
A sa�de em Belo Horizonte enfrenta dois inimigos que nada t�m a ver com filas, longa espera por atendimento ou dificuldade para marca��o de exame e consultas especializadas. Centros de sa�de, a porta para pacientes da aten��o b�sica, se tornaram ref�ns da falta de infraestrutura e da viol�ncia, cada um deles com efeitos diretos sobre o outro. O desafio da falta de estrutura � tamanho que a pr�pria Secretaria Municipal de Sa�de admite que mais da metade das unidades da capital precisaria ser reconstru�da. Espa�os pequenos e apertados, vulner�veis pela aus�ncia de porteiros e da Guarda Municipal de forma permanente, viraram porta aberta para a viol�ncia. Por m�s, s�o registradas em m�dia 50 ocorr�ncias, que v�o de agress�es verbais e f�sicas contra funcion�rios, passando por amea�as de morte e culminando com roubos a servidores e pacientes. Diante de mais um epis�dio esta semana, a secretaria anunciou ontem medida extrema: o fechamento, por tempo indeterminado, do Centro de Sa�de Cafezal, no Aglomerado da Serra, Centro-Sul da capital.
Os problemas no local s�o antigos. No in�cio do ano passado, em visita � comunidade e aos profissionais do posto, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) amea�ou fech�-lo caso a viol�ncia persistisse. Na ocasi�o, o atendimento foi suspenso por quatro dias e retomado a partir da advert�ncia de Kalil. O secret�rio municipal de Sa�de, Jackson Machado, informou que o centro ficar� fechado desta vez at� que se encontre outro local para que a unidade possa operar. Ele argumenta que n�o haver� preju�zo no atendimento � comunidade, que ser� remanejada pelos centros de sa�de da regi�o. Hoje a prefeitura deve divulgar quais unidades absorver�o a demanda.
Consultas agendadas ser�o remarcadas. Os profissionais de sa�de ser�o realocados em outros centros de sa�de. Visitas domiciliares feitas pelos agentes comunit�rios e de combate a endemias est�o mantidas nas casas pr�ximas ao Centro de Sa�de Cafezal. Jackson Machado explica que o espa�o f�sico para a unidade depende de um lote de pelo menos 820 metros quadrados, dimens�o dif�cil de ser encontrada na regi�o. Foi feito projeto de adequa��o f�sica em �rea cedida pela comunidade, mas o processo foi interrompido depois que a associa��o de moradores voltou atr�s.
"A viol�ncia � real e a falta de infraestrutura aumenta a possibilidade de viol�ncia. No Cafezal, n�o h� espa�o para profissionais atenderem, a recep��o d� direto nos locais de atendimento, n�o tem porteiro"
Israel Arimar, da Comiss�o Local de Sa�de do Cafezal
PATRULHAMENTO Uma das apostas para conter a viol�ncia � a Patrulha SUS, que ser� implantada gradativamente em BH. Ser�o 44 motocicletas, com 22 duplas de guardas municipais que far�o prote��o exclusiva nos centros de sa�de. At� o fim do ano, a expectativa � que todas as regionais sejam contempladas. “A experi�ncia no Barreiro mostrou uma redu��o de mais de 60% de ocorr�ncias entre os meses de novembro e mar�o”, diz o secret�rio.
Secret�rio-geral do Sindicato dos M�dicos de Minas Gerais (Sinmed) e m�dico da Prefeitura de BH, Andr� Christiano dos Santos diz que levantamento dos cinco primeiros meses do ano mostra 243 registros de situa��o de viol�ncia nas unidades de sa�de de BH (m�dia de 48,6 por m�s) – n�meros que se concentram nos 152 centros, apesar de envolverem tamb�m unidades de pronto-atendimento (UPAs) e outras unidades de sa�de do munic�pio. No ano passado, a m�dia mensal tamb�m ficou em torno de 50 casos.
O m�dico ressalta que sempre houve situa��es de conflito nas unidades, mas afirma que, de dois anos e meio para c�, principalmente depois da retirada dos porteiros dos centros de sa�de, a viol�ncia se agravou, tornando-se uma amea�a mais real. “J� teve at� arrast�o: bandido entra armado e rouba todo mundo. Os centros est�o vulner�veis: n�o tem porteiro que regule entrada e sa�da de pessoas e a presen�a fixa da Guarda est� restrita a pequeno n�mero de unidades”, afirma o m�dico. “O Cafezal vem sofrendo de forma cr�nica com essa a quest�o, com amea�as de morte a funcion�rios e agress�o f�sica dentro da unidade. � o reflexo da viol�ncia urbana motivada pela disputa de tr�fico. N�o � direcionado � unidade, mas a deixa na linha de fogo.”


PROVIS�RIO Documento assinado pelo Sindicato dos Servidores P�blicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Conselho Municipal de Sa�de e Comiss�o Local de Sa�de do Cafezal pede que seja alugada uma sede provis�ria perto da comunidade enquanto se constr�i a definitiva. “O local hoje � invi�vel para continuar os atendimentos. Essas demandas foram repassadas para a prefeitura h� mais de um ano”, diz o presidente da comiss�o, Israel Arimar. Segundo ele, o posto ficou sem gerente depois que o servidor foi amea�ado de morte. “A viol�ncia � real e a falta de infraestrutura aumenta a possibilidade de viol�ncia. No Cafezal, n�o h� espa�o para profissionais atenderem, a recep��o d� direto nos locais de atendimento, n�o tem porteiro”, relata.
A unidade tem 11 mil pacientes cadastrados. Por dia, s�o cerca de 200 atendimentos, dos quais 100 consultas m�dicas. H� quatro equipes de sa�de da fam�lia, duas de sa�de bucal, cl�nico, ginecologista, psic�logo, assistente social e 13 auxiliares de enfermagem. Moradora do Cafezal, Dalva Maria de Jesus, de 59 anos, lamentou ontem o fechamento da unidade de sa�de. Ela tinha consulta marcada para hoje. “Por causa de alguns, todos seremos prejudicados. Espero que a constru��o se acelere e que haja uma seguran�a com mais rigidez, para evitar atritos”, diz. Quem tamb�m espera para saber onde dever� buscar atendimento � a moradora An�zia do Carmo Andrade, de 53, assim como a filha dela, Aline do Carmo Andrade, de 30. Com exame marcado para hoje, Aline tamb�m n�o sabe o que fazer. “Al�m do exame, tenho uma consulta que j� havia sido remarcada para sexta-feira.”
Atendimento abalado
Confira n�meros das unidades b�sicas de sa�de e do refor�o na vigil�ncia
152
� a quantidade de centros de sa�de de Belo Horizonte. Aproximadamente a metade precisaria ser reconstru�da por falhas estruturais, segundo a pr�pria prefeitura
253
� o n�mero de ocorr�ncias de viol�ncia nas unidades de sa�de da PBH entre janeiro e maio. A m�dia mensal � de 50
44
� o n�mero de motocicletas que ser�o empenhadas no Patrulha SUS
22
duplas de guardas municipais devem ir para a rua fazer a seguran�a exclusiva de centros de sa�de at� o fim do ano