
As debutantes capricharam no ensaio e fizeram bonito na entrada triunfal no sal�o de festas. Ao som de uma m�sica havaiana e sauda��es de Aloha!, o grupo de 10 esbanjou charme, distribuiu sorrisos, recebeu aplausos animados de parentes e amigos e, claro, flashes em profus�o. Pela ordem, desfilaram Nicole, Let�cia, Juliana, Paola, Nat�lia Fernanda, Nat�lia Cristina, Vanessa, Camile, Lorena e Vit�ria, todas com saias rodadas, motivos florais na estampa, tiaras de rosas mi�das prendendo os cabelos. Assim como uma vida nunca � igual a outra, a n�o ser num momento de felicidade coletiva, as jovens mostraram emo��es bem particulares e atra�ram todos os olhares. Amparada por um andador, Lorena surgiu confiante e, entre um passo e outro, tirava as m�os da barra e fazia movimentos com os bra�os no ritmo hula-hula.
O baile terminou na madrugada de ontem, no Bairro Jardin�polis, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, fruto do projeto solid�rio Realizar Sonhos, coordenado por Audrey Elizabeth Rezende Fid�lis. Para a quarta edi��o do evento, o terceiro no Espa�o Even, tamb�m cedido generosamente, ela arregimentou grande n�mero de amigos. “Tenho aqui, nesta noite, 100 pessoas ajudando. As meninas ganharam tudo, da maquiagem ao book de fotos. Ali�s, h� um fot�grafo para cada uma”, afirmou Audrey, destacando a presen�a de uma jovem da capital, outra de Ibirit�, tr�s de Sabar� e tr�s de Contagem, na Grande BH, e duas de Barbacena, na Regi�o Central. Entre elas, quatro cadeirantes na mesma empolga��o.
Meia hora antes de os convidados come�arem a chegar, Lorena Oliveira de Paula ainda se entregava aos cuidados da equipe de maquiagem e cabelo. E n�o perdia tempo, registrando tudo no celular. “Estou muito feliz, � um dia especial”, contou a jovem, que alterna os movimentos numa cadeira de rodas com o andador. Acometida por um c�ncer na coluna, a garota toma um “mont�o” de rem�dios, conforme ressaltou, e n�o perde o bom humor. Aproveitou o dia de princesa, riu bastante com as amigas que a acompanhavam e concordou no momento em que uma delas alfinetou: “Lorena � assim mesmo. Quando quer, anda. Quando n�o quer, a gente tem que ficar empurrando a ‘folgada’”.

ALTO ASTRAL
Tudo bem organizado, cada fam�lia com o nome da debutante � mesa, equipe de cerimonial de olho em todos os detalhes, cartazes com as fotos das meninas pelo sal�o e clima de alto-astral no ar. Pelo tipo de festa, a sauda��o havaiana Aloha! (ol�, bem-vindo) caiu bem. Para Nicole Cristina Martins, de Sabar�, era a realiza��o de um sonho. “Aproveito a oportunidade, pois minha fam�lia n�o teria condi��es de fazer uma festa assim. Cheguei aqui cedo, tive um dia inesquec�vel.” Sentada num balan�o na hora de posar para fotos, Paola Let�cia Fernandes Neves, de Barbacena, encontrou na palavra gratid�o a melhor forma de traduzir os sentimentos. “Fiz amigas e tenho certeza que ser�o para sempre”, observou a menina.
Tamb�m de Barbacena, Juliana Clara Pereira do Nascimento era o retrato da felicidade e determina��o. Cadeirante, a garota, que pretende estudar medicina, gostou do ambiente, da decora��o e da maquiagem. “Nada me impede de fazer o que gosto. Vou � escola sozinha e, se preciso vir � capital, para ficar na casa da minha irm�, Gisele, pego o �nibus e ela me espera na rodovi�ria”, disse Juliana, revelando que ficou um pouco ansiosa com os preparativos, mas depois foi se acalmando. “Sou cadeirante e n�o me incomodo se falarem algo sobre isso. Nunca sofri preconceito e tamb�m n�o vou ficar parada em casa.”
Sobre a mesa de doces, Juliana descobriu um detalhe que fez o cora��o bater no compasso da inclus�o: uma boneca vestida com roupa de festa e na cadeira de rodas. “Achei muito bonito, um gesto carinhoso dos organizadores.” No momento da foto oficial perto da mesma mesa, a turma exibiu, em sorrisos, seus agradecimentos pela celebra��o e deixou apenas os olhos brilhando, sem pingar uma l�grima para n�o borrar a maquiagem.

Uma causa, muitos padrinhos
Comerciante do setor de festas infantis, Audrey teve a ideia de promover a comemora��o de debutantes em 2014, ao visitar uma fam�lia muito pobre da Vila Pinho, na Regi�o do Barreiro: “A m�e estava gr�vida do d�cimo terceiro filho. Uma das filhas, adolescente, revelou seu sonho de debutar”. Da� em diante, ela reuniu os amigos no grande projeto denominado Doando com o cora��o, do qual Realizar Sonhos � um dos bra�os, e levou adiante seus planos, promovendo o primeiro baile no ano seguinte. As garotas est�o na faixa de 15 anos, mas, para as portadoras de necessidades especiais, o c�u � o limite.
“Vamos fazer mais uma edi��o em 9 de agosto, que j� tem o nome das meninas”, adianta. Para selecionar o pr�ximo, s�o abertas inscri��es. A etapa seguinte � visitar cada casa a fim de conhecer a realidade. “� uma iniciativa muito s�ria, solid�ria, por isso apoio”, observa o empres�rio e publicit�rio Marcos Faria, que cedeu gratuitamente o Espa�o Even pela terceira vez.
V�rios momentos emocionantes marcaram a festa, que come�ou quinta-feira, �s 21h, teve a tradicional valsa e acabou �s 2h de ontem, com todo mundo se esbaldando na pista de dan�a ao som de funk. “Tudo na vida tem seu tempo e sua hora. Nunca imaginei que ela pudesse um dia participar de uma festa desse tipo”, disse a dona de casa Luzia das Gra�as, vi�va, acompanhando a filha Nat�lia Cristina Batista, moradora de Contagem e portadora de uma s�ndrome rara. Com 27 anos e cadeirante, ela dan�ou a valsa com o irm�o Kennedy Argentino Batista, de 35, cuidador. “Trata-se de uma realiza��o para nossa fam�lia, um exemplo de supera��o na vida e na hist�ria da Nat�lia”, garantiu Kennedy. Com paralisia cerebral, Vanessa Lima Magalh�es, de 22, de Contagem, valsou com a m�e, Maria L�cia Pereira Lima.
Acompanhada da av�, Marina Paula da Silva, Camile Cristine de Paula, de 23, de Contagem, fez a alegria da fam�lia. “A gente n�o pode desvestir um santo para vestir outro. Estou muito feliz aqui”, disse a av�. Perto dali, outra turminha animada curtia a noite. Para Let�cia Cristina Augusta Carneiro Rodrigues, de Sabar�, uma data assim marca a vida para sempre. Vit�ria Cristina Almeida Ricardo, de Sabar�, encontrava na express�o “Gra�as a Deus” um resumo de tanta felicidade.