
Tr�s acidentes que transformaram o princ�pio de semana em Belo Horizonte em um caos generalizado no tr�nsito – pelo menos um deles com consequ�ncias para os pr�ximos dias – confrontaram motoristas e pedestres da capital com uma dura realidade: a falta de provid�ncias que faz com que problemas conhecidos se repitam indefinidamente. A segunda-feira desafiou a paci�ncia de condutores tanto no acesso ao Centro de BH pelo Complexo da Lagoinha quanto na descida de seis quil�metros do Anel Rodovi�rio entre os bairros Olhos D’�gua e Bet�nia. Para piorar, duas ocorr�ncias � tarde, em Contagem, agravaram ainda mais as condi��es de tr�fego na regi�o metropolitana da capital.
J� nos outros acidentes, um deles com morte, duas batidas na j� temida e conhecida descida do Bairro Bet�nia, no Anel, escancararam mais uma vez a necessidade de reformas que nunca saem do papel e se arrastam h� anos, amea�ando vidas e travando a rodovia a cada acidente, em um trecho que tem potencial para parar boa parte da Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte (leia na p�gina 14).
O acidente no Complexo da Lagoinha aconteceu ainda na noite de domingo. Segundo a Terraplenagem Modelo, empresa dona da carreta e da retroescavadeira que atingiu as vigas da trincheira, houve um erro na acomoda��o da m�quina, que seria levada do Bairro Santa Cruz, Nordeste da capital, a uma obra no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de BH. O bra�o da escavadeira n�o foi colocado em altura inferior a 4,5 metros e o resultado foi uma pancada que danificou em maior ou menor grau pelo menos 15 das 20 vigas da trincheira entre o t�nel e o Viaduto Oeste, nesse sentido.

O superintendente da Sudecap, Henrique Castilho, informou que pelo menos oito vigas de concreto ter�o que ser reparadas, al�m das quatro de metal que s�o usadas com car�ter de sinaliza��o. Segundo Castilho, por�m, n�o h� risco de desabamento da estrutura, e por isso pistas sob as vigas foram liberadas parcialmente no fim da manh� de ontem. Por�m, a parte superior, que consiste em uma al�a que liga a Avenida Pedro II �s avenidas Ant�nio Carlos e Cristiano Machado, vai continuar fechada devido � trepida��o que pode ocasionar o desprendimento de peda�os de concreto sobre os carros.
“As pistas superiores s� ser�o liberadas depois da recupera��o. O caminh�o esbarrou nas vigas e trincou o concreto apenas na parte de baixo. N�o afetou estrutura e nem ferragem”, afirmou Castilho, que estima em cerca de quatro dias o tempo necess�rio para libera��o total do tr�fego na estrutura. O coronel Alexandre Lucas, secret�rio de Defesa Civil de BH, explicou que inicialmente houve uma necessidade de fechamento total, at� porque foram observadas trincas no concreto logo depois do acidente, ainda na noite de domingo. Ap�s a vistoria conjunta com a Sudecap, j� com a luz do dia, foi poss�vel perceber que n�o havia risco de desabamento, e por isso houve a determina��o de libera��o parcial do tr�nsito.
A PROVID�NCIA QUE N�O VEIO O que mais chama a aten��o � que, em outubro de 2013, acidente semelhante gerou interdi��o parcial da trincheira, quando um caminh�o bateu nas vigas e deslocou parte das estruturas. Na �poca, a BHTrans anunciou que seria colocado um p�rtico com material leve na mesma altura (4,5 metros), que pudesse servir de anteparo, fazendo com que ve�culos altos se chocassem antes com essa sinaliza��o, de forma a alertar os caminhoneiros antes de um acidente na trincheira. A coloca��o ocorreu, por�m, apenas na sa�da para condutores que chegam pela Avenida Cristiano Machado. Na Ant�nio Carlos, permanece apenas a sinaliza��o avisando sobre a altura.
Questionada sobre o assunto, a BHTrans justificou que o p�rtico ou dispositivo de alerta – que consiste em uma placa zebrada amarela e preta – “n�o � obrigat�rio”. “� um dispositivo acess�rio para chamar a aten��o do motorista”, informou a empresa municipal, em nota. “� importante lembrar que todos os acessos � trincheira t�m sinaliza��o indicativa de altura m�xima – 4,5 metros – e que respeitar a sinaliza��o � obriga��o de todo motorista”, acrescenta o texto. Ainda segundo a nota, ve�culos com altura acima de 4,40m precisam de autoriza��o especial para trafegar. Mas a empresa informou que vai “avaliar toda a sinaliza��o existente e, se houver necessidade, refor��-la”.
