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Estado de Minas A MORTE N�O ESCOLHE ESTRADAS

Estrada da morte tamb�m causa acidentes em pistas duplicadas

Nas pistas simples da 381, a morte vem em colis�es frontais ou ligadas aos obst�culos impostos por obras. Nas duplicadas, alta velocidade aproxima a letalidade do melhor trecho � do mais perigoso


postado em 05/08/2018 06:00 / atualizado em 06/08/2018 07:34

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.APress )
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.APress )

Uma das principais rodovias do Brasil, a BR-381, via importante para fazer a conex�o entre S�o Paulo e o Nordeste do pa�s passando pelo interior do territ�rio nacional, engloba atualmente tr�s realidades completamente diferentes. Seus 787 quil�metros em Minas Gerais se dividem em 313 de pistas simples e 474 de rodovia duplicada, al�m de pontos dentro do trecho em que n�o h� barreira f�sica entre os sentidos e est�o em obras, que se arrastam para a t�o sonhada duplica��o. Apesar das diferentes caracter�sticas, uma coisa � comum a todos segmentos dessa estrada: ainda que por meios diferentes, a morte passa pelos tr�s. Enquanto o excesso de velocidade � o principal vil�o da parte duplicada entre Belo Horizonte e S�o Paulo, provocando capotamentos, sa�das de pista, colis�es em objetos fixos e uma s�rie de outros acidentes, no percurso de 313km entre BH e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, o maior perigo � representado pela colis�o frontal. No meio desse caminho ainda entram os obst�culos impostos pelas obras de duplica��o, como estreitamentos de pista e falta de sinaliza��o, que potencializam os efeitos da imprud�ncia.

O que mais chama a aten��o da BR-381 � que ela �, ao mesmo tempo, tratada como rodovia da morte e melhor estrada de Minas Gerais. A primeira caracteriza��o vale para o caminho entre a capital mineira e Governador Valadares, devido ao hist�rico de trag�dias, especialmente nos 110 quil�metros at� Jo�o Monlevade, extremamente sinuosos. J� a segunda leva em conta a pista dupla, com duas faixas de circula��o (�s vezes at� tr�s) para cada sentido, viadutos para possibilitar os acessos e acostamento em todo o trecho. Por�m, a diferen�a nos adjetivos atribu�dos a cada segmento n�o se mant�m quando o assunto � a mortalidade. Em 2016, houve 1.254 acidentes, com 90 mortos, nos 313 quil�metros da pista simples dessa BR, o que significa mortalidade de 0,28 por km. No lado oposto, foram 3.362 acidentes e 103 mortes nos 474 quil�metros, o que confere ao trecho uma mortalidade de 0,21/km.

(foto: Edésio Ferreira/EM/D.APress )
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.APress )
J� em 2017, foram 1.035 acidentes e 97 mortes na parte simples, m�dia de 0,31 �bitos por quil�metro. Na parte dupla, foram 3.142 acidentes com 125 mortos, m�dia ligeiramente inferior � do outro trecho, de 0,26 por km. O mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro Paulo Rog�rio Monteiro destaca que, em uma rodovia duplicada como a Fern�o Dias, os excessos no acelerador passam a ser o principal risco ao qual os motoristas se exp�em e por isso � importante controlar a velocidade. “Mas temos que lembrar que no outro trecho da 381 a letalidade das batidas, quando comparamos mortes por acidente, � maior. Precisamos de menos acidentes para alcan�ar os n�meros parecidos de morte, ent�o, as interven��es s�o mais urgentes nos trechos simples”, afirma. O especialista tamb�m sustenta que o volume de tr�fego � mais intenso na parte duplicada, at� em fun��o da capacidade maior da rodovia, o que faz com que o segmento simples da estrada seja ainda mais perigoso, porque sua letalidade leva em considera��o um volume menor de condutores.

 

 

DESCONTROLE No aspecto controle de velocidade, outra caracter�stica dessa rodovia t�o importante para Minas Gerais chama a aten��o. No lado considerado pior da BR-381, a recorr�ncia de trag�dias potencializadas pelos carros pulverizados nas colis�es frontais fez o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) promover a instala��o de uma s�rie de radares no trecho h� cerca de sete anos. Hoje, s�o 47 controladores nos 313 quil�metros, al�m de outros 11 no trecho coincidente dessa estrada com o Anel Rodovi�rio de BH. J� no percurso de 474km onde o controle de velocidade � considerado ainda mais necess�rio s�o apenas 13, o que estava previsto no contrato de concess�o entre a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Autopista Fern�o Dias, concession�ria respons�vel pelo trecho. De acordo com Gledson Ferreira da Silva, agente do Grupo de Fiscaliza��o de Tr�nsito (GFT) da Delegacia Metropolitana da PRF, um dos pontos em que os policiais mais flagram excesso de velocidade com um radar m�vel na �rea da delegacia est� nas imedia��es da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, cerca de um quil�metro depois de um radar fixo. “Os motoristas memorizam os controladores de velocidade, reduzem nesses pontos e aceleram logo depois”, afirma Gledson.

