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Estado de Minas

M�mias mineiras estavam em alas destru�das pelo fogo no Museu Nacional

Corpos eram de uma mulher que morreu h� mais de 600 anos e duas crian�as. Todos vieram das cavernas dos mares-de-morros da Zona da Mata


13/09/2018 06:00 - atualizado 13/09/2018 08:33

Entre os exemplares mais famosos que compunham o acervo, vindos do Egito, estavam também indígenas (acima) mumificados naturalmente em cavernas da Zona da Mata
Entre os exemplares mais famosos que compunham o acervo, vindos do Egito, estavam tamb�m ind�genas (acima) mumificados naturalmente em cavernas da Zona da Mata (foto: Luciano Faria/Divulga��o)

Entre os mais misteriosos e antigos componentes do acervo afetado por um inc�ndio no in�cio do m�s, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, os corpos mumificados tinham um apelo especial para visitantes e pesquisadores. Entre os 700 indiv�duos da cole��o, havia desde exemplares eg�pcios com mais de 2 mil anos at� animais embalsamados. O que pouca gente sabe � que em meio a essas exemplares milenares e a f�sseis como o cr�nio de Luzia, uma das mais antigas habitantes das Am�ricas (11,4 mil anos), figuravam tr�s m�mias de valor inestim�vel para a hist�ria de Minas Gerais e do Brasil: s�o corpos de uma mulher de 1,48 metro de altura e idade entre 24 e 26 anos, que morreu h� mais de 600 anos. Ao seu lado, um rec�m-nascido e um beb� de pouco mais de 1 ano. Todos vieram das cavernas dos mares-de-morros da Zona da Mata, e eram representantes de popula��es ind�genas anteriores � conquista europeia do Brasil. Informa��es de que se disp�e at� o momento indicam que pouco ou nada se salvou do recinto onde essa parte do acervo estava exposta.

Os restos mortais das m�mias mineiras foram naturalmente conservados pela aridez da Caverna da Babil�nia, em Goian�, munic�pio que fica a 42 quil�metros de Juiz de Fora. Dos 14 restos mortais encontrados nas cavidades naturais daquela regi�o, apenas as tr�s m�mias ent�o expostas no Museu Nacional ainda se encontravam no Brasil. As demais foram levadas por pesquisadores europeus e seu paradeiro � incerto.

Na cidade mineira, o clima � de consterna��o pela perda de um tesouro arqueol�gico que nenhum goianaense jamais poder� ver novamente. “A gente tinha muito orgulho das nossas m�mias. O valor delas era t�o grande que estavam expostas no museu mais importante do Brasil”, considera o prefeito do munic�pio, Estevam de Assis Barreiros.

De acordo com ele, esse � o segundo baque que o munic�pio sente em rela��o ao seu patrim�nio, uma vez que a fazenda do s�culo 18, onde ficam as cavernas, foi destru�da por um inc�ndio em 2001. “A gente fazia excurs�es para as cavernas com as crian�as; quem podia ia ao Museu Nacional para ver as m�mias. Agora, estamos discutindo a forma��o de um pequeno museu onde poderemos exp�r fotografias e at� encomendar uma r�plica de cera da nossa m�mia. N�o podemos deixar essa hist�ria morrer”, disse Barreiros.

No interior da caverna, as m�mias foram encontradas sobre pedras, enroladas em cestas, redes, folhas e fibras. Junto a elas foram deixados objetos representativos de sua cultura, como bolsas tran�adas em fibras, rede de dormir, uma corda grossa e uma cruz de fios, colocada sobre a cabe�a da mulher. “Pela an�lise dos objetos e do local onde o grupo foi encontrado, acredita-se que pertenciam ao ramo dos Botocudos, mais especificamente �s etnias maxacali, kamakan ou makuni”, indica a descri��o do acervo no Museu Nacional. 

NOBREZA
O local da descoberta das m�mias fica no terreno da Fazenda Fortaleza de Santana, numa das tr�s cavernas da Serra da Babil�nia. A propriedade, de acordo com o trabalho do doutor em arqueologia da Universidade de S�o Paulo (USP) �ngelo Alves Corr�a, era uma das grandes produtoras de caf� da regi�o, poder que permitia aos propriet�rios acesso � pr�pria corte imperial, sendo a matriarca a baronesa Maria Jos� de Santana.

