Silva mant�m uma casa no Bairro Bonsucesso, em endere�o pr�ximo � unidade de sa�de, para acolher quem chega repentinamente, sem conhecimento da capital e, muitas vezes, sem dinheiro no bolso.

A casa � simples. Fica numa rua de terra, que ainda est� no papel � espera de pavimenta��o e com um c�rrego a c�u aberto passando bem em frente. Dentro, limpeza e organiza��o impec�veis. E espa�o para receber quantos forem necess�rios. A ideia veio ano passado, em pleno surto da doen�a. Funcion�ria do Eduardo, ela acompanhou de perto o quadro dos pacientes e a desola��o dos parentes. “As pessoas chegavam daquelas zonas rurais brabas, sem um centavo no bolso. Enquanto o paciente estava na ala, o acompanhante podia ficar. Mas, com dois ou tr�s dias, ia para o CTI (centro de tratamento intensivo). E o familiar ficava sentado nas cadeiras”, lembra. “Os funcion�rios se reuniam para comprar caf�, p�o e oferecer para eles, porque nosso medo era de que morressem antes do paciente. As pessoas estavam passando fome, n�o tomavam banho, nem dormiam”, conta. “Ningu�m nessa vida � coitado. � preciso p�r a m�o na massa e ajudar.”

Ivanilda procurou tr�s amigos para, juntos, tentarem uma solu��o. Alugaram uma casa perto do hospital e, durante dois meses, receberam o pessoal. Acabou o surto, manteve a casa aberta para acolher parentes de doentes diversos tamb�m do Hospital Metropolitano do Barreiro. Este ano, a casa, que agora mant�m sozinha, mudou de endere�o, mas continua nos arredores do Eduardo de Menezes. Embora tenha casa pr�pria no bairro, n�o deixa seus protegidos sozinhos. E acaba se mudando para l� temporariamente. Atualmente, 100% da ocupa��o � em decorr�ncia da febre amarela, com pessoas de Mariana e Bar�o de Cocais, na Regi�o Central do estado, e Brumadinho, na Grande BH. Mulheres se dividem em dois quartos e homens se acomodam em colch�es pela sala ou cozinha.

At� sexta-feira passada, eram 10 pessoas. Ontem, havia seis. Nesse tempo, se habituou a ver a alegria de quem vai para casa com o ente querido de alta e a dor de quem o perde para a doen�a. O trabalho, que � totalmente independente e sem v�nculo com Eduardo de Menezes, acabou ganhando uma forcinha da assist�ncia social do hospital, que encaminha o pessoal. Assim que � avisada sobre a chegada de algu�m, Ivanilda busca no hospital e cuida dele at� a volta para casa. “As pessoas n�o sabem nem andar aqui, ent�o, me ocupo de tudo. Em caso de �bito, at� dos procedimentos burocr�ticos aqui e na cidade de origem. E aqueles que n�o t�m condi��o de comprar a passagem de volta, nem quem possa buscar, negocio para que v� no carro funer�rio. E pe�o que me ligue ao chegar, para eu saber se tudo correu bem. A�, minha miss�o acabou.”

Emocionada, ela relata que s� pede a Deus para lhe dar sa�de para continuar. “Quem est� de fora n�o v� a gravidade dos fatos. � muito do�do. E imagina a fam�lia acompanhando sem ter onde ficar? Todas as alas e o CTI do hospital est�o entupidos. L� est� fervendo de casos, muitos sem confirma��o. A gente fica muito agradecido quando a pessoa sai.”

O sal�rio que recebe como funcion�ria do hospital vai todo no pagamento de �gua, luz e aluguel da casa de apoio. Para as despesas pessoais, se vira com o dinheiro como professora de dan�a do ventre e vendendo roupas e bijuterias. Para a alimenta��o dos acolhidos, conta com doa��es. Todos os m�veis tamb�m foram doados. “Quem fica aqui e pode contribuir com algo acaba ajudando tamb�m. Mas n�o � obrigat�rio. E quem n�o tem um centavo, come e bebe do mesmo jeito”, diz. “Fa�o com prazer e n�o procuro recompensa, nada. Quando fazemos de cora��o, Deus multiplica.” Embora sem registro, ela j� tem o nome do local: Casa de Apoio C�ndida, em homenagem � m�e, Maria C�ndida. “Sou o chaveirinho da minha m�e. Ela era o que sou hoje.”
Entrada da residência pode ser até simples, segundo a auxiliar administrativa, mas cabe muita gente(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Entrada da resid�ncia pode ser at� simples, segundo a auxiliar administrativa, mas cabe muita gente (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

