Todos os crimes tinham um dado em comum: eram cometidos mediante emboscada, pagamento (encomenda) ou recompensa. Nesses tr�s anos, somente em Conselheiro Pena, o grupo foi respons�vel por pelo menos 18 mortes. “Come�amos a fazer a rela��o dos homic�dios. Tinha-se dificuldade de perceber isso antes, porque havia cautela de n�o repetir executores na mesma regi�o e todo um aparato para evitar que se chegasse aos mandantes. As autoridades locais s� viam aquela morte, n�o viam as outras. Se andassem 10 quil�metros, caiam para outra comarca, com outro juiz. Ent�o, n�o era f�cil associar ao grupo”, conta a promotora. “Como o Gaeco trabalha com v�rias institui��es, pudemos contar com dados do MP, Pol�cia Militar e Civil, verificamos a atua��o ao longo da regi�o”, relata.
Desacertos comerciais, desaven�as familiares, desaven�as pol�ticas, queima de arquivo, furtos de gado e de armas, infidelidade conjugal, agiotagem, cobran�a de d�vida e at� casamento que n�o deu certo – qualquer pessoa que se torna um inconveniente � um alvo. A organiza��o era conhecida como “fam�lia” ou “irmandade” e usava estrat�gias refinadas para eliminar seus desafetos. N�o h� um l�der, por isso, a alus�o � m�fia, na qual um grupo imp�e o poder.
O grupo se organizava para que n�o ocorressem flagrantes durante os crimes, inclusive observando escalas da Pol�cia Militar, organizava apoio log�stico para monitoramento do entorno das cenas de crimes e acompanhava de perto as investiga��es, para obter informa��es privilegiadas. Al�m disso, a organiza��o coagia v�timas e autoridades, eliminava testemunhas e se aproximava das autoridades para obter vantagens. “Esse modo de opera��o gera muito poder. Ningu�m testemunha contra o grupo. Quem ousou fazer isso foi morto”, diz Ingrid.

Entre os presos, est�o policiais civis e militares e agentes penitenci�rios, suspeitos de darem cobertura, executar crimes, fornecer informa��o sigilosa e armas. Havia uma estrutura muito bem montada, na qual eram definidos os grupos de executores, de agenciadores e de log�stica (quem providenciava ve�culos e armas, por exemplo). Alguns crimes foram praticados com disfarces.
Num dos casos, foi morto um herdeiro de uma propriedade menor que n�o quis vender suas terras. As investiga��es revelaram ainda a participa��o do grupo num crime que ficou conhecido como chacina de Tumiritinga e chocou o pa�s em 7 de fevereiro de 2012. Cinco pessoas foram assassinadas sem chance de defesa numa fazenda que fica no distrito de Divino do Sul, em Tumiritinga, no Vale do Rio Doce. Entre os mortos estava o ex-vereador Jandir Caetano dos Santos, dois filhos dele e dois funcion�rios que cuidavam do terreno. Um terceiro filho do parlamentar e um garoto de 12 anos conseguiram fugir.
“Na �poca, o Minist�rio P�blico atuou, as pessoas ficaram presas preventivamente, mas foram absolvidas. Agora, descobrimos que houve atua��o da organiza��o criminosa para desviar o curso da investiga��o e impedir que cheg�ssemos aos autores”, informa a promotora. O processo ser� reaberto.