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Estado de Minas

Pesquisa revela que metade das crian�as at� 5 anos est�o fora da escola em Minas Gerais

Pnad Cont�nua ainda mostra que praticamente 20% dos jovens com idade de 15 a 29 n�o conseguem nem estudar nem trabalhar


postado em 19/05/2018 06:00 / atualizado em 19/05/2018 08:51

O pa�s tem hoje um modelo de educa��o formal em conta-gotas do in�cio ao fim. Num extremo, crian�as s�o impedidas de come�ar a vida escolar, porque, simplesmente, n�o h� vagas em creches ou escolas. No outro, jovens e adultos n�o conseguem acessar o ensino superior e garantir forma��o e diploma. No meio de tudo isso, um ensino fundamental que patina em seus anos finais e d� sinais claros de derrocada logo no in�cio do n�vel m�dio. As conclus�es v�m da an�lise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (Pnad Cont�nua) 2017, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) e divulgada ontem. Elas se referem a n�meros que pouco avan�am ano a ano. Minas Gerais acompanha os passos lentos do Brasil. No estado, onde a luta contra o analfabetismo ainda � desafio, praticamente 20% de jovens na faixa de 15 a 29 anos est�o totalmente fora do radar da escola ou do mercado por n�o estudar nem trabalhar.


“O Brasil tem muito a evoluir. E sentimos isso de forma muito lenta, pois dados de educa��o s�o mais estruturais e n�o variam tanto de um ano para outro. Em Minas, n�o h� grandes movimentos e significados estat�sticos de 2017 em rela��o a 2016”, avalia o analista do IBGE Gustavo Fontes. Os dados do ano passado mostram que quase metade das crian�as mineiras de at� 5 anos est�o fora da escola. S�o 717,5 mil (47,5% de um total de 1,5 milh�o de pequenos dessa idade). O �ndice � puxado pela faixa et�ria de at� 3 anos, que concentra a maior quantidade de meninos em casa (96%). A taxa de escolariza��o nos primeiros anos de vida � de apenas 32% e os motivos variam entre a falta de vagas em creche e a op��o dos pais de n�o p�r o filho na escola. De 4 a 5 anos, 94% est�o no ensino formal. A educa��o � obrigat�ria no pa�s justamente a partir dos 4 anos. “Chama a aten��o o aumento do n�mero de pais que n�o querem o filho na escola”, observa a presidente-executiva do Movimento Todos pela Educa��o, Priscila Cruz.

Luciene Xavier com o pequeno Francisco: 'Desde cedo pus a educação em primeiro lugar', diz a mãe da criança(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Luciene Xavier com o pequeno Francisco: 'Desde cedo pus a educa��o em primeiro lugar', diz a m�e da crian�a (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Em Minas, 69,1% das crian�as at� 5 anos est�o fora das salas de aula por esse motivo. No pa�s, para 64,1% (2,7 milh�es) das crian�as de at� 1 ano a n�o frequ�ncia se deu por op��o dos pais – porcentagem que era de 61% em 2016. Esse motivo tamb�m se mostrou importante, mas em menor propor��o, para as crian�as de 2 e 3 anos, 53% (1,4 milh�o), em 2017. Estimou-se ainda que 34,7% (897 mil) das crian�as de 2 e 3 anos e 21,1% (903 mil) das crian�as de at� 1 ano n�o frequentavam escola por dificuldade de acesso, seja por falta de vaga ou aus�ncia de escola na localidade. “Acho como algo positivo, no que se refere � faixa de at� 3. O pa�s est� em crise, desemprego alto, logo, a m�e pode estar em casa e n�o precisa levar para creche. Pode ser um efeito colateral da situa��o econ�mica do pa�s, principalmente na faixa de at� 1. A parte positiva � a crian�a ficar com a fam�lia, j� que as creches n�o s�o boas no Brasil”, afirma.

O pequeno Lu�s Bernardo, de 3 anos, faz parte do um ter�o dos mineirinhos que foram para a sala de aula nos primeiros anos de vida. A m�e dele, B�rbara Mascarenhas, considera a educa��o do filho uma prioridade e o p�s ainda beb� na escolinha. “O levei pela primeira vez quando ele tinha 1 ano e 2 meses”, conta. M�e de Francisco, de 5 anos, e de Maria Antonieta, de 2, Luciele Xavier, de 35, tamb�m integra esse universo de poucos. Formada e doutorada em f�sica, parou de trabalhar quando estava gr�vida do menino e resolveu se dedicar � cria��o dos filhos desde ent�o. “Desde cedo pus a educa��o em primeiro lugar.”

