
Concei��o do Mato Dentro – C�rregos mais parece um pres�pio – tem montanhas ao fundo, o casario formado por constru��es singelas, espa�o gramado e um clima de paz que desce l� do alto da Capela de Nosso Senhor dos Passos, chega � Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, de 1722, e segue seus caminhos naturais. Nascido no in�cio do s�culo 18 e distante 24 quil�metros da sede do munic�pio, Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central, o distrito come�a a ser beneficiado por um programa especial do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG): ter� restaurados os dois templos barrocos e o chafariz centen�rio e recuperada a fachada de 52 im�veis. “Vamos preservar a estrutura urbana, que � bem t�pica do per�odo colonial, com caracter�stica local”, afirma a presidente da institui��o, Michele Arroyo.
Na tarde de sexta-feira, entre o sol aberto e uma nuvem despejando seus pingos, a professora e zeladora da matriz, Maria Odete de Almeida, demonstrava alegria pelas obras destinadas ao lugar onde nasceu, cresceu e mora. “Fico feliz demais, pois preservar o patrim�nio significa algo muito importante. Nesta rua, todo fim de semana passa gente de carro, moto, bicicleta ou a p�, pois � um trecho da Estrada Real”, afirma Maria Odete sobre a C�nego Madureira, a mais antiga via p�blica do distrito e homenagem ao primeiro vig�rio de C�rregos. Presidente da Associa��o Esperan�a de C�rregos (Asec), ela acredita que o trabalho favorecer� o turismo no distrito tombado pelo Iepha desde 2001 e onde vivem cerca de 400 pessoas. J� a capela e a matriz t�m tombamento pr�prio desde 1985.

Na sacristia da Matriz Nossa Senhora Aparecida de C�rregos – o “de C�rregos” � fundamental na hora de se referir � igreja –, est� em andamento o restauro da imagem do Senhor dos Passos, do tipo roca e esculpida no fim do s�culo 18 ou in�cio do 19 em cedro vermelho, �rvore da regi�o. A restauradora Katya Helaine Silva, da empresa Anima Conserva��o Restaura��o e Artes, de S�o Jo�o del-Rei, na Regi�o do Campo das Vertentes, mostra os detalhes da pe�a pertencente � Capela do Senhor dos Passos e uma s�rie de inadequa��es encontradas.
A dire��o do Iepha explica que, para preservar os valores que motivaram a prote��o do n�cleo hist�rico e oferecer � comunidade condi��es para atuar de forma compartilhada, a institui��o celebrou um conv�nio de coopera��o com a Prefeitura de Concei��o do Mato Dentro. O objetivo � incluir os moradores e propriet�rios de im�veis do conjunto tombado nas discuss�es sobre o processo de acompanhamento das obras de recupera��o das fachadas das casas. E mais: est� em pauta a realiza��o de a��es de mobiliza��o da comunidade para ades�o ao programa de revitaliza��o do n�cleo e implanta��o de um chamamento p�blico para cadastramento das edifica��es selecionadas no projeto executivo aprovado.
Maria do Amparo tamb�m est� satisfeita com os benef�cios que chegam a C�rregos, onde nasceu e se criou. “Nesta igreja, foram batizados minha filha e os netos. Tudo aqui � maravilhoso, gosto demais. Nosso distrito parece mesmo um pres�pio”, afirma com um sorriso. A visita da equipe do Estado de Minas foi acompanhada por dois servidores do Iepha, a historiadora Edilane Carneiro, natural de Concei��o do Mato Dentro, e o t�cnico em gest�o do patrim�nio Adalberto Andrade Mateus. Orgulhosa da sua terra, Edilane ressaltou n�o s� a hist�ria e a beleza do patrim�nio, como tamb�m a del�cia do biscoito polvilho e a qualidade dos queijos ali produzido artesanalmente.

