
Com in�cio �s 19h30, a celebra��o eucar�stica na Matriz de Santa Luzia foi precedida de prociss�o, da entrada do santu�rio at� o altar, com crian�as e jovens vestidas de anjo e presen�a do presidente da celebra��o, o vig�rio episcopal para as cidades hist�ricas, padre Wellington Santos, o titular da par�quia, padre Felipe Lemos de Queir�s, grupo de freiras do Mosteiro de Maca�bas, com a abadessa Maria Imaculada de Jesus H�stia, e o casal presidente da festa deste ano, Edson Eduardo Malaquias e Alcione Regina Malaquias.
A comemora��o dos 240 anos da Matriz de Santa Luzia conta a palestra do secret�rio de Estado da Cultura, Angelo Oswaldo, tamb�m integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais, que enfoca a hist�ria do templo localizado na Rua Direita, na Pra�a da Matriz, no Centro Hist�rico.
A cerim�nia da noite desta quarta-feira trancorre em parceria com a Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia. Ao final, como representante da associa��o, Maria do Carmo Oliveira entregou a placa ao secret�rio estadual. Na oportunidade, foi lembrando o retorno dos chamados “anjos de Santa Luzia”, que desapareceram da igreja na d�cada de 1950, iriam a leil�o em 2003 no Rio de Janeiro (RJ) e retornaram � cidade por decis�o judicial.
S�mbolo de f� e marco na recupera��o de bens culturais desaparecidos em Minas, o Santu�rio de Santa Luzia, ligado � Arquidiocese de Belo Horizonte. recebeu b�n��o oficial em 13 de dezembro de 1778. H� dois meses como titular da Par�quia de Santa Luzia, o padre Felipe Lemos de Queir�s destaca a import�ncia espiritual, hist�rica e cultural do templo na vida do munic�pio tricenten�rio. “Trata-se de uma das matrizes mais bonitas de Minas. Erguida no s�culo 18 no estilo joanino, ou segunda fase do Barroco – mais ornamentado e pomposo, embora delicado – a igreja, hoje santu�rio, tem grande significado na arte e arquitetura, mas tamb�m nos trabalhos pastorais e sociais, j� que s�o 11 comunidades e 3 capelas, com diversas realidades sociais e econ�micas”, disse padre Felipe, que assumiu a par�quia em 20 de setembro.
ENIGMAS Visitar o Santu�rio de Santa Luzia, na Pra�a da Matriz, no Centro da cidade, � entrar num universo de f�, beleza e hist�ria e fazer descobertas. O altar de S�o Jos�, por exemplo, tem um enigma a ser desvendado. Em 1989, durante a �ltima restaura��o do templo foram encontrados, na parte de tr�s do ret�bulo, um compasso e um esquadro esculpidos na madeira e em policromia dourada, que estariam relacionados � ma�onaria. J� que foi deixada uma passagem sob a mesa do altar, � poss�vel ver, com nitidez, a talha com o esquadro – para os ma�ons, s�mbolo de retid�o e integridade de car�ter –, e o compasso, que representa equil�brio, justi�a e vida correta.
Pela tradi��o oral, as pe�as localizadas atr�s do altar pertenceriam ao forro do interior do camarim, depois ocultado em raz�o da liga��o com a iconografia ma��nica. Estudiosos dizem que, como os entalhes do trono de S�o Jos� s�o semelhantes ao altar-mor de Santa Luzia, � poss�vel que ele estivesse � mostra no s�culo 18. No s�culo seguinte, a exposi��o numa igreja cat�lica criaria problemas para os padres, pois a bula Syllabus, editada em 1864 pelo papa Pio IX (1792-1878) proibia as rela��es da Igreja com a ma�onaria.
Tamb�m se torna imposs�vel falar sobre o santu�rio de Santa Luzia, localizado em �rea tombada pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG), sem destacar a campanha pelos bens desaparecidos em Minas, que, em 2018, completa 15 anos. No templo, est�o tr�s anjos barrocos – dois sobre o arco-cruzeiro e outro no altar de Nosso Senhor dos Passos – que simbolizam a luta empreendida por autoridades estaduais e federais para localizar imagens, ret�bulos e demais tesouros desaparecidos ou furtados de templos coloniais do estado. As pe�as em poder de um colecionador iriam a leil�o no Rio de Janeiro (RJ), quando foram retiradas do preg�o por ordem judicial e entregues ao Iepha, para per�cia.