"Foram 40 minutos do S�o Crist�v�o � Lagoinha. A popula��o foi extremamente prejudicada"
Niltom Paim, 66 anos, m�sico
SUCESS�O DE ERROS Segundo a coordenadora administrativa da empresa respons�vel pela carreta, Renata Costa, foi justamente o caminho via Ant�nio Carlos que o caminh�o percorreu. O motorista estava com a Carteira de Habilita��o vencida. Quatro autua��es, tr�s para o condutor e uma para a firma, foram lavradas (veja quadro). “O fato � que houve um erro conjunto. N�o houve a confer�ncia da carteira e vamos retomar esse procedimento. Por algum acaso o setor de Recursos Humanos pulou essa rotina, mas os motoristas tamb�m t�m essa responsabilidade”, afirmou a representante da empresa. Ela reiterou o erro na acomoda��o do bra�o da retroescavadeira, que estaria na altura correta para o tr�fego na estrada, mas n�o para o limite do Complexo da Lagoinha. Renata Costa informou que j� est� negociando com a Sudecap o reparo, que, segundo a prefeitura, ser� assumido pela empresa.
Se por um lado a empresa afirma que est� negociando o ressarcimento referente ao valor que ser� gasto na obra, por outro o transtorno causado � popula��o n�o pode ser medido em valores. O motoboy William Santos, de 28 anos, diz que gasta normalmente 40 minutos entre a Regi�o de Venda Nova e o Bairro Belvedere, Centro-Sul de BH. Ontem, com uma hora e meia na rua, ele ainda estava no Complexo da Lagoinha. “Trabalho com entregas e hoje o servi�o ficou prejudicado. O tr�nsito agarrou de uma forma que n�o estamos acostumados. Foi impressionante”, afirma.
Acostumado a percorrer a dist�ncia entre o Bairro S�o Crist�v�o e o Complexo da Lagoinha em oito minutos em dias com tr�nsito mais intenso, o m�sico Niltom Paim, de 66, s� n�o perdeu o compromisso que tinha ontem porque saiu de casa bem mais cedo. “Foram 40 minutos do S�o Crist�v�o � Lagoinha. A popula��o foi extremamente prejudicada”, afirmou.
Infra��es e castigo
Veja autua��es aplicadas no caso do acidente no Complexo da Lagoinha
1) Dirigir com a Carteira Nacional de Habilita��o ou permiss�o para dirigir vencida h� mais de 30 dias
Infra��o grav�ssima: multa de R$ 293,47 e perda de sete pontos na carteira
2) Transitar com o ve�culo ou carga com dimens�es superiores ao estabelecido pela sinaliza��o, sem autoriza��o
Infra��o grave: multa de R$ 195,23 e perda de cinco pontos na carteira
3) Transitar com ve�culo danificando a via, suas instala��es e equipamentos
Infra��o grav�ssima: multa de R$ 293,47 e perda de sete pontos na carteira
4) Permitir posse ou condu��o de ve�culo a pessoa com CNH ou permiss�o vencida h� mais de 30 dias
Infra��o grav�ssima: multa de R$ 293,47 (para a empresa)
Por dentro da trincheira

» A via que liga o T�nel da Lagoinha ao Viaduto Oeste e � Avenida Nossa Senhora de F�tima tem uma trincheira, que apoia al�a de liga��o da Pedro II �s avenidas Ant�nio Carlos e Cristiano Machado.
» No ponto onde ocorreu a batida, a trincheira tem 20 vigas transversais � pista, sendo quatro de metal e 16 de concreto. S�o vis�veis danos em pelo menos 15 delas
» No sentido oposto h� 10 estruturas de concreto e duas de metal, n�o danificadas
» No ponto mais largo onde ocorreu o acidente, as vigas t�m cerca de 18 metros, segundo a Sudecap
» Os danos se resumiram a avarias na parte inferior das vigas, com amassamento das estruturas de metal e descolamento de partes de concreto nas outras atingidas