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Estado de Minas

Sem obras de drenagem, BH fica ref�m dos efeitos das chuvas

No s�bado, v�rios trabalhadores contabilizaram preju�zos por causa da �ltima cheia. Eles cobram a��es para evitar desastres


postado em 18/03/2018 07:00 / atualizado em 18/03/2018 07:26

Lojistas retiram imóveis na loja no Prado que foi invadida pela lama(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Lojistas retiram im�veis na loja no Prado que foi invadida pela lama (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

“Sem obras de drenagem, ainda v�o morrer pessoas aqui. S� n�o sabemos quando.” O apelo � Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) por interven��es na rede de drenagem veio do comerciante Marlon Neiva, dono de um estacionamento que foi invadido pela �gua da inunda��o desta �ltima sexta-feira, na regi�o do Prado, Oeste de BH, mas traduz o desespero de muitos outros lojistas que se viram encurralados pelas enxurradas que devastaram os arredores da Avenida Francisco S�.

Nesse s�bado, v�rios desses trabalhadores contabilizaram os preju�zos causados pela cheia. O pr�prio Marlon pensava estar protegido depois de ter instalado dois grandes port�es de a�o com veda��o contra inunda��es, mas que n�o suportaram a for�a da correnteza, alagando seu estabelecimento. “Tive de mandar consertar o port�o. Ficou todo amassado, porque a �gua arrastou carros que bateram violentamente nos muros e no port�o e os danificaram”, disse.

Dono de um bar que fica justamente no meio do caminho da enxurrada, quando a Avenida Francisco S� termina, bifurcando-se nas ruas Jaceguai e Jo�o L�cio Brand�o, Paulo de Souza estima ter levado R$ 40 mil de preju�zo. “Meus freezers ficaram debaixo d’�gua, os mantimentos se perderam. Havia tempos que n�o ocorria uma enchente dessas. Est� todo mundo apavorado por aqui, sem saber se numa pr�xima vez isso pode custar a vida de algu�m”, reclama. Propriet�rio de uma locadora de ve�culos na mesma avenida, Marcelo dos Santos virou a madrugada limpando a lama e tentando recuperar pe�as e equipamentos. Ele estima em R$ 10 mil os preju�zos, mas n�o sabe, ainda, se os seus ve�culos foram afetados. “S� depois � que vamos saber se a �gua afetou os carros. Um ve�culo autom�tico parece que est� todo travado. Se for assim, o preju�zo vai ser brutal”, lamenta.

Cal�as arrega�adas at� os joelhos, vassouras em punho e mangueiras a postos para lavar a lama. Ontem, foi dia de mutir�o de limpeza na porta de casa e em v�rios tipos de com�rcios de pontos diversos de Belo Horizonte. Era hora de se restabelecer da chuva torrencial que arrasou a cidade na tarde de sexta-feira. Problemas corriqueiros das esta��es chuvosas, mas que, desta vez, ocorreram simultaneamente em tradicionais pontos com risco de alagamento e inunda��es na capital. Com um pacote de nove grandes obras que se arrastam desde 2013, tendo sido apenas uma conclu�da e tr�s sem nem mesmo prazo de in�cio definido at� hoje, a capital mineira se v� ref�m dos efeitos meteorol�gicos para os quais foi emitido alerta m�ximo e de uma nova estrutura de drenagem que n�o sai do papel. Especialista afirma que, no momento atual, gest�o de risco � a alternativa mais eficaz.

O meteorologista Ruibran dos Reis lembra que no ano passado foi previsto um per�odo chuvoso intenso para 2017/2018, com possibilidade de chuvas torrenciais especialmente nos meses de novembro e mar�o. “A chuva de fevereiro nos pegou de surpresa, mas a de agora estava prevista”, afirma. Segundo ele, os estudos serviram para dar alerta m�ximo � Defesa Civil. “S�o frentes frias que chegam do litoral do Rio de Janeiro, mas elas n�o provocam aquelas chuvas leves que perduram por dias. S�o s� temporais, que se formam entre as cidades de Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto (na Regi�o Central do estado) e, quando chegam � capital, transbordam na Serra do Curral e atingem esses bairros que est�o ao longo dela”, explica.

