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Estado de Minas

Qual a rela��o do surto de febre amarela com o desastre de Mariana?

Boatos que se espalham nas redes sociais relacionam o rompimento da Barragem de Fund�o, em Mariana, � dissemina��o da febre amarela. Textos s�o atribu�dos a fontes que negam ter qualquer rela��o com isso


postado em 28/01/2018 07:00 / atualizado em 28/01/2018 08:18


A destrui��o de mais de 1.775 hectares de margens da bacia do Rio Doce – sendo 324 de mata atl�ntica (equivalentes a 453 campos de futebol) –, a morte de toneladas de peixes, a falta de confian�a na �gua que abastece comunidades e a suspens�o da pesca s�o notoriamente culpa do rompimento da Barragem de Fund�o, da Mineradora Samarco, em 2015. Esses estragos s�o reconhecidos pelo Ibama, ICMBio e secretarias de Meio Ambiente de Minas Gerais e do Esp�rito Santo. Mas um boato que corre desde o ano passado tem colocado tamb�m na conta do maior desastre socioambiental do Brasil a dissemina��o da febre amarela.


(foto: Montagem sobre fotos de Divulgação)
(foto: Montagem sobre fotos de Divulga��o)

N�o adianta especialistas refutarem essa informa��o ou institui��es garantirem n�o haver estudos que possam relacionar o rompimento da barragem com o surto da doen�a tropical: a penetra��o das redes sociais acaba refor�ando essa teoria sem qualquer embasamento, com a repostagem exponencial do texto, muitas vezes atribu�do a fontes que negam qualquer rela��o com isso. A degrada��o ambiental, segundo especialistas, � um importante componente no alastramento do surto, bem como a deficiente cobertura vacinal em regi�es end�micas como o estado de Minas Gerais.

O boato ganhou for�a ap�s uma entrevista da bi�loga M�rcia Chame, da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), em que ela atribui a explos�o do n�mero de cont�gios ao desastre que se originou em Mariana. A Fiocruz informa, no entanto, que a declara��o da especialista n�o limitava a ocorr�ncia do surto a esse rompimento em espec�fico e isoladamente, mas a uma sequ�ncia ampla de a��es de devasta��o que v�m tirando o h�bitat de macacos contaminados e os aproximando das �reas urbanas no �ltimo s�culo. “N�o h� nenhum estudo da Fiocruz que comprove ou indique uma rela��o direta entre o rompimento da barragem e o surto de febre amarela”, informou a assessoria de imprensa da funda��o. “O processo � complexo. Temos impactos com muitas origens ao longo da hist�ria. Antes, o ciclo de febre amarela se mantinha na floresta”, declarou a especialista.

Outra publica��o com o mesmo teor circulou sendo atribu�da a um dos mais influentes bi�logos e ambientalistas do Brasil, Andr� Ruschi, morto v�tima de uma infec��o em abril de 2016. O texto que cita o ecologista destaca como fonte o Museu de Biologia Professor Mello Leit�o, do Esp�rito Santo, onde Ruschi trabalhava. Pela postagem, o cientista e um amigo teriam visitado uma fazenda atingida pela lama onde perguntaram a um funcion�rio se ele vinha ouvindo sapos coaxando. A resposta teria sido negativa e, com isso, segundo a publica��o, Ruschi respondeu: “Ent�o se preparem para um surto de febre amarela, pois, sem peixes e sapos � inevit�vel isso acontecer”, afirma o post, insinuando que a multiplica��o dos mosquitos foi favorecida pela pavimenta��o das lagoas marginais e dos ber��rios de peixes e girinos.

Contudo, o Museu de Biologia Professor Mello Leit�o (INMA) se adiantou ao boato, negando ter qualquer rela��o com o texto que o cita como fonte. “Trata-se de um perfil falso, que utiliza um nome invertido do Museu Mello Leit�o, como tamb�m � conhecido, aparentando tratar de informa��o do museu. Por violar as regras do Facebook, o post foi denunciado e retirado do ar. Qualquer material ali publicado n�o tem origem nem expressa a opini�o do INMA nem de pessoas que o representam”, informou a institui��o.

 

 

INVESTIGA��ES De acordo com o subsecret�rio de Vigil�ncia e Prote��o � Sa�de, Rodrigo Fabiano do Carmo Said, n�o h� estudos que embasem essa rela��o, mas h� investiga��es sendo feitas. “Entendo que � uma afirma��o que precisa de confirma��o cient�fica. Trata-se mais de especula��o do que de fato comprovado. � importante ser estudado, h� institui��es fazendo isso, mas precisamos pensar que tamb�m existem outras regi�es com casos humanos e epizootias (de animais) que n�o foram atingidos pela barragem e nem est�o pr�ximos”, disse o subsecret�rio.

O bi�logo Carlos Alfredo Joly, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tamb�m j� tratou sobre esse caso, que considerou como uma falha de interpreta��o. “O surto tem mais rela��o com a falta de cobertura vacinal das �reas com recomenda��o de vacina do que com a devasta��o que a bacia do Rio Doce sofreu. Por si s� grav�ssima, j� que compactou o solo e pode impedir que em uma gera��o as matas destru�das voltem a ser como foram uma vez”, afirmou. Entre julho de 2014 e dezembro de 2016, quando os primeiros pacientes do surto come�aram a adoecer, a ocorr�ncia de casos humanos foi compat�vel com o per�odo sazonal da doen�a. Por�m, o Minist�rio da Sa�de alertou o governo mineiro que a morte de macacos em per�odos considerados anormais indicava que as condi��es eram favor�veis � propaga��o da virose entre humanos, o que exigia a��es e esfor�os adicionais de vigil�ncia, preven��o e controle. Contudo, a cobertura vacinal da �poca no estado, que tem indica��o de vacina��o em praticamente todo o territ�rio, n�o passou de 47%. Atualmente, est� em 82%.

Um dos estudiosos dos impactos da trag�dia de Mariana e que j� ministrou pain�is com a tem�tica da rela��o da febre amarela com o rompimento da barragem � o bi�logo e professor de ecologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) S�rvio Ribeiro. De acordo com o especialista, um desequil�brio maior poderia ter ocorrido caso o rejeito da barragem tivesse invadido as florestas das regi�es atingidas pelo v�rus antes da Barragem de Candonga, que absorveu cerca de 20 milh�es de metros c�bicos de lama em seu reservat�rio. Nas por��es al�m da barragem, trechos do m�dio e baixo Rio Doce, a lama n�o chegou a sair da calha do rio, n�o afetando a vegeta��o ciliar ou reservas florestais. “(Essa rela��o dos surtos de febre amarela com o rompimento da barragem) n�o faz muito sentido. As popula��es de mosquitos, macacos e v�rus est�o intrinsecamente relacionadas ao interior da mata”, disse.


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