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Estado de Minas

Novo rosto de Luzia: estudo desmonta teoria de migra��o para Am�rica

Estudo confirmou exist�ncia de um �nico grupo populacional ancestral de todas as etnias da Am�rica. Com isso, o rosto com tra�os marcadamente africanos de Luzia foi redesenhado


postado em 08/11/2018 17:51 / atualizado em 08/11/2018 17:59

A teoria de que o povoamento das Am�ricas teria se dado por duas levas migrat�rias vindas do nordeste da �sia – com popula��o de tra�os africanos e australianos – e outra de amer�ndios semelhantes aos ind�genas atuais acaba de ser desmontada.

Um estudo feito a partir de DNA f�ssil, com amostras dos mais antigos esqueletos encontrados no continente, confirmou a exist�ncia de um �nico grupo populacional ancestral de todas as etnias da Am�rica.

Novo rosto de Luzia(foto: Divulgação/Fapesp/Direitos Reservados)
Novo rosto de Luzia (foto: Divulga��o/Fapesp/Direitos Reservados)

Com isso, o rosto com tra�os marcadamente africanos de Luzia – como foi batizado o cr�nio da jovem paleoamericana descoberto na d�cada de 1970 – foi redesenhado. Esta � a nova face de Luzia.

O trabalho foi desenvolvido por 72 pesquisadores de oito pa�ses, pertencentes a institui��es como a Universidade de S�o Paulo (USP), Harvard University, nos Estados Unidos, e Instituto Max Planck, na Alemanha.

Os dados arqueogen�ticos – que mesclam conhecimentos de arqueologia e gen�tica – mostram que todas as popula��es da Am�rica descendem de uma �nica popula��o que chegou ao Novo Mundo pelo estreito de Bering h� cerca de 20 mil anos.

Pelo DNA, � poss�vel confirmar a afinidade dessa corrente migrat�ria com os povos da Sib�ria e do norte da China. Os resultados da pesquisa foram publicados hoje (8) da revista cient�fica Cell.

Reconstru��o facial

A primeira reconstru��o facial de Luzia, uma mulher que viveu em Lagoa Santa (MG) h� 12.500 anos, foi feita na d�cada de 1990 pelo especialista brit�nico Richard Neave.

As formas tiveram como base a teoria do professor Walter Neves, da USP, segundo o qual o povo de Luzia, que se refere ao conjunto f�ssil encontrado em Minas Gerais no s�culo 19, teria chegado � Am�rica antes dos ancestrais dos povos ind�genas atuais.

A primeira leva, portanto, teria caracter�sticas africanas ou dos abor�genes australianos. A teoria usava como base de compara��o a morfologia craniana que indicava que esse povo era muito diferente dos nativos atuais.

O arque�logo Andr� Menezes Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, que coordenou a parte brasileira do estudo, explica que a contribui��o de Neves permitiu saber que havia diferen�as entre os habitantes ancestrais e os ind�genas recentes, mas os estudos gen�ticos – com as tecnologias atuais – desmontam a tese dele de que essa diferen�a se deu no processo migrat�rio entre continentes.

“Essa conex�o com essa popula��o anterior da �frica n�o existiu. A diferen�a entre Lagoa Santa e os nativos atuais tem origem dentro da pr�pria Am�rica”, disse.

O novo rosto de Luzia foi feito por Caroline Wilkinson, da Liverpool John Moores University, na Inglaterra, especialista em reconstru��o forense e disc�pula de Neave.

Os descendentes da corrente migrat�ria ancestral que chegou pela Am�rica do Norte se diversificaram em duas linhagens h� cerca de 16 mil anos.

Os integrantes de uma das linhagens cruzaram o istmo (pequena por��o de terra) do Panam� e povoaram a Am�rica do Sul em tr�s levas consecutivas e distintas.

A primeira leva ocorreu entre 15 mil e 11 mil anos atr�s, e a segunda se deu h�, no m�ximo, 9 mil anos. O estudo aponta a presen�a de DNA f�ssil das duas migra��es em todo o continente sul-americano. A terceira leva � mais recente – cerca de 4,2 mil anos – e se fixou de forma concentrada nos Andes centrais.

Os dados gen�ticos mostram que o povo de Luzia tem forte conex�o com a cultura Cl�vis, uma linhagem de humanos que fez o trajeto norte-sul h� cerca de 16 mil anos.

N�o se sabia at� ent�o que esse grupo havia migrado para o sul. Essa popula��o, no entanto, n�o perdurou por muito tempo.

