
Todos os dias, cerca de 400 metros de cabos que alimentam sem�foros de Belo Horizonte s�o arrancados de ruas e avenidas da capital mineira. A cada semana, a m�dia de furtos no sistema chega a 2,8 quil�metros de fios, enquanto a capacidade de reposi��o da BHTrans, conforme contrato de presta��o de servi�o, � de 1 mil metros por m�s, o que cria, na pr�tica, um abismo entre a atua��o dos criminosos e o trabalho di�rio de substitui��o para manter os sinais funcionando e evitar acidentes. O resultado � preju�zo em grande escala para a popula��o, n�o apenas financeiro, mas tamb�m no cotidiano, j� que n�o � poss�vel repor o cabeamento na mesma velocidade em que ele � retirado, o que tem deixado por longos per�odos cruzamentos sinalizados apenas com as velhas placas de “Pare”.
A BHTrans sustenta que esse � um problema de seguran�a p�blica. Segundo a empresa, apenas trocar o cabeamento n�o resolve e se transforma em uma a��o de enxugar gelo, j� que o aumento do volume de furtos nos primeiros cinco meses desse ano chega a 1.566% em compara��o com o mesmo per�odo do ano passado. De janeiro a maio de 2017, foram 3,6 mil metros furtados, contra 60 mil metros neste ano, com preju�zo de R$ 245 mil aos cofres p�blicos. A quantidade furtada tamb�m representa mais que o dobro daquela registrada em todo o ano passado (veja quadro). Os transtornos s�o di�rios e, ontem, atingiram quem trafegava pela Avenida Cristiano Machado, dificultando a vida de motoristas e pedestres no hor�rio de pico da manh�.

Est� longe de ser um caso isolado, como pode comprovar quem passa por outros pontos cujos sem�foros foram alvo de ladr�es, como o cruzamento das avenidas Bernardo Vasconcelos, Clara Nunes e Cachoeirinha, entre os bairros Renascen�a e Cachoeirinha, na Regi�o Nordeste de BH. A reincid�ncia de criminosos, que j� agiram cinco vezes no local retirando cabos somente neste m�s, fez com que a BHTrans substitu�sse os fios pela �ltima vez na quarta-feira da semana passada. A solu��o encontrada diante do novo furto foi colocar uma placa de “Pare” nas avenidas Clara Nunes e Cachoeirinha, deixando a prefer�ncia para os condutores da Bernardo Vasconcelos. Segundo moradores da regi�o, essa situa��o j� � suficiente para criar transtornos nos hor�rios de pico, mas a exist�ncia de uma pista de corrida na Bernardo Vasconcelos � mais um complicador na �rea sem sinais luminosos.
“Motoristas at� d�o a prefer�ncia para os pedestres, mas quando chega um hor�rio de maior movimento, n�o t�m o que fazer. Se n�o for�arem a passagem, n�o conseguem seguir, e por isso a confus�o � muito grande”, afirma a professora Daniele Scaldini, de 48 anos. Segundo a BHTrans, naquele mesmo local houve substitui��o de cabos em quatro ocasi�es diferentes apenas em junho. A empresa informou que faria nova reposi��o ontem. O cabeleireiro Esterlei Vieira, de 60, que trabalha em um sal�o quase em frente ao cruzamento, diz que houve uma batida com danos em quatro ve�culos depois da retirada do sem�foro, e que as pessoas t�m tido muita dificuldade para atravessar. “Acho que nesse caso a fia��o tinha que ser subterr�nea. Imagino que dificultaria a vida dos ladr�es”, afirma.
Mesmo problema � verificado no cruzamento da Bernardo Vasconcelos com a Rua C�nego Santana, no Renascen�a. Como o local � ponto de transposi��o da avenida, a falta de um sem�foro complica bastante a situa��o. O transtorno se repete tamb�m na Regi�o Centro-Sul, j� que h� uma semana o sem�foro no cruzamento das ruas Mato Grosso e Goitacazes, no Barro Preto, est� desativado, tendo tamb�m sido substitu�do por uma placa de “Pare”. Segundo a vendedora Fl�via de Jesus, de 36, na sexta-feira houve uma batida no cruzamento. “A dificuldade de atravessar � muito grande. Toda hora tem freada brusca e pedestre xingando motorista”, conta. De acordo com a BHTrans, o sem�foro est� desativado desde a sexta-feira, por furto de cabos.