As nove interven��es que se arrastam no cronograma da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) v�o de tratamento de fundo de vale � constru��o de bacias de deten��o de cheias e implanta��o de barragens. Das quatro bacias hidrogr�ficas que cortam a cidade, s� a do Ribeir�o Arrudas teve obras de grande porte parcialmente conclu�das ano passado. O enfrentamento do per�odo chuvoso com a infraestrutura de 2016 foi alerta dado em mat�ria do Estado de Minas no fim de outubro. As do On�a, Isidoro e Velhas continuam � espera de interven��es. Em Venda Nova, por exemplo, o complexo da Avenida V�rzea da Palma e Vila do �ndio, que tem prevista, entre outras interven��es, a urbaniza��o e o tratamento de fundo de vale de afluentes do c�rrego da Avenida V�rzea da Palma, tinha in�cio previsto para maio de 2013 e conclus�o no primeiro semestre do ano passado, mas foi reprogramada devido a pend�ncias judiciais de desapropria��es.

A bacia de deten��o do Calafate, que vai da Avenida Tereza Cristina at� a Silva Lobo, teve o pontap� dado em 2014, com a publica��o de decreto de desapropria��o, mas est� parada, sem recursos da ordem de R$ 370 milh�es. H� ainda 10 outras obras previstas a partir do segundo semestre deste ano. Metade delas n�o tem sequer projeto executivo ainda – entre elas est�o as obras no C�rrego dos Pintos, na Avenida Francisco S�, um dos pontos hist�ricos de alagamento na cidade e uma das mais afetadas na tarde de sexta-feira. Procurada, a PBH informou que n�o poderia atualizar a situa��o das obras no fim de semana.

ESTRUTURA PREC�RIA Professor do Departamento de Engenharia Hidr�ulica e Recursos H�dricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), M�rcio Baptista diz que � preciso refletir sobre a efic�cia de tantas obras. “O problema � muito complexo e nasceu junto com BH, na concep��o, na canaliza��o dos c�rregos. Mais cedo ou mais tarde vai pagando a conta”, afirma. Ele destaca que foram feitas interven��es entre as d�cadas de 1950 e 1970 e que a cidade cresceu al�m do previsto, tendo atualmente uma estrutura de drenagem prec�ria. “S�o volumes de �gua enormes passando pela cidade. N�o sei dizer se a constru��o dessas bacias que est�o previstas vai resolver e suportar essas vaz�es. � dif�cil pensar numa solu��o. Parece que estamos vivendo uma crise na cidade”, diz.

De um lado, frisa o engenheiro, est� o poder p�blico, incapaz de resolver os problemas por quest�es or�ament�rias e a falta de articula��o conjunta dentro da cidade para resolver a situa��o de maneira abrangente. De outro, a popula��o, que lan�a seu lixo em via p�blica, atrapalhando a desenvoltura das a��es. E numa terceira ponta, a Defesa Civil. Para o professor, ela � muito atuante, mas precisa ir al�m. “O desespero de pessoas nos carros na Avenida Francisco S� (Bairro Prado, na Regi�o Oeste) foi impressionante. Em caso de previs�o concreta de tempestade, ela n�o pode permitir o tr�fego ali”, diz.

“Precisamos conviver com aquele risco. Se n�o consigo resolver com medida estrutural, tenho que fazer uma gest�o de risco eficiente. Ela ser� a forma de enfrentar o problema no curto e m�dio prazos at� a obten��o de recursos e da compreens�o efetiva do que temos de problemas e suas solu��es”, ressalta Baptista. “Esse � um problema de porte muito significativo e sem horizonte de se resolver no curto prazo. O que n�o pode mais � ter cenas como as de ontem (anteontem): gente sendo surpreendida pela inunda��o e carros arrastados com pessoas dentro.”