“A partir de cerca de 9 mil anos atr�s ela desaparece, sendo substitu�da pelos ancestrais diretos dos grupos ind�genas que habitavam o Brasil durante o per�odo colonial”, indica o estudo. N�o s�o conhecidos os motivos que levaram ao desaparecimento dos grupos Cl�vis.

Contribui��o

Strauss explica que a nova t�cnica de arqueogen�tica traz informa��es que at� ent�o n�o eram acess�veis aos arque�logos.

“Ela abre um mundo de possibilidades anal�ticas, n�o s� de rela��es de ancestralidade, miscigena��o, determina��o de sexo, estabelecer rela��es de parentesco, investigar o fen�tipo, investigar doen�as, investigar o metagenoma, � uma infinidade de tipos de estudo e informa��es que a gente passa a poder tirar”, apontou.

Ele explica que esses avan�os tecnol�gicos se deram aproximadamente nos �ltimos dez anos, especialmente pela atua��o do Instituto Max Planck, e est�o revolucionando os estudos arqueol�gicos.

No caso dos f�sseis de Lagoa Santa, uma das dificuldades foi a extra��o do DNA, tendo em vista o clima tropical que deteriora mais rapidamente o material gen�tico.

“Em 2012, come�amos as primeiras tentativas, ainda um pouco t�midas. No come�o n�o estava dando certo, ent�o levou pelo menos dois anos para a gente aprender como era um protocolo de extra��o de DNA que funcionasse para Lagoa Santa”, relatou.

O instituto alem�o, no entanto, j� tinha conseguido extrair DNA neandertal em 2010. Dos 49 indiv�duos pesquisados, sete esqueletos com idade entre 10,1 mil e 9,1 mil anos s�o provenientes de Lapa do Santo, abrigo rochoso em Lagoa Santa.

Al�m do Brasil, foram utilizados f�sseis da Argentina, Belize, Chile e Peru, totalizando 15 s�tios arqueol�gicos.

Strauss destaca que os pr�ximos passos da pesquisa envolvem o aumento da amostragem de DNA para entender com mais detalhes o processo de ocupa��o da Am�rica.

“Encontrar outras popula��es, outros s�tios arqueol�gicos e esqueletos, que a gente possa extrair o material gen�tico para entender quando exatamente que essa popula��o chega, qual a rela��o deles com outras popula��es”, explicou.

Um laborat�rio de arqueogen�tica deve ser montado no Brasil, na USP, em 2019. “A gente espera virar um centro que atraia os colegas latino-americanos para realizar as an�lises aqui, sempre em colabora��o com os colegas da Europa e dos Estados Unidos”, disse o arque�logo.


Cr�nio de Luzia

Quase uma centena de cr�nios escavados por Neves e Strauss nos �ltimos 15 anos se encontram atualmente na USP.

Muitas das campanhas de escava��o tiveram financiamento da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo (Fapesp).

Outros f�sseis est�o guardados na Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais.

Crânio de Luzia estava no Museu Nacional, no Rio, mas acervo foi destruído por incêndio em setembro deste ano(foto: Ricardo Moraes/Reuters/direitos reservados)
Cr�nio de Luzia estava no Museu Nacional, no Rio, mas acervo foi destru�do por inc�ndio em setembro deste ano (foto: Ricardo Moraes/Reuters/direitos reservados)

De acordo com a funda��o, no entanto, a grande maioria desse acervo arqueol�gico estava depositada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o qual foi consumido por um inc�ndio no dia 2 de setembro deste ano.

O cr�nio de Luzia estava exposto no museu carioca ao lado do busto com suas fei��es feito por Neave. A representa��o do rosto original perdeu-se no fogo, mas h� c�pias. Felizmente, fragmentos do cr�nio foram encontrados nos escombros.

Trata-se de um dos mais antigos f�sseis j� encontrados no continente americano. “� natural que se estenda o que foi observado para os 12 esqueletos analisados agora, o que � bastante. Praticamente todos eles apontam na mesma dire��o, a gente assume que a Luzia tamb�m seja. Claro, n�o tem como ter certeza sem analisar o f�ssil”, explicou Strauss.

Ele informou que deve ser extra�do DNA dos fragmentos do cr�nio de Luzia, recuperados do inc�ndio, a partir da libera��o do material pela curadoria do Museu Nacional.

“O material foi exposto a temperaturas alt�ssimas e se tem uma coisa que o DNA n�o gosta � de calor, porque ele fragmenta o material. Temos que manter as expectativas em n�veis comedidos”, finalizou.


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