Em nota, a Autopista Fern�o Dias, respons�vel pelo trecho duplicado da BR-381, admite que fez estudos para viabilizar a instala��o de novos radares na rodovia, mas n�o informou o n�mero previsto de equipamentos. Os estudos foram apresentados � ANTT, que analisa o documento. A Autopista ainda sustenta que j� considerando os primeiros sete meses de 2018, a concession�ria registra redu��o de acidentes e mortos na ordem de 19,3% e 20,2% respectivamente quando os n�meros deste ano s�o comparados com o mesmo per�odo desde 2015. A empresa pontua que esse resultado foi obtido por uma s�rie de a��es de constru��o de 88km de faixas adicionais, instala��o de 63 passarelas, entre outras. A reportagem procurou tamb�m a assessoria do Dnit, respons�vel pela parte de pistas simples da 381, em Minas e em Bras�lia, mas o �rg�o n�o retornou os contatos.

(foto: Edésio Ferreira/EM/D.APress )
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.APress )


Os caminhos da dor

Sem duplica��o para acabar com as colis�es frontais em toda a extens�o entre Belo Horizonte e Governador Valadares, e com poucos radares para frear os abusos no caminho para S�o Paulo, a morte � frequente na BR-381, seja na pista dupla seja na simples. Na ter�a-feira, o motorista de caminh�o Guilherme de Freitas, de 39 anos, ia de Ita�na para Itabira, na Regi�o Central de Minas, quando deu de cara com um carro em sua m�o de dire��o na altura do Km 438, em Sabar�, na Grande BH. “Eu estava na faixa da esquerda ultrapassando uma carreta que seguia na terceira faixa e veio esse carro. Ele trombou na carreta, rodou e bateu com o lado dos passageiros na frente do meu caminh�o. Quando vi que os tr�s ocupantes estavam mortos fiquei impressionado”, conta. “Acredito que ele passou mal, porque veio de uma vez, em alta velocidade, na transversal, sem esbo�ar nenhuma mexida no volante ou pisada no freio. Essa rodovia � muito complicada, tinha que ter a duplica��o para p�r fim a batidas desse jeito”, afirma.

Do quintal de sua casa na comunidade Caminho dos Emboabas, em Caet�, na Grande BH, o motorista de �nibus Wellinton Aparecido da Cruz, de 36, assiste a outra linha de problemas da BR-381 em seu trecho de pistas simples: as trag�dias e todo o transtorno causados pelas obras de duplica��o na regi�o. Ele se lembra do desastre que matou cinco estudantes em 2009 em Sabar� e deixou outros 13 feridos em uma curva no Km 435. Um caminh�o invadiu a contram�o e pegou a van onde estavam os universit�rios. A curva ganhou cruzes simbolizando os mortos.

EXCESSO Na Rodovia Fern�o Dias,  trecho duplicado da BR-381, praticamente n�o h� registros de colis�es frontais justamente pelo fato de ter barreiras f�sicas para separar os fluxos opostos. Mas os acidentes causados pelo excesso de velocidade s�o frequentes. Moradora de Igarap�, na Grande BH, a dona de casa Maximiliana Maria da Silva, de 48, ainda busca explica��es para a morte do filho, Evandro Ant�nio Maia, ap�s um capotamento em 20 de dezembro de 2015. Evandro e um amigo voltavam de uma festa em Itatiaiu�u quando sofreram um acidente no Km 510 da Fern�o Dias, em Igarap�. O ve�culo n�o fez uma curva e acabou capotando, matando os dois. Ap�s os capotamentos, o carro foi parar no outro sentido e ficou bastante destru�do, o que, segundo Maximiliana, indica que poderia estar em alta velocidade. “Meu filho amava a vida e � muito duro pensar que n�o vou v�-lo de novo por conta de uma coisa t�o banal. Acho importante ter controle de velocidade nessa estrada, at� porque a fiscaliza��o surte efeito quando mexe no bolso dos motoristas, mas tamb�m precisamos ser mais conscientes e respeitar as regras”, diz ela.

A dona de casa encontra for�as para seguir a vida na pequena Ana Carolina, de 5 anos, filha de Evandro. “Digo que Deus � maravilhoso, porque precisou do meu filho, mas deixou uma sementinha que � uma b�n��o na vida da gente”, completa.


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