Ontem, o Sul de Minas voltou a concentrar ataques, com a seguran�a desafiada em mais cinco cidades que ainda n�o tinham sido alvo dos criminosos. Desde domingo foram conduzidos �s delegacias de Minas Gerais 49 pessoas e ratificadas as pris�es de 28 delas.
De acordo com o superintendente de Investiga��o e Pol�cia Judici�ria da Pol�cia Civil, Carlos Capistrano, o restante foi liberado por falta de provas, por n�o ter ficado evidente a participa��o ou por ter cometido delitos de menor potencial ofensivo. Ainda de acordo com o delegado, a maioria dos detidos executou as a��es, mas, entre eles, h� poss�veis mandantes, principalmente no Sul de Minas – conforme revelou o Estado de Minas na edi��o de ontem.
Embora os n�meros mostrem redu��o das ocorr�ncias, para a Pol�cia Civil a preocupa��o e a tens�o s�o as mesmas. “Enquanto houver um epis�dio estamos investigando, assim como a Pol�cia Militar est� refor�ando a parte preventiva. Todo o sistema de seguran�a p�blica do estado est� muito atento, embora os n�meros tenham diminu�do”, afirma Capistrano.
O caso em que criminosos deixaram o bilhete com refer�ncia � situa��o nos pres�dios aconteceu no Bairro Veneza, em Ribeir�o das Neves, por volta das 4h30 da madrugada. Dois coletivos particulares estavam estacionados na Rua 35, mas apenas um deles foi alvo dos criminosos. Janelas da lateral foram quebradas e material inflam�vel foi jogado no interior. Em seguida, os criminosos atearam fogo e fugiram, mas as chamas foram contidas antes de se alastrarem para todo o �nibus. A cabine do motorista ficou muito danificada.
O coletivo logo atr�s ficou intacto, mas no vidro traseiro foi deixado um bilhete com queixas sobre “repress�o” atribu�da a agentes penitenci�rios em todo o estado, e especialmente nos pres�dios Dutra Ladeira e Nelson Hungria. “Parem de humilhar nossas fam�lias, queremos dignidade”, diz o texto. O bilhete tamb�m alega que todos os ataques em Minas foram coordenados.
Apesar da carta, o capit�o Alexandre Fagner, comandante da 203ª Companhia do 65º Batalh�o da PM, n�o enxerga no epis�dio caracter�sticas t�o concretas que possam indicar um caso coordenado por fac��o criminosa e articulado com os demais ataques. “O �nibus atacado � particular e a menos de dois quarteir�es do local havia um ponto final de uma linha regular. Ainda n�o � poss�vel vincular com outros casos, tem muita gente pegando carona na situa��o e � poss�vel que tenha sido a��o de oportunistas”, afirma. Algumas horas mais cedo, tamb�m em Neves, mas no Bairro Guadalajara (Justin�polis), houve um inc�ndio que destruiu completamente um coletivo da linha 616 (C�u Azul/Pampulha). Ningu�m foi preso.
Ribeir�o das Neves foi a �ltima cidade com ataques at� o fechamento da edi��o impressa do Estado de Minas de hoje, totalizando 32 munic�pios com registro de atos de vandalismo desde o in�cio dos ataques, no domingo. Ainda na noite de ter�a, o Sul de Minas voltou a concentrar atos de viol�ncia, com cinco novas cidades alvos de bandidos: Cambu�, Lavras, S�o Bento Abade, S�o Louren�o e Santa Rita do Sapuca� (veja quadro). Tamb�m houve novamente ataques em Alfenas, ainda no Sul de Minas, e Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro, cidades que j� tinham sido atacadas outras vezes. (Colaborou Lucas Eduardo Soares, estagi�rio sob supervis�o do editor Roney Garcia)
Uberaba decreta alerta
Cidade com maior frequ�ncia de ataques desde que come�ou a onda de a��es criminosas em munic�pios mineiros, Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro, teve decretada situa��o de alerta pela prefeitura. O munic�pio vem sofrendo atos de depreda��o ininterruptamente desde domingo, quando teve in�cio a sucess�o de ocorr�ncias em Minas. �nibus, caminh�es de lixo e da empresa de abastecimento e saneamento, e at� a sede de uma r�dio local foram incendiados. Com o decreto, a administra��o municipal pode promover a��es emergenciais em menor tempo, sem precisar de licita��o. Um exemplo � a contrata��o de servi�os de seguran�a armada para a prote��o do patrim�nio p�blico.
O policiamento na cidade foi refor�ado, e os �nibus est�o circulando com escolta. As a��es, entretanto, n�o impediram novas a��es criminosas. Na madrugada de ontem, uma r�dio da cidade foi alvo. O crime ocorreu pouco depois da meia-noite, quando duas garrafas de coquetel molotov foram arremessadas contra o im�vel da Zebu FM, que fica no Bairro Parque das Gameleiras. Vidros da porta de entrada foram destru�dos.
