
Na casa do pai de Chiquinho, Francisco Jos� Moraes, que tem o mesmo apelido, o movimento � intenso para abra�ar e conversar com o sobrevivente, que, em 72 horas, bebeu litros e mais litros de �gua para aplacar n�o s� a sede, mas tamb�m para enganar a fome. “J� vieram mais de 100 pessoas me visitar. E fiz exames, ent�o, estou bem f�sica e psicologicamente”, disse, embora ainda meio atordoado com tudo o que aconteceu. Ontem de manh�, ele recebeu o carinho da sobrinha Isadora e da afilhada Geovana. “� uma b�n��o ele ter voltado para casa. Estamos felizes, mas ao mesmo tempo tristes pela morte da Pollyana (Pollyana Laine Diniz Furtuoso dos Reis, de 26) e outras quatro pessoas”, disse Leandro, irm�o de Chiquinho.
Para escapar da for�a da �gua, na tarde de s�bado, o sobrevivente, se agarrou a uma pedra da cachoeira, depois de tentar salvar a amiga Pollyana. “Tudo aconteceu muito r�pido, em quest�o de segundos. A �gua come�ou a subir e n�o teve jeito de a gente sair. Segurei a Pollyana pelo ombro, foi uma coisa inexplic�vel”, relatou. Na hora da enchente, um amigo chamado Guilherme, que integrava o grupo, conseguiu sair da �gua e disse que buscaria ajuda. Mas, para n�o correr o risco de ser levado pela correnteza e ficar esperando muito tempo, Chiquinho decidiu escalar um pared�o e sair das margens.
SEM DIRE��O Com o firme prop�sito de n�o morrer, Chiquinho saiu do lugar com uma mochila, usando bermuda e camiseta. “Fiquei muito fraco, sem dire��o, andei pela Serra da Canastra quase toda, ia anoitecendo e eu bebendo s� �gua. Tinha na cabe�a muita for�a de vontade”, afirmou, lembrando, que, no primeiro dia, comeu os dois sandu�ches que havia levado. No restante, bebeu �gua dos riachos. “�gua corrente n�o faz mal”, afirmou.
Durante a caminhada, o sobrevivente conta que chegou a avistar o helic�ptero dos Bombeiros, que fazia buscas por ele, mas n�o conseguiu chamar a aten��o dos socorristas. Depois de parar numa fazenda e pedir informa��o, sem sucesso, Eduardo relata que continuou caminhando at� se encontrar com uma pessoa que o conhecia e j� sabia da hist�ria do desaparecimento – conforme a pol�cia, a ocorr�ncia foi registrada na delegacia de S�o Jo�o Batista do Gl�ria. “Pedi arroz, feij�o e ovo”, conta. E foi ent�o que esse homem o levou � casa da fam�lia, de carro. Na sequ�ncia, Chiquinho fez exames na Unidade Pronto Atendimento (UPA) de Passos. “Vamos comemorar em janeiro”, disse ele, que far� anivers�rio em 19 de abril.
Primo de Chiquinho, Wellington Piantino Moraes, motorista, tamb�m comemorou o retorno e ressaltou que “ele ficou vagando muito tempo, sem saber para onde ir”. Ele destacou a alegria do tio, “pessoa de muita f�”, e a expectativa dos amigos durante os dias de desaparecimento. “Parecia um jogo da Sele��o Brasileira. Todo mundo aguardando a vit�ria no final”, comparou.

BUSCAS Foram tr�s dias de buscas dos bombeiros ap�s o temporal na regi�o de S�o Jo�o Batista do Gl�ria, distante sete quil�metros de Passos. O temporal na Serra da Canastra, onde nascem afluentes que chegam a diversos rios, gerou grande volume de �gua que surpreendeu oito pessoas na pr�pria cidade e em S�o Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado. Embora em regi�es administrativas distintas, os munic�pios s�o vizinhos e ficam na �rea de influ�ncia do Parque Nacional da Serra da Canastra.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os efeitos do temporal surpreenderam seis pessoas que estavam na Cachoeira do Z� Pereira. Quatro delas (Mariana de Melo Almeida Horta, de 24, Alexsandro Ant�nio P. de Souza, de 32, Maur�lio de P�dua Silveira e Gustavo Alfredo Godinho Lemos, de 26) praticavam rapel e, possivelmente, segundo o sargento Anderson Marcos, foram pegas pela correnteza quando desciam um pared�o de 20 metros, pr�ximo � queda d’�gua. J� Pollyana e o sobrevivente Eduardo nadavam em um po�o acima da cachoeira.
As outras duas mortes foram de Beth�nia de Matos Reis, de 13, e Raphaela Matos dos Santos, de 14, v�timas da mesma tempestade, mas que se afogaram em S�o Roque de Minas.