
A restaura��o da imagem de Santana – m�e de Maria e av� de Jesus – considerada s�mbolo cat�lico do Vale do Paraopeba, na Regi�o Central de Minas, une devo��o e ci�ncia e guias as m�os h�beis dos encarregados do servi�o. O trabalho, feito em local sigiloso, j� revelou que, ao contr�rio do que padres e moradores de Belo Vale pensaram ao longo do tempo, a pe�a do s�culo 18 � leg�tima do Barroco mineiro, e n�o de origem portuguesa. A expectativa dos especialistas Adriano Ramos e Ros�ngela Reis Costa, do Grupo Oficina de Restauro, de Belo Horizonte, � que o trabalho demande seis meses, incluindo estudos e uso de alta tecnologia. Como parte dos trabalhos, a pe�a sacra foi levada para exames de raios x no Laborat�rio de Ci�ncia da Conserva��o (Lacicor), no Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais (Cecor), ambos da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Precis�vamos de um exame mais profundo, principalmente no tronco da imagem, j� que as prospec��es, comumente chamadas de ‘janelas’, n�o permitiam verificar a pintura original”, contou Ros�ngela, ap�s a sess�o de raios x comandada pelo coordenador do Lacicor e vice-diretor do Cecor, professor Luiz Souza. Sob camadas de tinta, os especialistas encontraram apenas resqu�cios de decora��o, sendo necess�rias, portanto, mais pesquisas. “A tecnologia ajuda demais, pois muitos detalhes n�o conseguimos enxergar a olho nu. Mais importante � que, com equipamentos modernos, podemos avaliar o que pode ser retirado ou n�o da pe�a”, disse Ros�ngela.
Dividida em tr�s partes de madeira – a cadeira com 1,60 metro de altura, a imagem de Santana, com 1,10m, e a menina Nossa Senhora, com 80 cent�metros –, a pe�a, pertencente � Igreja de Santana, de 1735, localizada a nove quil�metros da sede municipal de Belo Vale, tem grande qualidade art�stica. Mas, al�m das repinturas, manchas e sujeira acumulada com o tempo, apresenta problemas na estrutura de cedro e perda de pintura, embora sem ataque de cupins. Por quest�o de seguran�a, o local do servi�o, que ocorre fora da capital, n�o foi revelado. Todas as etapas t�m acompanhamento do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.
ALEGRIA “A comunidade est� muito alegre, afinal, a imagem de Santana � �cone da regi�o. As pessoas t�m muito carinho por ela, porque se trata de um s�mbolo muito forte. Tanto que, quando saiu para o restauro, veio muita gente se despedir e rezar”, afirma padre Wellington El�dio Nazar� Faria, titular da Par�quia de S�o Gon�alo, em Belo Vale, acrescentando que os recursos para o servi�o s�o da par�quia. Outra boa not�cia � que j� foi entregue o projeto de restaura��o do templo, tamb�m do s�culo 18, elaborado por alunos de arquitetura e urbanismo do Centro Universit�rio Newton Paiva. O trabalho come�ou com uma visita dos estudantes � igreja, para levantamento de todas as patologias da constru��o. Os dados foram levados para o StudioN, escrit�rio da escola de arquitetura, em busca de ideias para viabilizar as a��es.
Em nota, a institui��o de ensino informou que foram feitos, gratuitamente, desenhos t�cnicos da edifica��o, contendo todas as medidas e peculiaridades da igreja, e apresentadas solu��es de interven��o para a recupera��o da integridade do im�vel. Os alunos tamb�m fizeram a maquete da igreja, com obra conclu�da, para que as pessoas tenham ideia do resultado final.
Com base no projeto, a Prefeitura de Belo Vale abrir� licita��o e pretende iniciar as obras de restaura��o em 2019. Outra fonte de recursos prov�m de atividades promovidas pela Associa��o dos Zeladores da Igreja de Santana do Paraopeba, entidade que � pessoa jur�dica, parceira da par�quia e faz eventos para angariar fundos para as obras da igreja.
Exame apaga a lenda do tesouro escondido
Quem esteve na Igreja de Santana durante a despedida da imagem, em novembro, presenciou um fato curioso. � que, durante muito tempo, correu a lenda de que, no interior da imagem, haveria ouro e diamante. Com cuidado, os restauradores retiraram uma “tampa” de madeira e mostraram aos presentes que o nicho estava naturalmente vazio, n�o havendo o tesouro que povoava o imagin�rio de muitos moradores. Todo o momento foi filmado e documentado pela equipe e autoridades, incluindo a coordenadora geral do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, Maria Goretti Gabrich, e a historiadora do setor, Fl�via Reis.
Em agosto, o Estado de Minas mostrou a situa��o da Igreja de Santana, ponto de peregrina��o que costuma receber cerca de 10 mil pessoas a cada 26 de julho, data consagrada � padroeira, e alvo agora de a��es para recuperar a arquitetura, os elementos art�sticos e o entorno. Tendo o p�roco como guia, a equipe percorreu o interior da constru��o e viu que, por d�cadas, foram feitas interven��es que retiraram o brilho e tra�os originais. Se os anjos barrocos do ret�bulo-mor ganharam a camada de um prateado met�lico, os pr�ximos ao sacr�rio perderam os douramentos. No espa�o no qual fica a padroeira, tecnicamente chamado de camarim, cores berrantes foram escolhidas em outras �pocas, em um contraste com o ar singelo da igreja, tombada pelo munic�pio.
Embora sem “contaminar” a imagem da padroeira, os cupins est�o presentes na Igreja de Santana, conforme mostrou o padre Wellington. Em uma coluna pintada de verde, a madeira vai se “esfarinhando” e exigindo um trabalho urgente de recupera��o. J� na parede perto da sacristia, o p�roco aponta um dos perigos vis�veis: uma rachadura que rasga a tinta branca e sinaliza os riscos. O forro tamb�m demanda servi�os urgentes, pois parte foi retirada e n�o voltou para o lugar, deixando as telhas � mostra. Em 2007, a igreja entrou no foco do Minist�rio P�blico de Minas Gerais, que cobrou provid�ncias das autoridades municipais para restaura��o do templo. Na �poca, a secret�ria municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Belo Vale, Eliane dos Santos, informou que a prefeitura vai bancar um ter�o do valor da obra no bem tombado pelo munic�pio.
Padroeira dos mineradores
Nossa Senhora de Santana ou simplesmente Santana (tamb�m Santa Ana e Sant’Ana) � m�e de Maria e av� de Jesus. Na capital e no interior de Minas, re�ne muitos devotos, pois � padroeira dos mineradores. Em 26 de julho, data consagrada � santa casada com Joaquim, depois S�o Joaquim na Igreja Cat�lica, comemora-se tamb�m o Dia das Av�s. Uma das representa��es mais significativas, comum nos altares dos templos, � a Santana Mestra: sentada numa cadeira ou de p�, ela ensina a menina Maria a ler. O nome Ana vem do hebraico Hanna e significa gra�a. Moradores e visitantes podem admirar, em Tiradentes, no Campo das Vertentes, dezenas de imagens no Museu de Sant’Ana, fundado em 2014.