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Estado de Minas

Campanha pela volta de anjos em Santa Luzia foi marco no resgaste de bens culturais

Comunidades de outras localidades passaram a lutar pela volta das pe�as sacras


postado em 13/08/2018 06:00 / atualizado em 13/08/2018 07:46

Anjos barrocos que foram roubados e recuperados voltaram para o Santuário de Santa Luzia (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Anjos barrocos que foram roubados e recuperados voltaram para o Santu�rio de Santa Luzia (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Santa Luzia – Na janela de sua casa na Rua Direita e protegida do vento frio por um xale branco, a aposentada Luzia Vieira se espanta ao ver que j� se passaram 15 anos desde o retorno, a Minas, dos chamados “Anjos de Santa Luzia” – tr�s pe�as sacras de madeira policromada que iriam a leil�o no Rio de Janeiro (RJ) e foram impedidas de comercializa��o por ordem judicial. Bem humorada e preferindo n�o revelar a idade – “tenho juventude acumulada”, brinca –, a moradora do Centro Hist�rico da cidade localizada na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte se orgulha do depoimento que deu na �poca �s autoridades.

Sem se arrepender, cita um pensamento: “A verdade � dura como um diamante e delicada como a flor de um pessegueiro”. Com isso, ela quer dizer que agiu em prol da comunidade e do patrim�nio de Santa Luzia, que nasceu na �poca do ciclo do ouro e tem o Centro Hist�rico tombado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha). “Se os anjos andaram longe, voltaram para o lugar de origem”, afirma Luzia com a certeza do dever cumprido.
Em 25 de julho de 2003, a jornalista do Estado de Minas Anna Marina fez em sua coluna a den�ncia de que pe�as barrocas mineiras ent�o em poder de um colecionador nascido em Santa Luzia, na Grande BH, e radicado no Rio, iriam a leil�o na capital fluminense. Ao ver as fotos dos anjos no jornal, e depois num cat�logo da exposi��o, Luzia se lembrou de ver, quando crian�a, durante as coroa��es de Nossa Senhora, as pe�as que ficavam atr�s do ret�bulo-mor. “Havia outros anjos, n�o sei que rumo tomaram”, diz Luzia.

Outra voz de suma import�ncia nessa hist�ria de repercuss�o nacional foi a da advogada Beatriz de Almeida Teixeira, ent�o vice-presidente da Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia. Na tarde de ontem, no Santu�rio de Santa Luzia, Beatriz, mais conhecida como Beata, afirmou que a campanha pela volta dos anjos foi um marco na preserva��o e resgaste dos bens culturais em todo o pa�s. “Foi a partir da� que houve mais diretrizes e pol�ticas para o patrim�nio cultural”, afirma Beatriz.

A presidente do Iepha, Michele Arroyo, explica que a campanha pelo resgate dos bens culturais � importante e emblem�tica em dois aspectos: pela articula��o dos �rg�os do patrim�nio cultural e participa��o das comunidades, especialmente quanto � identifica��o de imagens e outros objetos. “H�, nesta a��o, o encontro das responsabilidades p�blica e civil.”

H� 10 anos, uma portaria do Iepha buscou organizar o setor com um cadastro para reunir as informa��es sobre as pe�as desaparecidas e um detalhamento do invent�rio de bens de 65 igrejas, perfazendo 2,5 mil objetos sacros. “Queremos chegar a 6 mil, com fotos, descri��o, iconografia, hist�ria e outros dados fundamentais para monitoramento e conserva��o. Esperamos avan�ar muito mais e, futuramente, disponibilizar as informa��es, pois, quando mais se divulga, mais dif�cil fica o extravio”, afirma a presidente.

A aposentada Luzia Vieira se orgulha do depoimento que prestou na época às autoridades (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
A aposentada Luzia Vieira se orgulha do depoimento que prestou na �poca �s autoridades (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


DIVISOR DE �GUAS Quem chega ao Santu�rio de Santa Luzia, na Pra�a da Matriz, no Centro Hist�rico, pode ver dois anjos ladeando a tarja do arco-cruzeiro e outro, o do sepulcro, no coroamento do altar de Nosso Senhor dos Passos – � bom ressaltar que essas pe�as teriam sido vendidas, e n�o roubadas. Para especialistas, a hist�ria da preserva��o do patrim�nio cultural de Minas tem um divisor de �guas caudaloso: a mobiliza��o em Santa Luzia se propagou em todo o estado e as comunidades passaram a lutar pela volta de obras de arte e de pe�as sacras desaparecidas, ao longo do tempo, de igrejas, capelas, museus e pr�dios p�blicos. Foi um grito contra o furto de pe�as sacras e outras obras de arte que movimentam o com�rcio clandestino. De acordo com a Interpol, s� � superado, no mundo, pelo de drogas e armas.

De forma pioneira, Minas passou a ter uma pol�tica espec�fica para a preserva��o do acervo hist�rico, algo in�dito no pa�s, contando com a participa��o de institui��es p�blicas e privadas. Outro setor que ganhou for�a foi o de educa��o patrimonial, disseminado de forma ampla na capital e no interior e com resultados positivos entre os jovens, disse ao EM o promotor de Justi�a da comarca de Santa Luzia, Marcos Paulo de Souza Miranda, ex-titular da Coordenadoria das Promotorias de Justi�a do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC). Na �poca, come�aram a trabalhar de forma integrada as secretarias estaduais da Cultura e da Defesa Social, Iepha, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), pol�cias Federal, Militar e Civil, minist�rios p�blicos Federal (MPF) e de Minas Gerais (MPMG), Igreja, Associa��o das Cidades Hist�ricas e outros.