MELHORA O que come�a a passo lentos, ganha f�lego na fase seguinte do aprendizado, quando o ensino fundamental alcan�a taxa de escolariza��o de 99% em Minas e frequ�ncia de 97,8% das crian�as de 6 a 14 anos. Mas, as distor��es come�am a dar sinais depois de um per�odo de apenas quatro anos. Enquanto 97,2% das crian�as de 6 a 10 anos frequentam o 1º ao 4º ano na idade certa, nos anos seguintes, do 5º ao 9º, o percentual de alunos com a idade correta para a etapa (11 a 14 anos) cai para 90%. Ou seja, no estado, 2,8% das pessoas de 6 a 10 anos e 10% daquelas com idade entre 11 e 14 anos estavam atrasadas em rela��o � etapa de ensino que deveriam cursar ou haviam evadido do sistema de ensino brasileiro, segundo o IBGE.

O atraso se acentua ainda mais na fase seguinte, o ensino m�dio, tido como o grande gargalo do pa�s. O percentual de adolescentes entre 15 e 17 anos que est�o com idade adequada para a s�rie que cursam despenca para 75,1% em Minas Gerais. Em n�vel nacional, essa m�dia � ainda menor: 68,4%. A quantidade de estudantes tamb�m sofre impacto: independentemente da s�rie cursada, 90,3% dos jovens de 15 a 17 anos est�o nas salas de aula mineiras, enquanto no Brasil, s�o 87,2%.

Entre as mulheres dessa faixa et�ria, no estado, 80,4% frequentavam o ensino m�dio no tempo correto. Entre os homens, a taxa ficou em 70,1%. Quando observadas as taxas entre brancos e pretos ou pardos, o percentual � de 80,2% e de 72,4%, respectivamente. “A diferen�a de homens e mulheres � a mesma de brancos e pardos. H� uma sobreposi��o que vimos por outras pesquisas que a pior situa��o, hoje, � ser homem negro. Essa sobreposi��o tem diversas outras consequ�ncias para a sociedade brasileira: impacto na quest�o da empregabilidade e renda futura ou na seguran�a p�blica, por exemplo. A pior configura��o hoje para estar fora do ensino m�dio � ser menino, negro e pobre. A escola est� perdendo a corrida para outras situa��es nas quais esse menino est� emaranhando”, ressalta Priscila Cruz. (Colaborou S�lvia Pires)


Palavra de especialista

Priscila Cruz
presidente-executiva do Movimento Todos pela Educa��o

Falta indigna��o

“No Brasil n�o h� desculpa de n�o se conhecer o problema nem ter diagn�stico. O monitoramento de todas as etapas do ensino � muito completo e sofisticado. O que falta � o uso desse diagn�stico para termos, primeiro, uma verdadeira indigna��o. A popula��o n�o tem indigna��o � altura do que isso significa. N�o h� senso de urg�ncia por parte dos governos nem cobran�a da sociedade e, assim, �  muito dif�cil mudar. Ser dif�cil n�o significa imposs�vel, porque temos resultados em algumas ilhas de excel�ncia no Brasil. O problema s�o estadistas preocupados com o resultado dele. Os tempos da pol�tica e da educa��o n�o est�o sincronizados. Esse desajuste faz com que isso ocorra. ”


Sem estudo e desempregados

Um dado da Pnad chama a aten��o: a quantidade de jovens de 15 a 29 anos na gera��o “nem, nem”, ou seja, que nem estudam nem trabalham (19,7%). No Brasil, essa propor��o � de 23%. Em Minas, entre os mais novos, com idade entre 15 e 17 anos, que ainda estavam em idade escolar obrigat�ria, 78,7% se dedicavam exclusivamente ao estudo. Entre as pessoas de 18 a 24 anos, 40% estavam ocupadas e n�o trabalhavam. No grupo mais velho, de 25 a 29 anos, 61,9% estavam ocupados e n�o estudavam, ao passo que 21,2% n�o fazia nem um nem outro.

� o caso da jovem Stephanie Lima Machado, de 22 anos, moradora de Lagoa Santa, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Ela cursou at� o 1º ano do ensino m�dio e resolveu interromper os estudos. “O escolar n�o passa perto da minha casa, ent�o, eu teria que pagar transporte para chegar � escola”, diz, relatando que j� tentou retomar os estudos, mas desistiu. O emprego, que procura em qualquer �rea, tamb�m n�o consegue. “Esse est� dif�cil mesmo”, afirma e diz, sem muita convic��o, que se tivesse estudo “talvez seria mais f�cil ter um trabalho”. Assim como ela, um irm�o de 19 anos tamb�m parou o ensino m�dio no 1º ano. Em casa, s� o ca�ula de 9 anos est� na escola. Para o futuro, ela pensa em tentar novamente a sala de aula para chegar mais longe: “A faculdade n�o � importante para mim, mas o ensino t�cnico, sim.”