TURBILH�O O empres�rio Edney Bacelete, de 35 anos, assistiu de perto ao carro ser tomado pela �gua na Rua Ituiutaba, no Prado. Ele estava no sal�o de um amigo, quando os dois subiram ao segundo andar para buscar uma toalha para o atendimento de um cliente. “Quando descemos, n�o tinha mais como acessar o sal�o. A �gua subiu dois metros em apenas quatro minutos”, conta. O cliente subiu no lavabo para n�o ser levado pela �gua, cuja for�a arrastou as cadeiras do estabelecimento para a rua. Pela janela, Edney viu um turbilh�o de carros vindos de todas os lados em dire��o � galeria de drenagem instalada na rua. O ve�culo dele s� n�o teve o mesmo destino porque foi bloqueado pelos outros autom�veis. Ontem, pe�as soltas e lama eram tudo o que sobrou.

Na Avenida Francisco S�, os funcion�rios de uma loja de tinta ainda estavam abalados pelo susto do dia anterior. Limpando a sujeira, eles mal conseguiam relatar os epis�dios. “� a s�tima vez que enfrento a inunda��o aqui, mas essa foi a pior de todas. � muito r�pido, n�o d� tempo de fazer nada”, conta a gerente da loja, Alessandra Friche. Seguran�a de um restaurante na esquina da Francisco S� com a Rua Er�, Jo�o Gualberto Gomes, de 58, tamb�m estava com vassoura na m�o. No local, placas da via p�blica foram arrancadas pela for�a da �gua, que subiu a escadaria que est� a 1,5 metro acima da cal�ada e invadiu o com�rcio. “Sempre que chove, ocorre isso. Estamos acostumados.”

 

Cidade no escuro

 

O temporal que alagou v�rias vias da cidade e derrubou dezenas de �rvores sobre os postes de condu��o de eletricidade fez com que muitas pessoas passassem a noite de sexta-feira e a manh� de ontem no escuro. Bairros como Santa Tereza, na Regi�o Leste de BH, Mangabeiras, Anchieta e Sion, na Regi�o Centro-Sul, e Guarani, na Regi�o Norte da cidade, ainda permaneciam sem energia no come�o da manh�. Os sem�foros nessas �reas que sofreram queda de luz estavam desligados, 16 horas depois do temporal.
A previs�o � de mais chuva neste fim de semana em Belo Horizonte e regi�o metropolitana, segundo previs�o do Instituto Tempo Clima da PUC Minas. O c�u ficar� parcialmente nublado e a temperatura varia de 20°C a 30°C. Para as demais regi�es do estado, exceto o Norte de Minas, a previs�o � tamb�m de chuva a qualquer hora do dia.

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), apesar dos transtornos que toda tempestade tem trazido para a cidade, um trabalho integrado tem sido feito para minimizar os impactos. A administra��o municipal destaca que nesta sexta-feira as chuvas “atingiram o volume de 72 mil�metros, em 40 minutos, mais de 40% do previsto para todo o m�s”, lembrando que a m�dia pluviom�trica hist�rica leva em conta os cinco anos mais secos dos �ltimos tempos.

Segundo a PBH, a Defesa Civil e a Urbel est�o prestando assist�ncia humanit�ria por meio de vistorias, distribui��o de cestas b�sicas, colch�es, len��is e cobertores, al�m de acolhimento institucional. A Superintend�ncia de Limpeza Urbana informou ter dobrado as equipes nas �reas mais afetadas da cidade e s� na noite de sexta foram recolhidos mais de 5 toneladas de lixo.

“Os restaurantes populares v�o fornecer almo�o para as equipes empenhadas no trabalho de recupera��o da cidade. Os abrigos est�o tendo um atendimento espec�fico para pessoas atingidas pela chuva. A Secretaria de Obras est� fazendo a recupera��o de telhados e o recolhimento de �rvores e galhos, al�m de intensificar o tapa-buracos para a recupera��o das vias. A BHTrans, em conjunto com a Guarda Municipal, est� realizando desvios operacionais pra viabilizar a limpeza e o conserto das vias atingidas”, informou a PBH, por meio de nota, em que destaca que “a prioridade � resolver os problemas da cidade de maneira definitiva e, por isso, segue buscando recursos junto ao governo federal para realizar as obras necess�rias. O apoio do governo do estado, por meio do Corpo de Bombeiros, Pol�cia Militar, Defesa Civil Estadual, Cemig e Copasa, tem sido fundamental para a realiza��o desse trabalho emergencial e de suma import�ncia”.


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