HIST�RIA Conforme pesquisa da historiadora luziense Elizabete de Almeida Teixeira T�fani, a capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, formando-se no entorno um rancho para tropeiros que chegavam dos currais da Bahia a fim de abastecer a regi�o das minas de ouro. “No in�cio, quando era capela, ficava de frente para a Rua do Serro, e s� depois que se tornou igreja � que ficou virada para a Rua Direita, como est� hoje”, conta a pesquisadora.
A hist�ria se completa com informa��es contidas no Invent�rio do Patrim�nio Cultural da Arquidiocese de BH/Pont�ficia Universidade Cat�lica de Minas. Entre 1721 e 1729, a capela foi ampliada por iniciativa do capit�o-mor Jo�o Ferreira dos Santos e outros pioneiros com o apoio do padre Louren�o de Valadares Vieira, vig�rio de Sabar�. Assim, o templo se tornou capela filial da freguesia de Santo Ant�nio de Ro�a Grande, j� que Santa Luzia estava vinculada � Vila Real de Nossa Senhora da Concei��o de Sabar�.
No livro Santa Luzia – Um pouco do seu passado –, o pesquisador Edelweiss Teixeira escreveu que a capela tinha ”vinte e dois passos de comprimento e doze de largura”. Os primeiros documentos hist�ricos a ela referentes s�o um registro de casamento, datado de 30 de julho de 1729, e, seis anos depois, documento do primeiro sepultamento no cemit�rio ao lado da capela.
Mas nem tudo foram flores no in�cio da Par�quia de Santa Luzia criada em 19 de novembro de 1744 por decis�o do bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Jo�o da Cruz. A popula��o de Ro�a Grande, por perder a posi��o da sede, protestou com veem�ncia e foi se queixar ao bispo. Relatos do c�nego Raimundo Trindade, autor de Institui��o de igrejas no bispado de Mariana, mostram que a transfer�ncia foi anulada pelo desembargador do Pa�o da Bahia e s� foi definitivamente regularizada bem mais tarde, em 29 de fevereiro de 1780, por meio de ordem r�gia.
De 1744 a 1778, a pequena constru��o sofreu v�rias altera��es, tendo contribu�do nos servi�os o sargento-mor Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento � cura de sua vis�o, diz a pesquisadora Elizabete T�fani, que destaca o apuro ornamental do interior do templo, que reflete tr�s fases estil�sticas do per�odo colonial, “al�m da excepcional qualidade do entalhe da segunda fase do barroco (estilo Dom Jo�o V), requinte do rococ� e linguagem despretensiosa dos padr�es neocl�ssicos”. Ao longo dos s�culos 19 e 20, a edifica��o passou por v�rias interven��es arquitet�nicas e art�sticas, algumas alterando sua fisionomia original, outras promovendo a sua conserva��o.
�CONES DA CAMPANHA
Um dos pontos altos do trabalho de resgate dos bens culturais mineiros, e emblem�tico em toda essa trajet�ria, foi a luta dos moradores de Santa Luzia para reaver parte do acervo, no caso, os tr�s anjos barrocos que teriam sido vendidos do santu�rio local, na d�cada de 1950, e iriam a leil�o no Rio de Janeiro. O caso foi parar na Justi�a, depois que a aposentada Luzia Vieira, moradora de Santa Luzia, viu as fotos das pe�as, ent�o sob poder de um colecionador, publicadas pelo Estado de Minas. Diante disso, a Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia ajuizou a��o para recuperar as pe�as e, por determina��o do ent�o juiz da 2ª Vara C�vel de Santa Luzia, Jair Eduardo Santana, o conjunto foi exclu�do do leil�o e entregue ao Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG) para ser periciado, a fim se comprovarem origem e autenticidade. A tarefa, a cargo da arquiteta Selma Miranda, mostrou que as pe�as eram mesmo do Santu�rio de Santa Luzia. Com a campanha capitaneada pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais, via Coordenadoria das Promotorias de Justi�a do Patrim�nio Cultural e Tur�stico, centenas de pe�as foram recuperadas e muitas retornaram aos seus altares ou museus.