Em Minas, a propor��o de pessoas de 25 anos ou mais que terminaram a educa��o b�sica obrigat�ria (que conclu�ram o ensino m�dio) foi de 41,7%, em 2017, abaixo do observado para o Brasil (46,1%). Por outro lado, as pessoas sem instru��o e com fundamental incompleto ou equivalente correspondiam a 45,4% da popula��o de 25 anos ou mais de idade, no estado, ao passo que no pa�s eram 40,9%.

A taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6% (1,03 milh�o de analfabetos), um pouco abaixo da observada para o Brasil (7%). A taxa de analfabetismo apresentou rela��o direta com a idade, aumentando para as mais avan�adas at� atingir 19,2% entre as pessoas de 60 anos ou mais. No estado, a taxa de analfabetismo para os homens foi 5,7% e para as mulheres, 6,3%. Analisando por cor ou ra�a, verifica-se que a taxa de analfabetismo para pretos ou pardos (7,2%) foi superior � observada entre os brancos (4,3%). “A quest�o do analfabetismo � mais demogr�fica que por outro motivo e tem a ver com a renova��o da popula��o, tendendo a diminuir ano a ano. Considerando que pessoas mais idosas t�m n�vel de escolaridade mais baixo, a taxa de analfabetismo entre eles � mais alta que no restante da popula��o”, explica o analista do IBGE Gustavo Fontes.


Lucas Calais (à esquerda) e Breno Queiroz se preparam para disputar vaga na universidade e fazer parte do seleto grupo que chega ao ensino superior(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Lucas Calais (� esquerda) e Breno Queiroz se preparam para disputar vaga na universidade e fazer parte do seleto grupo que chega ao ensino superior (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

O funil da universidade

Os amigos Lucas Calais, de 17 anos, e Breno Queiroz, de 16, se re�nem todos as tardes para andar de skate depois das aulas, pelas ruas da Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Lucas est� no �ltimo ano do ensino m�dio e se prepara para prestar o vestibular. “Meus pais sempre me incentivaram a estudar. Farei o Enem (Exame Nacional do Ensino M�dio) no fim do ano e pretendo cursar publicidade e propaganda ou jornalismo”, conta. J� Breno ainda tem dois anos de estudos antes de prestar o exame, mas diz que vem se preparando para as provas. “Quero fazer biologia e, por isso, j� estou pensando em fazer um cursinho pr�-vestibular”, comenta. Os dois far�o parte de um seleto grupo da popula��o brasileira que hoje tem acesso ao ensino superior. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (Pnad Cont�nua), menos de um ter�o das pessoas entre 18 e 24 anos est�o estudando. Propor��o que se reduz ainda mais quando verificado quem est� na gradua��o.

Em Minas, 29,4% desse grupo et�rio est� na sala de aula. Mas, a chamada “taxa ajustada de frequ�ncia escolar l�quida no ensino superior”, ou seja, quem est� estudando a etapa correta para a idade, � de apenas 22,2%. Isso significa que pouco mais de um quarto desses jovens est�o nos bancos de universidades e faculdades. No estado, para as mulheres, essa taxa chegou a 25,9%, enquanto para os homens foi de 18,6% – uma queda em rela��o a 2016, quando as propor��es ficaram em 29,5% e 22,5%, respectivamente. Na an�lise entre brancos e pretos e pardos, o abismo � ainda maior: 31,7% contra 16,9%.

O diretor-executivo da Associa��o Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), S�lon Caldas, rebate os dados da Pnad e diz que a situa��o � ainda mais grave. “A taxa l�quida n�o � de 22,2%, mas de 18%. Ou seja, somente 18% dos jovens entre 18 e 24 anos est�o cursando o ensino superior, idade correta para essa etapa de estudos”, afirma. “O termo taxa ajustada de frequ�ncia escolar l�quida foi inventado pelo MEC (Minist�rio da Educa��o) para forjar os dados e aumentar os n�meros. Surpreendentemente, o IBGE tamb�m usa”, diz.

Segundo ele, tr�s fatores contribuem para o cen�rio e a redu��o das matr�culas no ensino superior: situa��o econ�mica, aumento consider�vel do desemprego e a diminui��o dos contratos firmados pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “


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