O registro mais antigo das cavernas, de acordo com o trabalho da USP, data de 1865, quando foram encontradas por ca�adores em busca de abrigo. Mas os primeiros vest�gios arqueol�gicos e restos mortais foram descobertos apenas em 1871. “Estes s� vieram a ser identificados com a visita de Manuel Bas�lio de Furtado. Movido por sua experi�ncia anterior, esse naturalista local promoveu uma inspe��o nas cavernas, encontrando vest�gios humanos, concluindo na �poca tratar-se de cemit�rio ind�gena”, descreve Corr�a. Foi por meio de Furtado, que era correspondente do Museu Nacional, que ocorreram as primeiras escava��es visando � retirada de esqueletos, corpos mumificados e seus acompanhamentos funer�rios. 

EXPEDI��O
O achado motivou uma expedi��o do Museu Nacional, em 1875, constitu�da pelo seu diretor � �poca, Ladislau de Mello Netto, pelo naturalista e diretor da Comiss�o Geol�gica do Imp�rio, Charles Frederick Hartt, entre outros cientistas. Hartt montou uma linha de 20 escravos para remover toneladas de terra em dois dias e conseguiu recuperar os exemplares que depois foram expostos no Rio. “Essa equipe foi muito importante para a sistematiza��o dos dados sobre o achado e a conserva��o das informa��es, por meio de uma rica publica��o. As atividades neste s�tio arqueol�gico contaram com importantes personalidades inseridas nos prim�rdios da arqueologia em nosso pa�s. Para alguns autores, 1870-1910 � o per�odo que marca in�cio da arqueologia nacional”, afirma �ngelo Alves Corr�a, da USP.

Na d�cada de 1980, as m�mias mineiras foram submetidas a exames radiol�gicos, morfol�gicos e parasitol�gicos, al�m de ter sido realizada data��o absoluta por carbono 14 no Centre des Fa�bles Radioactivit�s de Gif sur Yvette (Fran�a), que chegou ao resultado de uma idade de aproximadamente 680 anos – indicando, portanto, serem de povos pr�-colombianos. Foram analisados tamb�m os restos de tecelagem e cordaria. Os estudos apontam para uma t�cnica de tecelagem atualmente empregada pelo grupo ind�gena maxakali, mas n�o exclui a possibilidade de os vest�gios terem sido produzidos por grupos kamak�n ou makuni. “Ficou claro ainda que o processo de mumifica��o de todos os corpos examinados foi natural, provavelmente por desidrata��o dos tecidos devido ao microclima do interior da caverna”.

Arquivos digitalizados por pesquisador podem ajudar


 

Se Minas perdeu com a trag�dia no museu do Rio de Janeiro parte da hist�ria de alguns de seus ancestrais, estudos desenvolvidos no estado podem ajudar a recontar um pouco da hist�ria das m�mias provavelmente destru�das no inc�ndio – a mais importante cole��o da Am�rica Latina. Mestrando de hist�ria na UFMG, o estudante Andr� Onofre Lim�rio Chaves conheceu bem as pe�as do Egito Antigo integrantes do acervo, para fazer a disserta��o O colecionismo de antiguidades eg�pcias no Brasil Imperial.

(foto: Fernando Fraz�o/ABR - 4/8/13)


“Estive no museu para fazer pesquisas nas salas de Mem�ria e Arquivo. Por sorte, tenho toda a documenta��o digitalizada, e, assim, poderei entreg�-la � dire��o do museu como contribui��o”, disse Andr�, de 25 anos. Destacando o bicenten�rio da institui��o cultural, celebrados este ano, Andr� conta que, ao ser fundado por dom Jo�o VI (1767-1826), o museu recebeu primeiramente o nome de Real, passando em 1822 para Nacional Imperial e, finalmente, com a Proclama��o da Rep�blica (1889) para Nacional. “A cole��o de m�mias era a mais importante da Am�rica Latina e chegou ao Brasil em 1826. A perda � muito grande”, afirmou.

Contribui��es como essa podem ajudar na reconstru��o do Museu Nacional. Como mostrou o Estado de Minas, o Museu de Ci�ncias Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte, tamb�m est� pronto a auxiliar na recomposi��o de parte do acervo paleontol�gico (f�sseis de animais) que se perdeu. Segundo o coordenador da institui��o, Bonif�cio Jos� Teixeira, as r�plicas de exemplares da megafauna exposta na unidade do c�mpus Cora��o Eucar�stico, na Regi�o Noroeste da capital, foram feitas, em resina, sobre os originais exibidos no museu do Rio. O acervo mineiro possibilita c�pias de pe�as como um cr�nio de Tiranossaurus rex, de um pterossauro (r�ptil voador), do esqueleto completo do toxodonte ou toxodon (rinoceronte), da mand�bula de um mastodonte e mais dois dentes incisivos, de um tigre-dente-de-sabre e de uma pregui�a-gigante. (GW)


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