Ao descobrir que uma segunda via de sua Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) tinha sido emitida sem o seu consentimento, um grande empres�rio belo-horizontino com atua��o em todo territ�rio nacional procurou o Detran-MG. Mal sabiam ele e as equipes que investigaram o motivo de o documento ter sido enviado para um endere�o desconhecido que a apura��o resultaria na descoberta de um esquema de fraudes milion�rio, mantido por uma quadrilha que agia havia tr�s anos e j� acumulava cerca de R$ 160 milh�es, produto dos golpes.
De acordo com o delegado que coordenou as investiga��es, Vin�cius Dias, a quadrilha era composta por cinco advogados, que eram os cabe�as; por laranjas, que eram usados para assumir neg�cios de fachada; e por auxiliares administrativos, que faziam pedidos e cuidavam da burocracia para obter documenta��o e certid�es falsas ou fraudadas. “Os l�deres da quadrilha eram muito sofisticados e conheciam bem a burocracia e os processos legais envolvidos nos crimes. Usavam um esquema que chamamos de triangula��o empresarial: abriam empresas usando os nomes das v�timas como s�cios, enquanto os l�deres se revezavam na constitui��o dessa sociedade”, conta o policial, indicando a forma que os fals�rios adotavam para despistar sua associa��o criminosa.

Uma vez com a empresa fantasma ativa, a quadrilha usava documentos fraudados e at� certid�es falsificadas para conseguir empr�stimos milion�rios. S� com uma certid�o do Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG) forjada, os criminosos conseguiram obter R$ 16 milh�es. “Para conseguir essas somas, a quadrilha se aproveitava do grande lastro que os empres�rios v�timas tinham no mercado”, aponta o delegado.
A fase seguinte do golpe consistia em abrir empresas em outros estados, como S�o Paulo, Rio de Janeiro, Par� e Mato Grosso. Essas firmas de fachada recebiam os recursos captados ilegalmente. Oficialmente, registravam em cart�rio que essas somas eram usadas para ampliar o capital social das empresas. Por�m, na verdade, esse era o momento em que os criminosos dividiam o dinheiro entre si.
As empresas fantasmas tinham vida curta, de seis meses a um ano. “Quando as v�timas percebiam o golpe, ao receber cobran�as, a��es de execu��o e bloqueio de suas contas-corrente, � que descobriam que haviam sido alvo dessa quadrilha”, afirma o delegado.
A Opera��o Apate, nome em alus�o ao esp�rito grego do engano, do dolo e da fraude, ocorreu com o apoio da Pol�cia Militar. O n�cleo operacional dos criminosos era uma cobertura de luxo do Bairro Buritis, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, avaliada em R$ 2,5 milh�es. A pol�cia chegou minutos antes de o propriet�rio ter sa�do. “A toalha ainda estava molhada e quente sobre o box do banheiro”, observou o delegado. O c�o do suspeito foi deixado para tr�s. De acordo com a Pol�cia Civil, o homem entrou em contato posteriormente e negociava sua entrega para as autoridades. Dentro do apartamento foram encontradas provas do golpe, como contratos e documentos que v�o passar por per�cia, assim como dados de computadores apreendidos.

Carros de luxo eram incendiados
Os golpes da quadrilha financiavam uma vida de luxo. Dentro da cobertura no Buritis foram apreendidos tr�s caixas e uma sacola cheia de rel�gios de luxo, tr�s TVs, eletrodom�sticos modernos, uma bicicleta, um saxofone, dois viol�es, d�lares e outros pertences de luxo, de acordo com a pol�cia adquiridos com o dinheiro das fraudes. Uma caminhonete de luxo tamb�m foi apreendida.
Segundo a pol�cia, outros carros importados foram comprados, mas acabaram sendo incendiados, como parte de outro golpe, para receber o dinheiro do seguro. Em Par� de Minas, a busca ocorreu em uma propriedade de luxo, com 4 mil metros quadrados, que s� em paisagismo recebeu mais de R$ 170 mil em investimentos. Terrenos e im�veis tamb�m foram adquiridos em Contagem e em outros munic�pios da Grande BH.
Os suspeitos responder�o por forma��o de organiza��o criminosa, lavagem de dinheiro, falsifica��o de documentos p�blicos e privados, uso de documentos falsos e falsa identidade. Em caso de condena��o, os crimes podem resultar em penas de 25 a 65 anos.