Em mat�rias di�rias, a equipe de jornalistas denunciou a dilapida��o dos templos barrocos, divulgando, igualmente, a��es positivas, do poder p�blico ou da comunidade, para garantir a integridades dos tesouros mineiros. Numa iniciativa do MPMG, foi criado um servi�o de intelig�ncia, com banco de dados, para localizar e identificar pe�as sumidas, enquanto a Interpol faz um rastreamento internacional.

(foto: A advogada Beatriz de Almeida Teixeira diz que a partir dessa campanha houve mais diretrizes e políticas para o patrimônio cultural)
(foto: A advogada Beatriz de Almeida Teixeira diz que a partir dessa campanha houve mais diretrizes e pol�ticas para o patrim�nio cultural)

 

Santana Mestra

 

A campanha pelo resgate de seus bens culturais n�o terminou em Santa Luzia, muito menos para a aposentada Dalma Aparecida Martins, de 94 anos. Ela aguarda, com esperan�a, a volta da imagem de Santana Mestra, pe�a de 1740 em poder de um colecionador residente no Rio e alvo de a��o ajuizada pelo MPMG, em 2003. Ex-tabeli� do Cart�rio de Registro Civil, Dalma n�o sossega enquanto a imagem barroca n�o retornar � cidade. O caso ainda n�o teve o desfecho esperado e continua sob acompanhamento dos promotores de Justi�a.

Considerada uma das primeiras imagens sacras de Santa Luzia, a Santana Mestra – formada por um conjunto de tr�s pe�as separadas: Santa Ana, m�e de Nossa Senhora, a menina Maria e a cadeira tamb�m em madeira policromada – traz boas recorda��es a Dalma Martins, moradora do Centro Hist�rico. Nos tempos de crian�a, ela participava das li��es de catecismo dadas pela integrante das Filhas de Maria e zeladora da Matriz de Santa Luzia, Augusta Dolabella (1904-1995), guardi� do patrim�nio religioso. Os ensinamentos eram ministrados numa capela, j� demolida, que ficava ao lado da cadeia, na Rua Floriano Peixoto, para a qual foram transferidos as rel�quias do primitivo templo destru�do por uma enchente, segundo a tradi��o oral.

Em agosto de 2007, Dalma Aparecida compareceu � sede do Iepha, em Belo Horizonte, para dar seu depoimento. Na �poca, em companhia da tamb�m luziense Maria Augusta, a Mariinha, j� falecida, que deu seu depoimento, ela foi recebida pelo ent�o vice-presidente e diretor de Conserva��o e Restaura��o da institui��o Renato C�sar de Oliveira. Em seguida, elas deram testemunho na sede do Minist�rio P�blico de Minas Gerais.

A exemplo da Santana Mestra de Santa Luzia, h� outras pe�as sacras aguardando decis�o da Justi�a (veja o quadro).


ANJOS BARROCOS Os 15 anos de resgate dos bens culturais foram documentados dia a dia pelo Estado de Minas.A partir de uma den�ncia da jornalista Anna Marina, publicada em 25 de julho de 2003, sobre pe�as barrocas que estavam em poder de um colecionador e iriam a leil�o no Rio de Janeiro (RJ), a equipe do caderno Gerais foi a campo para investigar o caso, localizando uma testemunha-chave no caso “Anjos de Santa Luzia”, que ganhou repercuss�o nacional. A aposentada Luzia Vieira, residente em Santa Luzia, na Grande BH, lembrava-se dos objetos sacros, que, nos tempos dela de crian�a, ficavam atr�s do altar da matriz da cidade. A hist�ria foi parar na Justi�a e em 12 de agosto daquela ano retornaram a Minas, ficando sob guarda do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha).

(foto: Marcos Michelin/Estado de Minas- 12/08/2003 )
(foto: Marcos Michelin/Estado de Minas- 12/08/2003 )


� frente da luta dos moradores de Santa Luzia estava a advogada Beatriz de Almeida Teixeira, ent�o vice-presidente da Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia, entidade que ajuizou a��o para recuperar as pe�as. Na �poca, por determina��o do ent�o juiz da 2ª Vara C�vel de Santa Luzia Jair Eduardo Santana, o conjunto foi exclu�do do leil�o no Rio. Na sede do Iepha (foto), os anjos foram periciados para comprovar origem e autenticidade pela equipe da arquiteta Selma Miranda. O resultado mostrou que as pe�as eram mesmo do Santu�rio de Santa Luzia, para onde retornaram em 10 de agosto de 2003.

FA�A CONTATO

Qualquer informa��o sobre as pe�as desaparecidas de Itatiaia, em Ouro Branco, ou de outra cidade mineira, deve ser comunicada aos �rg�os competentes. Veja como fazer:

 

MINIST�RIO P�BLICO DE MINAS GERAIS, VIA COORDENADORIA DAS PROMOTORIAS DE JUSTI�A DE DEFESA DO PATRIM�NIO CULTURAL E TUR�STICO (CPPC)

pelo telefone (31) 3250-4620, por email [email protected] ou carta para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte, CEP 30.140-062

 

IPHAN

(31) 3222-2440 / (61) 2024-6342 /

(61) 2024-6355 / (61) 2024-6370 –

[email protected],

[email protected] e

[email protected]

 

IEPHA

(31) 3235-2812 e

(31) 3235-2813 –

www.iepha.mg.gov.br


POL�CIA MILITAR

Disque-den�ncia – 181 e (31) 3741-

1253 (65ª Cia. de PM)

 

ASSOCIA��O SOCIOCULTURAL OS BEM-TE-VIS

(31) 98526-9053 (WhatsApp) e

www.osbemtevis.org.br


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