Segundo levantamento da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), foram registradas 76 ocorr�ncias relacionadas com o temporal, sendo 51 casos de enchente ou alagamento. O �nico acidente fatal ocorreu no Bairro Coqueiros, Noroeste de BH, onde H�lio Oliveira Lopes, de 73 anos, morreu e duas pessoas ficaram feridas ao serem atingidas pelo desabamento de um muro. Duas moradias vizinhas ao local foram interditadas, pelo risco de serem afetadas estruturalmente caso ocorresse outro desmoronamento. A chuva tamb�m causou quedas de �rvores, segundo o levantamento, e danos a im�veis, como trincas e infiltra��es. A Comdec divulgou alerta informando que mais pancadas de chuva com rajadas de vento podem ocorrer at� amanh�.
Mesmo com a a��o r�pida de funcion�rios da Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU), os vest�gios dos estragos eram vis�veis na regi�o. Em toda a extens�o das duas avenidas podiam ser vistos grandes placas de concreto e asfalto, troncos e ra�zes de �rvores, al�m de muito lixo, principalmente pl�stico, agarrado a grades de prote��o, postes e �rvores. Na entrada da Esta��o S�o Gabriel, de integra��o entre �nibus e metr�, se formou um grande lago, o que deixou apenas uma pista para passagem de ve�culos menores. A Avenida Cristiano Machado tamb�m teve faixas interditadas devido a buracos abertos no pavimento em pontos como o Bairro Cidade Nova, onde uma viatura do Samu ficou ilhada em meio ao alagamento no s�bado.
Alguns comerciantes come�aram a limpar a sujeira deixada pela enxurrada ainda na noite de s�bado. Elizeu Te�filo Vieira, dono de uma banca de revistas na conflu�ncia das ruas Coronel Pedro Paulo Penido, Jornalista T�lio Berti e Gon�alves Coelho, na Cidade Nova, atr�s da Feira dos Produtores, chegou �s 4h da madrugada para colocar tudo em ordem e receber os fregueses j� nas primeiras horas da manh�. Seu funcion�rio, Natalino de Jesus da Cruz, foi quem tentou salvar algumas mercadorias durante o temporal. Mesmo assim, o preju�zo chegou a R$ 8 mil, segundo c�lculos preliminares de Elizeu. “Foi tudo muito r�pido, em menos de cinco minutos a �gua j� estava na minha cintura. Tentamos tirar o que pudemos, mas pelo menos as tr�s estantes mais pr�ximas do ch�o foram afetadas”, contou.

Dona de uma loja de doces e salgados que tem na oferta de frango assado aos domingos um de seus melhores itens de vendas, V�nia L�cia de Oliveira Ferreira chegou ao ponto, na Avenida Bernardo Vasconcelos, t�o logo passou o temporal. H� pouco mais de um ano no local, foi sua primeira experi�ncia com as enchentes que s�o recorrentes na avenida. “Assim que passou a chuva viemos para iniciar a limpeza, porque fica mais f�cil antes de a lama secar.” O prop�sito era reabrir logo pela manh�, entretanto a comerciante preferiu esperar a avalia��o de um eletricista, pois todas as tomadas ficaram cheias de lama. “Tive medo de ligar equipamentos e provocar curto-circuito, danificando o maquin�rio e aumentando o preju�zo”, contou.
Com rodos e vassouras, Jaqueline Oliveira tirava a lama de sua loja de armarinho, na mesma avenida, e disse que tamb�m passou pelo sufoco pela primeira vez. Estabelecida na regi�o h� dois anos e moradora das proximidades, ela contou que a loja estava fechada no momento da chuva e uma sobrinha que mora em frente avisou sobre a inunda��o. Ela disse que n�o chegou a perder mercadorias, e acredita que as placas de prote��o comuns em lojas e pr�dios da regi�o impediram que a �gua entrasse com mais for�a e atingisse partes mais altas.
Crian�as escapam de desabamento
No Bairro Coqueiros, al�m dos danos materiais, a fam�lia ainda chora a morte de H�lio Oliveira Lopes, atingido pelos escombros do muro que ruiu. Tr�s pessoas ficaram feridas: Edna Rodrigues David, A.S.D., de 15 anos e M.C., de 17, que teve o bra�o fraturado no momento do desabamento e foi quem saiu dos escombros para pedir ajuda a parentes e vizinhos. Edna continuava internada na tarde deste domingo no Hospital Jo�o XXIII. As duas adolescentes foram atendidas no Hospital Odilon Behrens e liberadas ainda no s�bado. Segundo testemunhas, crian�as filhas de moradores vizinhos costumavam ficar na casa atingida, e por pouco a trag�dia n�o foi ainda maior.
Cunhado de H�lio, Wellington Rodrigues contou que por volta das 16h de s�bado foi chamado para ajudar a socorrer seus familiares que estavam debaixo dos escombros. “Tinha ouvido um barulho muito forte e quando cheguei vi uma das meninas com o corpo coberto de lama at� o pesco�o e a Edna sendo prensada por dois pared�es. Gritei pelo meu cunhado, mas ele j� n�o respondia.”
Edna tinha dificuldades para respirar, contou Wellington, que encontrou for�as para usar uma viga de madeira e levantar o pared�o para que a v�tima pudesse respirar. “O desespero foi tamanho que nem senti o peso daquela muralha”, disse. Ele sustentou a viga por 10 minutos at� a chegada do Corpo de Bombeiros, o que pode ter salvado a vida da mulher.
No local moram 12 pessoas em tr�s moradias. Edna tomava conta de filhos de vizinhas que trabalham fora. Geralmente s�o sete crian�as, mas pouco antes do desabamento havia no local tr�s pequenos que, por sorte, estavam em um quartinho de recrea��o. “Foi a salva��o, pois a trag�dia teria sido maior”, contou, emocionado, Wellington. O muro desabou sobre a cozinha, onde estava H�lio, e sobre parte da sala da casa.
De acordo com a testemunha, a agilidade do Corpo de Bombeiros salvou as outras v�timas. Bastante abalado, Wellington agradeceu tamb�m a solidariedade dos vizinhos e o apoio das equipes da Defesa Civil. Ele disse que os moradores dos dois im�veis interditados se abrigaram em casas de parentes e amigos. Segundo a Comdec, a Pol�cia Civil ainda vai vistoriar o local, pelo fato de ter ocorrido morte no acidente.