Na ter�a-feira, quatro ataques foram registrados no munic�pio. No fim da manh�, um �nibus foi incendiado no Bairro Isabel do Nascimento. No in�cio da tarde, houve mais uma ocorr�ncia. Dessa vez, o alvo foi um caminh�o da coleta de lixo. Por volta das 14h30, os criminosos agiram novamente. Segundo a PM, aproximadamente 10 pessoas armadas com foices e outras armas obrigaram o motorista de um caminh�o do Centro Operacional de Desenvolvimento e Saneamento de Uberaba (Codau) a sair. Em seguida, atearam fogo ao ve�culo, na Avenida Cana�, no Bairro Maraj�. Minutos depois, outro ve�culo da Codau foi atacado.
O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), informou, em entrevista coletiva, que o transporte p�blico vai continuar a rodar. “Os �nibus sair�o com policiamento, portanto vamos atender at� que a pol�cia detenha o vandalismo e que isso cesse. Claro que isso precariza o funcionamento do transporte, mas os motoristas tamb�m t�m direito � sua seguran�a. Os cidad�os n�o ficar�o sem transporte”, disse.
Piau disse, ainda, que cobrou a��es r�pidas na cidade. “Esperamos nesse momento que as pol�cias Militar, Civil e Federal possam agir e pedimos muito o apoio do Minist�rio P�blico e da Justi�a, para que, uma vez presos, n�o soltem esses suspeitos. A situa��o � de alerta e precisa ser tratada como tal. Encaminhamos of�cios, inclusive ao governador (Fernando Pimentel) e ao presidente da Rep�blica (Michel Temer), refor�ando que � preciso haver uma a��o r�pida para coibir essa viol�ncia e esse vandalismo, que acontecem n�o s� em Uberaba, mas em diversos pontos do estado de Minas Gerais”, completou.
Pol�cia enfrenta quebra-cabe�a
O delegado Heli Andrade, chefe do 5º Departamento da Pol�cia Civil, informa que as investiga��es sobre a onda de ataques criminosos que sacode o estado desde o domingo est�o avan�adas na regi�o de Uberaba para identificar mandantes dos crimes, o que pode dar � Pol�cia Civil mais elementos para entender a motiva��o. “Os �udios que tem sido divulgados mostram alguns autores dizendo que a press�o no sistema carcer�rio est� causando os ataques. � muito difuso, na verdade n�o h� uma defini��o t�o certa”, diz o policial.
No Sul de Minas, entre os presos, duas mulheres detidas por suspeita de liga��o com os ataques chamam a aten��o de investigadores. Uma delas, de 22 anos, conhecida como “Maldita”, � casada com um homem que tamb�m est� preso e, segundo fontes, pertence a uma fac��o criminosa conhecida nacionalmente. Por enquanto, ningu�m se arrisca a afirmar quais s�o as motiva��es das a��es dos criminosos nem o n�vel de envolvimento de quem foi pego at� agora pela pol�cia.
“Tudo depende do fim da investiga��o, n�o d� para dizer nada agora. Apenas, que o estado de alerta deve ser constante”, afirmou uma fonte do governo estadual. Quando questionado se os munic�pios do Tri�ngulo e do Sul de Minas foram escolhidos por serem lim�trofes com S�o Paulo e, assim, facilitarem a orquestra��o dos ataques, o policial respondeu apenas: “Muito dif�cil saber. J� houve atua��o no Norte do pa�s, bem distante do estado paulista”. Anteontem, durante coletiva de imprensa, o secret�rio de Estado de Seguran�a P�blica, S�rgio Menezes, informou que a rela��o entre os ataques em territ�rio mineiro e os ocorridos no Rio Grande do Norte est� sendo estudada.
O superintendente de Investiga��o e Pol�cia Judici�ria da Pol�cia Civil, delegado Carlos Capistrano diz que com o andamento das investiga��es ser� poss�vel confrontar diferentes vers�es e checar todas as informa��es para se obter um retrato mais fiel da situa��o. “� medida em que as linhas de investiga��o v�o se cruzando, e por meio dos depoimentos das pessoas que forem conduzidas e do material que for apreendido � que vamos poder confrontar cada situa��o e chegar a uma resposta sem d�vida”, afirma.
Enquanto isso...
...Bancada mineira busca recursos
A bancada mineira na C�mara dos Deputados se reuniu ontem com o ministro da pasta, Raul Jungmann e cobrou da Uni�o, com m�xima urg�ncia, investimentos de R$ 50 milh�es no setor de intelig�ncia dos �rg�os de seguran�a p�blica do estado. Desses recursos, R$ 15 milh�es seriam encaminhados somente ao Tri�ngulo Mineiro, onde um Projeto de Lei para uso do dinheiro j� est� em “estado avan�ado”, de acordo com o vice-presidente da C�mara, deputado federal F�bio Ramalho (MDB/MG). Ainda segundo Ramalho, h� outros R$ 57 milh�es de emenda impositiva da bancada para a aquisi��o de 650 viaturas para as pol�cias Civil e Militar. Todo o montante, de acordo com o emedebista, � negociado h� mais de oito meses com o governo federal, mas o apelo tornou-se mais veemente em fun��o dos sucessivos ataques �s cidades mineiras nos �ltimos dias, marcados pela queima de �nibus do transporte p�blico. O parlamentar adiantou que articula a classifica��o desse tipo de ataque como crime hediondo, o que elevaria as penas dos criminosos. Na pr�xima semana, a bancada mineira pretende discutir com Jugmann a situa��o do sistema penitenci�rio.