Depois da visita � matriz vinculada � Par�quia Nossa Senhora da Concei��o, que tem � frente o padre Jo�o Evangelista dos Santos, administrador paroquial e reitor do Santu�rio do Senhor Bom Jesus de Matosinho, o grupo segue para a Capela do Senhor dos Passos, localizada na parte mais alta do n�cleo populacional e que traz um cemit�rio na frente. O port�o principal se mant�m fechado com cadeado e o morador Ramiro traz as chaves, dando boas vindas ao grupo. Perto da entrada, h� uma placa institucional indicando os servi�os a serem feitos, algo mais do que urgente tendo em vista a deteriora��o da constru��o de pau-a-pique e adobe.
De volta ao espa�o diante da matriz, o grupo passa pelo chafariz datado de 1901 e 1903 e, mais abaixo, encontra o casal de namorados Bruno Morais Gomes, jornalista, e Elmira Rodrigues Cardoso, psic�loga, em visita a C�rregos pela primeira vez. “Viemos a Concei��o do Mato Dentro e resolvemos vir a C�rregos para comprar biscoitos, pois � uma tradi��o daqui. Foi uma surpresa encontrar esse lugar bonito e tranquilo”, disse Bruno, que p�de ver ainda as casas geminadas ensombreadas pela tarde.
HIST�RIA Considerado o mais antigo povoado de Concei��o do Mato Dentro, C�rregos re�ne “preciosidades hist�ricas que, em cen�rio buc�lico e interiorano, conserva muito da atmosfera dos primeiros tempos dos faiscadores que se debru�avam sobre o Rio Santo Ant�nio em busca dos metais preciosos”, de acordo com pesquisas do Iepha. Entre as heran�as do per�odo colonial, destaca-se na paisagem a Matriz dedicada a Nossa Senhora Aparecida, reconhecida como patrim�nio cultural de Minas.
O povoado foi fundado no in�cio do s�culo 18 por um grupo de bandeirantes chefiados por Gaspar Soares, Manuel Corr�a de Paiva e Gabriel Ponce de Leon, e o desenvolvimento local se deu em fun��o da explora��o mineral, que dentre as v�rias t�cnicas de minera��o, usou uma bastante curiosa que empregava o aquecimento das rochas com fogo de lenha: ap�s aquecidas, elas recebiam o choque t�rmico e o impacto das �guas do rio, ent�o represadas. O resfriamento s�bito provocava o rompimento das rochas facilitando o trabalho dos mineradores.
Segundo o Iepha, a matriz constru�da em adobe e madeira � formada pela nave, capela-mor e corredores laterais, seguidos por sacristia. A fachada se assemelha ao modelo adotado em templos com torre sineira �nica central. Um detalhe que chama aten��o est� na ilumina��o natural da capela-mor, proporcionada por duas aberturas envidra�adas, localizadas bem pr�ximas ao altar-mor, em cada uma de suas laterais.

O distrito foi criado pela Lei Provincial 902, de 8 de junho de 1858, elevado a freguesia pela Lei 2.240, de 5 de outubro de 1877, e o seu nome, Nossa Senhora Aparecida de C�rregos, foi simplificado em 1911 para C�rregos.
Devo��o particular
O distrito de C�rregos, em Concei��o do Mato Dentro, tem uma hist�ria bem peculiar de devo��o a Nossa Senhora. O nome da padroeira local � o mesmo da protetora dos brasileiros, Nossa Senhora Aparecida, mas h� uma diferen�a que os moradores se apressam em frisar bem. “A daqui � Nossa Senhora Aparecida de C�rregos”, esclarece a zeladora da igreja, Maria Odete, Maria Odete de Almeida. Conforme a tradi��o oral, em 1722 “apareceu” no cemit�rio, onde depois foi erguida a matriz, uma imagem de Nossa Senhora que hoje “mora” no altar-mor, conforme diz Maria Odete bem � mineira. A pe�a teria sido deixada por um bandeirante em busca de ouro, que bateu em retirada, seguindo o Rio Santo Ant�nio, sem conseguir grandes riquezas.