(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Salto para fugir da morte revela quadro de viol�ncia contra mulher em Minas

Perseguida pelo marido, mulher pula do segundo andar de casa. Ato retrata o desespero das v�timas de agress�es dom�sticas no estado, onde houve 72 feminic�dios at� setembro


postado em 10/10/2018 06:00 / atualizado em 10/10/2018 07:37


Viol�ncia dom�stica que se repete. Perseguida pelo marido, que amea�ava mat�-la, uma mulher pulou do segundo pavimento de uma casa em Montes Claros, no Norte de Minas, na noite de segunda-feira. Ela sofreu fraturas nas pernas e sobreviveu. A.Q.R., de 31 anos, segue em recupera��o, internada na Santa Casa da cidade. O ataque � um retrato da viol�ncia contra as mulheres, que somente at� setembro levou ao menos 72 v�timas de feminic�dios no estado.

 

De acordo com o boletim de ocorr�ncia da Pol�cia Militar, a v�tima contou que o marido, M.A.L., de 49, come�ou a agredi-la no primeiro andar da casa, localizada no Bairro Jaragu� II, na Regi�o Norte da cidade, o que a obrigou a correr para o segundo pavimento da resid�ncia. L�, ele teria tentado esgan�-la e afog�-la numa caixa d’�gua exigindo que ela confessasse uma suposta trai��o.

 

Ainda segundo o depoimento dado � pol�cia, a v�tima conseguiu escapar do agressor e pulou do pavimento superior, caindo na cal�ada. A mulher sofreu fratura exposta no tornozelo e outras, nas pernas e no joelho. Ela gritou por ajuda e foi auxiliada por um vizinho, que chamou a equipe do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia e Emerg�ncia, sendo levada para o Pronto-Socorro da Santa Casa de Montes Claros. O autor da tentativa de feminic�dio fugiu em um carro Fiat Strada e ainda n�o havia sido preso at� o fechamento desta edi��o.

 

O caso de A.Q.R � mais um de viol�ncia dom�stica contra mulheres, crime com alta incid�ncia no estado, apesar do aumento da pena contra os agressores previsto na Lei Maria da Penha e da cria��o de medidas protetivas �s v�timas. Felizmente, desta vez a v�tima sobreviveu. Mas n�o foi essa a sorte de tantas outras no estado. Na mesma regi�o onde mora A.Q.R., dois outros casos, ocorridos num �nico fim de semana setembro e ganharam o notici�rio, exemplificam essa realidade: em Montes Claros,  Elaine Figueiredo Lacerda, de 61, foi morta a tiros pelo marido, Calcivo Deusdete de Freitas, tamb�m de 61, na porta de casa em um bairro de classe m�dia; na localidade de Quem-Quem, zona rural de Jana�ba, Valdilene de Brito Medeiros, de 28, foi morta pauladas e facadas pelo companheiro Rodrigo Aparecido de Souza, de 29.

Feminic�dio Para a ju�za Marixa Fabiane Lopes Rodrigues – que atuou no julgamento do ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado, junto com comparsas, pela morte e desaparecimento do corpo de Elisa Samudio –, a vis�o da mulher como objeto sustenta a perpetua��o do feminic�dio. “Esses crimes nada mais s�o do que a repeti��o de padr�es de comportamento de agressores que aprenderam no curso de sua vida inteira a ver a mulher como um objeto de posse, como um ser que a eles devia n�o apenas o amor e companheirismo, mas principalmente obedi�ncia, subservi�ncia e depend�ncia”, afirma a ju�za.

 

Segundo ela, a Lei Maria da Penha, “com seu leque de medidas protetivas, � um grande avan�o na prote��o das mulheres” e ajuda a conter a viol�ncia dom�stica. Entretanto, analisa, por si s�, � insuficiente para coibir os feminic�dios. “Eles continuam a ocorrer devido � “perpetra��o da cultura da viol�ncia e da intoler�ncia”, afirma a magistrada, que atualmente preside o primeiro Tribunal do J�ri da capital. Marixa Rodrigues defende investimentos na preven��o dos assassinatos e das tentativas de homic�dios contra as mulheres. “Em um relacionamento conflituoso, existe um gatilho acionado muito antes do disparo de uma arma de fogo ou de golpes de faca e ele precisa ser desarmado”, alerta.

Em um relacionamento conflituoso, existe um gatilho acionado muito antes do disparo de uma arma de fogo ou de golpes de faca e ele precisa ser desarmado

Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, ju�za

 

O delegado regional de Montes Claros, Jurandir Rodrigues C�sar Filho, chama a aten��o para a necessidade de a mulher lan�ar m�o das medidas protetivas. “As mulheres agredidas, n�o devem, em hip�tese alguma, permanecer em situa��o de viol�ncia. Elas devem procurar as delegacias especializadas no atendimento � mulher, onde v�o receber acolhimento de acordo com a sua necessidade”,  aconselha o delegado. Segundo ele, em Montes Claros, a delegacia da �rea atende por dia, em m�dia, 20 mulheres e encaminha � Justi�a em torno de quatro pedidos de medidas protetivas.

 

A defensora p�blica Laurelle Carvalho Ara�jo, do N�cleo de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), da Defensoria Publica de Minas Gerais em Belo Horizonte, concorda. “A Justi�a n�o ter� um olhar (para as v�timas de viol�ncia) se elas n�o informarem ao juiz que precisam das medidas de prote��o”, avalia.

Crimes em s�rie

Dados da Pol�cia Civil de Minas Gerais mostram que, de janeiro a junho, 61 mulheres foram assassinadas por motivos de menosprezo ou discrimina��o, ou por viol�ncia dom�stica no estado. No mesmo per�odo do ano passado, foram 62 ocorr�ncias. Levantamento do Estado de Minas com base nos casos noticiados identificou, de julho a setembro, ao menos outras 10 ocorr�ncias registradas no estado se enquadram no crime de feminic�dio. J� em rela��o � tentativa de feminic�dio, s�o 126 casos no primeiro semestre no estado, aproximadamente um a cada dois dias. De janeiro a junho de 2016, foram 150 registros. Em Montes Claros, no Norte de Minas, foram tr�s feminic�dios consumados e tr�s tentativas de feminic�dios neste ano, incluindo a de segunda-feira. No ano passado, foram registradas na cidade tr�s homic�dios consumados e cinco tentativas de assassinato de mulheres, v�timas de seus maridos ou ex-companheiros.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)