
O mau cheiro havia desaparecido e voltou a dar orgulho ver o espelho d’�gua de um dos cart�es-postais de Belo Horizonte. Mas bastou a estiagem chegar para velhos problemas voltarem � tona na Pampulha. Nas �ltimas semanas, quem passa pela lagoa em pontos como as imedia��es da igrejinha, em frente � Avenida Fleming, logo percebe uma esp�cie de nata verde tomando conta de grande extens�o da superf�cie, acompanhada de um odor insuport�vel. Por enquanto, n�o h� horizonte para a continuidade do tratamento da qualidade da �gua, cujo contrato foi encerrado em mar�o. Sem os produtos qu�micos que garantiam um aspecto mais limpo e elevaram o reservat�rio a uma categoria superior na classifica��o ambiental, a prefeitura da capital estuda novo contrato, enquanto investe novamente em desassoreamento. Com essa finalidade, a represa vai consumir mais R$ 33,7 milh�es at� 2022. Com o valor, chega a mais de R$ 100 milh�es o dinheiro p�blico usado a partir dos �ltimos dois anos na lagoa.
J� a retirada de lixo do espelho d’�gua, sob responsabilidade da Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), � di�ria, conta com dois barcos e uma balsa e custa R$ 19 milh�es por ano. Cerca de 30 servidores trabalham nesse aspecto da manuten��o. O volume de sujeira recolhido no local � de cerca de 10 toneladas por dia durante o per�odo de estiagem e de 20 toneladas di�rias no per�odo chuvoso. A secretaria acrescenta que o canal dos c�rregos Ressaca/Sarandi � limpo anualmente, a fim de minimizar o carreamento de sedimentos para a lagoa.
Os trabalhos de melhoria da qualidade da �gua da Lagoa da Pampulha a partir de produtos qu�micos duraram de abril de 2016 a mar�o deste ano, com investimento de R$ 36 milh�es. Depois de um ano de tratamento, os cinco par�metros de polui��o medidos pela administra��o municipal se encaixaram nos limites da classe 3, estabelecidos em resolu��o do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A categoria possibilita o consumo da �gua por animais, irriga��o, pesca amadora e o chamado contato secund�rio pelo ser humano em atividades como canoagem, remo ou passeios de barco.
Essas iniciativas contemplaram a aplica��o de duas tecnologias distintas e complementares: uma destinada � degrada��o de mat�ria org�nica e � desinfec��o (redu��o da presen�a de coliformes fecais), e a outra desenvolvida especificamente para reduzir as concentra��es de f�sforo e controlar a flora��o de algas. A interven��o prev� duas fases: a de alcance da classe 3 e outra de manuten��o do patamar.
"A sociedade tem que entender que tem que pagar o condom�nio para ter a Lagoa da Pampulha bem. Assim como n�s precisamos pagar um condom�nio para que o pr�dio em que a gente mora se mantenha �ntegro e limpo, para que aconte�a o mesmo com a lagoa h� uma despesa permanente"
Ricardo Aroeira, diretor de gest�o de �guas Urbanas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, em declara��o dada ao EM em maio, sobre a necessidade de gastos permanentes com a represa
Por�m, a continuidade do processo, interrompido em mar�o deste ano, ainda n�o tem data. Como mostrou o Estado de Minas em maio, a prefeitura j� decidiu manter o sistema de tratamento da qualidade da �gua, considerado um sucesso pela administra��o. Mas ainda est� definindo quais ser�o os crit�rios do novo contrato, e s� depois disso ser� poss�vel saber quanto o programa vai custar aos cofres p�blicos.
A Secretaria Municipal de Obras informa que ainda est� sendo analisado internamente o processo de contrata��o de empresa para dar continuidade aos trabalhos. “No entanto, � fundamental que se tenha a compreens�o de que, mesmo com o enquadramento da �gua da Lagoa da Pampulha em classe 3, ela continuar� sujeita a varia��es em sua qualidade, pois se trata de um lago urbano, que sempre ser� afetado por fontes poluidoras (polui��o difusa em fun��o da lavagem do solo pelas chuvas, eventuais vazamentos no sistema de esgotamento sanit�rio, lan�amento de efluentes dom�sticos e/ou industriais clandestinos) que podem superar a sua capacidade de autodepura��o”, ressalta a pasta.
A secretaria sustenta que o diferencial alcan�ado durante os servi�os de recupera��o � que a lagoa se tornou mais resiliente, “respondendo em curto prazo �s agress�es provocadas pelo aporte de poluentes que provocam altera��es na qualidade de sua �gua, estando com a sua capacidade de autodepura��o aumentada em fun��o da a��o dos remediadores aplicados durante o tratamento”.

DESCONFIAN�A No feriado municipal de quarta-feira, a orla da Pampulha estava lotada de pessoas correndo, caminhando, pedalando ou simplesmente contemplando o espelho d’�gua. Fam�lias inteiras aproveitaram o dia livre para passear e praticar esporte. Mas crian�as ou adultos tinham, invariavelmente, a aten��o desviada para a mancha verde que tomava conta do ponto pr�ximo � Igreja S�o Francisco de Assis. Os coment�rios comuns remetiam ao aspecto desolador e ao mau cheiro quase insuport�vel que pairava no ar.
A advogada Fl�via Diniz, de 37 anos, moradora do Bairro Serrano, na Regi�o da Pampulha, caminhava com a sogra, Maria Freitas, de 81. “Tenho a impress�o de que o problema est� aumentando, pois antes o mau cheiro se concentrava perto do Parque Ecol�gico. � uma pena, pois a lagoa estava muito bonita”, disse.
O casal Shirley Iara da Silva Veiga, de 50, e Jardel Moia Monteiro, de 34, estava revoltado com o que via. Ao passar pelo local, o gestor em seguran�a disparou, at�nito: “� esse nosso cart�o-postal – podre”. Para a enfermeira, o aspecto colocava em xeque os investimentos anunciados em despolui��o. Os dois duvidam da classifica��o de n�vel 3 que j� foi atribu�da � lagoa. “� uma vergonha isso”, disse Jardel. Para Shirley, a esperan�a acaba ficando nas m�os da pr�pria natureza: “No per�odo das �guas, pelo menos, a chuva esconde e escoa essa sujeira”.