Funcion�rios a servi�o do Cons�rcio BH Tr�fego, que faz a substitui��o dos cabos al�m de v�rios outros servi�os relacionados aos sinais da cidade, dizem que no dia a dia � necess�rio dar prioridade aos lugares mais importantes, diante da quantidade de servi�o gerada pelos ladr�es. Ontem, uma equipe substitu�a cabos na Avenida Cristiano Machado, no sentido Centro, em frente � Feira dos Produtores, no Bairro Cidade Nova, Nordeste de BH. Mas, enquanto resolviam um problema, os trabalhadores enumeravam outros pendentes.
O gerente de Sem�foros e Programa��o da BHTrans, Ant�nio Celso Silva Medeiros, diz que a empresa municipal est� enxugando gelo ao substituir os cabos, pois h� casos em que os furtos ocorrem imediatamente ap�s a reposi��o. No caso do cruzamento da Avenida Bernardo Vasconcelos com as avenidas Clara Nunes e Cachoeirinha, o temor do gerente era de que hoje os cabos j� fossem novamente furtados, pois a regi�o � considerada das mais vulner�veis da cidade para esse tipo de ocorr�ncia. “Temos a limita��o em contrato de 1 mil metros de cabos por m�s para substitui��o, e ainda assim tentamos fazer o m�ximo. Isso � uma quest�o de seguran�a p�blica, ent�o acho que a intelig�ncia das pol�cias poderia se concentrar nos receptadores, que alimentam esse mercado”, afirma.
A explos�o de casos na cidade faz a BHTrans discutir a possibilidade de ampliar a capacidade de reposi��o de cabos, mas essa n�o � a melhor solu��o, na avalia��o de Ant�nio Celso. “Cada metro de cabo custa R$ 4,39 e esse � um dinheiro que poderia ser investido em outras �reas. N�o temos outra op��o de material no mercado para atender a essa demanda, ent�o a solu��o do problema passa pelo combate aos furtos. J� tentamos v�rias formas de dificultar, mas os criminosos encontram formas de chegar aos cabos”, acrescenta o gerente da BHTrans, afirmando que a quest�o � repassada �s pol�cias Militar e Civil no �mbito do Centro de Opera��es da Prefeitura de BH (COP/BH).

Procurada pelo Estado de Minas, a Pol�cia Civil de Minas Gerais informou que as ocorr�ncias de furtos de cabos s�o investigadas pelas delegacias de cada �rea, buscando a identifica��o do ladr�o, a destina��o dos materiais e eventuais receptadores. J� a Pol�cia Militar informa que a situa��o � tratada em reuni�es com os participantes das redes de prote��o, incentivando den�ncias de forma an�nima pelo telefone 181. A PM assegura que o patrulhamento foi aumentado nos locais mais vulner�veis
Segundo a corpora��o, seu setor de intelig�ncia faz levantamento do perfil dos autores desse tipo de furto. “De modo geral, s�o usu�rios de drogas, em situa��o de rua, que j� cometeram outros crimes, em especial furtos e roubos”, informou a PM, em nota, acrescentando que em muitos casos os ladr�es n�o s�o mantidos presos, voltando a praticar delitos. “Os cabos furtados normalmente s�o vendidos a ferros-velhos clandestinos, que os recebem por valor abaixo do mercado, resultando em lucro para receptadores e incentivo � pr�tica do delito”, conclui o texto.