Uma das �ltimas ocasi�es marcantes foi o Natal. No dia 22, apenas uma mulher que tinha a filha internada no CTI estava na casa. Pensou em pedir ao hospital para liberar a m�e de passar a noite de 24 com a filha j� que, sem ter recebido o 13º sal�rio, n�o teria condi��es de fazer a ceia. Quando achou que tudo estava resolvido, no dia seguinte, sete pessoas apareceram na casa. Na v�spera do Natal, postou mensagem no grupo de WhatsApp da dan�a do ventre perguntando se algu�m podia ajudar. �s 16h30, as respostas come�aram a chegar. Uma amiga doou um pernil, uma outra uma torta doce e uma terceira levou a ceia completa, com direito a decora��o, montagem da mesa e presentes. A fartura foi tanta, que sobrou alimento para a ceia do r�veillon. “Foi maravilhoso e aliviou o sofrimento daquelas pessoas.”

Embora tenha o registro e o contato de todos, Ivanilda n�o sabe dizer quantas pessoas passaram por ali ao longo de quase um ano. Mas todos os dias, como faz quest�o de contar, recebe in�meras mensagens de bom dia, noite e de agradecimentos. “E ai de mim se n�o responder”, diz, com o sorris�o contagiante estampado no rosto.

AJUDA A dona de casa F�tima Pena, de 45 anos, est� com o marido internado por febre amarela no Eduardo de Menezes desde s�bado, com diagn�stico confirmado. Chegou acompanhada da irm�, Nilma Pena, de 42. Moradoras de Santa Rita Dur�o, distrito de Mariana, quando soube que viriam para BH, Nilma pensou em pedir apoio a uma cunhada que mora no Bairro Gl�ria, na Regi�o Noroeste da capital. Mas, logo na chegada ao hospital, encontraram uma conterr�nea que lhes falou da casa. O contato foi feito pelos funcion�rios do Eduardo. “Soube que daqui � mais longe do que ir para Mariana. Estamos muito perto, f�cil de visitar e resolver tudo. S� de termos cama para dormir e chuveiro, est� �timo”, afirma Nilma.

F�tima tem certeza de que o marido foi picado no s�tio onde moram. Ningu�m da fam�lia era vacinado. “Ele internou andando e falando. Hoje, est� entubado. De ontem para hoje, n�o houve melhora, mas tamb�m n�o houve piora, o que j� foi uma boa not�cia. Agora � esperar. Enquanto h� vida, h� esperan�a. Uma hora eu perco, outra, eu agarro. N�o fosse a casa, n�o sei como far�amos, pois n�o conhe�o nada em BH.”

 

 

Boletim


De acordo com o �ltimo boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Sa�de (SES), 25 pessoas morreram em BH de febre amarela no per�odo 2017/2018. Os n�meros podem aumentar, pois 12 �bitos ainda est�o em investiga��o. Foram confirmados 22 casos de pacientes que est�o internados ou j� tiveram alta. Outros 87 que j� sa�ram do hospital ou est�o sob cuidados m�dicos est�o sendo analisados.

 

 

 

Situa��o de emerg�ncia


Vi�osa, na Zona da Mata, � o terceiro munic�pio a decretar situa��o de emerg�ncia por conta do surto de febre amarela em Minas Gerais. O decreto foi assinado pelo prefeito �ngelo Chequer (PSDB) na ter�a-feira e tamb�m considera a imin�ncia de surto de dengue. Por meio do decreto, o Executivo municipal poder� adotar medidas administrativas para a conten��o do surto, como aquisi��o de insumos e materiais e a contrata��o de servi�os de pessoa de forma emergencial por tempo indeterminado.

 

 


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